O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) vai apurar a causa da morte de ao menos 50 animais em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte, após moradores denunciarem que a água do rio Paraopeba, que os animais bebem, tenha sido contaminada depois do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em janeiro.
De acordo com a coordenadora do Movimento Mineiro pelos Direito Animais (MMDA), Adriana Araújo, desde março, foram registradas as mortes de dezenas de bezerros, galinhas, cavalos e porcos, que estariam bebendo água de cisternas abastecidas pelo rio Paraopeba em São Joaquim de Bicas. Segundo Adriana, os sintomas dos animais são semelhantes. “As mortes são muito parecidas. Eles sentem muitas cólicas, incham e ficam agonizando. Isso era algo que nunca aconteceu. Os animais estão recusando a beber a água e emagrecendo”, relata.
Nos últimos três meses, uma fazendeira da região, que não quis se identificar, perdeu 35 galinhas e um cavalo. Uma vizinha, que também preferiu o anonimato, teve nove cavalos internados. Ela perdeu três cavalos, sendo um de competição, avaliado em R$ 35 mil.
“Estou há seis meses sem dormir, sem saber o que fazer. Antes, eu só perdia galinha por causa de invasão de cachorro. Já gastei mais de R$ 6.000 com veterinário nesse período. Tenho cavalos que perderam cem quilos em 20 dias. Eu crio peixe, porco, carneiro, de tudo, mas ninguém compra mais nada, porque tem medo da água que abastece minhas coisas. É um prejuízo de R$ 12 mil por mês”, contou uma fazendeira, que vive a 600 m do Paraopeba.
Investigação
De acordo com a promotora e coordenadora estadual de Defesa da Fauna do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Luciana Imaculada de Paula, o órgão tomou conhecimento das informações nesta quinta-feira, depois de uma reunião com moradores e defensores dos direitos dos animais. Nesta sexta-feira, será realizada uma reunião com a equipe técnica do MPMG para iniciar a apuração das mortes dos animais.
“Já temos acordos com a Vale, em que a empresa tem que fornecer água onde não houver qualidade por tempo indeterminado. É um caso gravíssimo. É parte do sustento dessas famílias. Estamos falando também do bem-estar desses animais. Temos que agir com urgência. Vamos definir a equipe técnica e, assim, definir quais medidas adotar para verificar a causa dessas mortes e providenciar medidas para mitigar”, ressaltou.
Posicionamento do Estado e da Vale
De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Instituto Mineiro de Gestão da Água (Igam) monitora periodicamente a qualidade das águas e que não são registrados valores de zinco em desconformidade com as normas legais desde o dia posterior ao rompimento da barragem. Segundo a pasta, não há desconformidade para os parâmetros de chumbo, cádmio, níquel e mercúrio.
Segundo a Vale, não existe restrição para captação de água subterrânea para quem está a mais de 100 m da margem do rio Paraopeba. Segundo a mineradora, os moradores que se enquadram no processo de elegibilidade estão recebendo água potável e mineral. A Vale ressaltou que vai realizar exames dos animais em laboratórios especializados e com especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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