A ida ao supermercado a três quarteirões de casa, em uma manhã de julho do ano passado, terminou de forma cruel para o ex-motorista de caminhão Wagner Teixeira Cruz e Silva, 50. Morador do bairro Coqueiros, na região Noroeste da capital, ele foi atropelado por uma moto quando atravessava uma faixa para pedestres. Silva é uma das 3.508 pessoas indenizadas por invalidez após atropelamento de motocicletas em Minas em 2018. Levantamento da seguradora Líder mostra que, em dez anos, o número de pedestres indenizados em decorrência de atropelamentos por motos no Estado quadruplicou: a quantidade de indenizações em 2018 foi 306% maior do que em 2009.
“Eu não esperava. Estava prestes a completar 30 anos de profissão. Tinha ido comprar a carne do almoço, e eu só almoçava em casa quatro vezes por mês. O motociclista avançou em local proibido. Ele tem total responsabilidade. Acabou com a minha vida profissional, e só não acabou com a minha vida num todo porque eu me reergui”, contou Silva. Atualmente ele ajuda a mulher na fábrica de costuras do casal.
Na colisão com a moto, Silva tentou proteger o rosto e teve uma fratura no cotovelo direito. Ele perdeu os movimentos da mão.
No acumulado dos dez anos, 4.734 pedestres morreram atropelados por motos e foram indenizados no Estado. Neste ano, somente até junho, foram pagas 130 indenizações por mortes de pedestres e outras 1.915 por invalidez nesse tipo de acidente. Os dados da seguradora consideram os pagamentos do seguro Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT). Minas fica em terceiro lugar no ranking nacional, atrás de São Paulo e Ceará.
Frota maior
A cada 108 motos do Estado em 2018, uma indenização foi paga – eram 2.867.122 no total, cerca de 69% a mais do que há dez anos. Esse aumento da frota é um dos fatores que justifica a alta incidência de acidentes, segundo o especialista em transporte e trânsito Márcio Aguiar. “A frota de motos aumentou porque o transporte público é ruim, e a saída mais econômica é a moto Não tem horizonte positivo. Para evitar congestionamentos, o motociclista investe em ziguezague e velocidade. Quanto mais gente fazendo isso, pior”, afirmou.
Ele ressaltou que a moto se tornou principal instrumento de trabalho de alguns, como os que atuam em aplicativos de entrega, e que os motociclistas agora usam mais o celular no trânsito.
Juventude
Os jovens de 18 a 34 anos são os mais atingidos nos acidentes de trânsito em geral, segundo o estudo da seguradora Líder. Apenas no ano passado, foram pagas 130.365 indenizações para essa faixa etária. Em 2009, foram mais de 92 mil. Em Minas não é diferente: jovens representam mais de 58% dos mais de 327 mil benefícios pagos, com um total de 191.624 indenizações.
Carlos Medeiros, 25, estudante de engenharia e morador do bairro Novo Aarão Reis, na região Norte, integra esse quadro. Ele foi atropelado por uma moto em 2016 e perdeu a sensibilidade de um dos músculos da perna direita. Antes treinador de uma escolinha de futebol, ele atualmente precisa do auxílio de uma bengala para caminhar.
“Gostava muito do que fazia antes. Sempre amei futebol, mas acabei não dando certo como jogador. O pessoal do bairro pedia aulas, e eu comecei a ensinar crianças e adolescentes de 3 a 15 anos. Era bom demais”, diz.
Medeiros foi atingido em uma rua quando atravessava a faixa de pedestres. O sinal abriu, e o motociclista avançou, mas o jovem não havia finalizado a passagem. “Podia ter sido pior. Hoje eu entendo, mas fico triste porque há muitos motociclistas desrespeitosos”, afirmou.
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