A prevenção da criminalidade tem levado moradores de Belo Horizonte a se unirem. Cada vez mais, vizinhos de diferentes bairros lançam mão de estratégias para colocar em prática ações que promovam a segurança. Na lista de ações, aplicativos de mensagens, treinamento de porteiros e até o monitoramento de ruas.
A vigilância eletrônica foi a alternativa encontrada pelo Conselho de Segurança do Buritis (Consebb) para reforçar a proteção no bairro, na região Oeste. Em parceria com uma empresa de segurança privada, o grupo de sete voluntários instalou câmeras em várias vias. O projeto, que não teve o valor investido revelado, foi lançado ontem.
“Senti que faltava uma aproximação da PM e comunidade, até para conhecer as ruas com mais vulnerabilidade. O efetivo da PM é baixo para o tamanho do bairro”, diz a idealizadora da iniciativa, a empresária Gracielle Torres.
O projeto “Câmera Cidadã” pode auxiliar os militares, garante a moradora. Segundo ela, as demandas do bairro são levadas à corporação. “A ideia é inibir a ação de criminosos. Em caso de alguma ocorrência, a PM pode solicitar as imagens”.
O número de equipamentos e os locais da instalação não foram divulgados. “Mas já estão on-line e o serviço, ativo. As filmagens são feitas 24 horas por dia”, assegurou a empresária.
Segundo o tenente-coronel Frederico Garcia, comandante do 5º Batalhão da PM, que atua no Buritis, os militares responsáveis pelo bairro se reúnem rotineiramente com a população, ouvindo demandas e traçando estratégias. “A PM é próxima dos moradores. Já temos reuniões mensais com o Conselho de Segurança para garantir, sempre, esse policiamento eficiente”, garantiu.
PM aprova a participação de moradores em ações de segurança e garante que o patrulhamento é feito
Treinamento
Medidas de proteção contra a violência também foram adotadas pela Associação do Bairro de Lourdes (Amalou), Centro-Sul da metrópole. Lá, a iniciativa foi motivada por assaltos a estudantes e moradores. Por conta da quantidade de condomínios na região, a ideia foi treinar os porteiros. “Para eles, elaboramos uma apostila com base em dicas e informações de segurança”, explicou o presidente da entidade, Jefferson Rios.
Os profissionais também receberam radiocomunicadores para transmitir informações entre os prédios. “Os seguranças sabem o que é suspeito ou não, estão 24 horas de olho na movimentação. Além disso, conhecem os lavadores de carro, quem trabalha por aqui. Atitudes estranhas são relatadas entre eles e a PM é acionada rapidamente”, comenta Rios. O presidente da Amalou garante que, após as medidas, a insegurança diminuiu. “Hoje, chegamos a zero ocorrência do tipo”.
Opiniões
Pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Frederico Marinho avalia que projetos do tipo mostram que a população está atenta e cobra mais efetividade das forças de segurança. “É uma iniciativa válida. Não tenho conhecimento de outra proposta como essa de vigilância por câmera privada”. Ele defende que o trabalho seja feito em conjunto com a polícia.
Apesar de aprovar iniciativas semelhantes, o ex-delegado Islande Batista, que chefiou o Departamento de Crimes Contra o Patrimônio em BH, ressalta que o policiamento nunca deve ser assumido pelo cidadão. “As pessoas não estão preparadas nem têm autoridade para isso”, frisou.
“Quando o cidadão privatiza a segurança é porque a situação não está muito boa. Pagamos impostos e devemos ter a proteção garantida”, completa o presidente do Movimento das Associações de Moradores de Belo Horizonte, Fernando Santana.
Comunicação por aplicativo agiliza atuação da polícia
Criada em 2011 pela PM mineira, a Rede de Vizinhos Protegidos busca reduzir a criminalidade. Hoje, 153 bairros da capital contam com a iniciativa. Além das ligações telefônicas e grupos no Facebook, os moradores têm recorrido ao aplicativo WhatsApp.
Até militares integram os grupos, agilizando o atendimento. Morador do Bandeirantes, na Pampulha, o empresário Alexandre Almeida, de 47 anos, sabe bem como a comunicação on-line e imediata é eficaz na prevenção de delitos.
Após perceber atitudes estranhas de dois homens, ele fez uma postagem no aplicativo e evitou o roubo em uma residência do vizinho. “A dupla foi na minha casa e perguntou sobre um endereço. Sabia que não tinha ninguém lá. Achei estranho, acionamos a PM. Os suspeitos fugiram com a chegada da polícia”.
Ideia importada
Já no bairro Sion, Centro-Sul da cidade, a ideia foi ‘importar’ um modelo adotado pelas forças de segurança dos Estados Unidos. De lá, os moradores trouxeram um apito usado para localizar pessoas feridas e suspeitos.
Apresentado à PM durante uma reunião da comunidade, o dispositivo é utilizado desde janeiro. “Já temos mais de cem unidades distribuídas”, diz Fernanda Coutinho, coordenadora da rede de vizinhos.
O alarme, semelhante ao de um carro, fica no chaveiro do morador. Em caso de emergência, basta a pessoa acionar um botão que o sistema é disparado. Cada apito custa cerca de 3 dólares e é comprado pela internet.
Aproximação
Chefe da seção de Polícia Comunitária da PM, major Cláudio Alves e Silva observa que a rede de vizinhos vai além da promoção da segurança. “É um fator importante de organização da sociedade para melhorar a qualidade de vida dos moradores”, afirma.
É o que acontece, por exemplo, no bairro das Indústrias, no Barreiro. Lá, segundo a vendedora Pollyana Roberta, a vizinhança passou a monitorar as ruas pelo WhatsApp há cerca de quatro anos. Além da redução da criminalidade, o convívio melhorou. “No grupo organizamos reuniões, festas juninas, ações em escolas e praças”, comentou.
Por Bruno Inácio e Anderson Rocha - hojeemdia
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