Acusado de abuso sexual, o pastor Wilson Jorge Ferreira da Silva, 51, foi condenado. O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) confirmou nesta segunda-feira (15) que a sentença foi proferida no último dia 8, mas não deu detalhes sobre a pena, já que casos como esse tramitam como segredo de Justiça. Uma das vítimas entrou em contato com a reportagem e informou que Silva foi condenado a 14 anos e sete meses de prisão.
“É muito pouco diante de tudo o que ele fez. Os abusos ocorrem há 20 anos. É preciso recorrer”, disse a moça, que pediu para ter o nome preservado. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que recorreu da decisão no último dia 10, pedindo aumento de pena.
O religioso atuava em uma igreja no bairro Salgado Filho, na região Oeste, e foi preso em março deste ano. Na ocasião, sete supostas vítimas ouvidas pela reportagem contaram suas histórias. Segundo os relatos, Silva teria ficado conhecido como o “maníaco da orelha”, porque lambia as vítimas nessa região.
As mulheres revelaram que o pastor se aproveitava de momentos de fragilidade das mulheres e se aproximava devagar. “Ele me assediou pela primeira vez em 2011. Eu estava grávida, e meu marido, preso”, contou nesta segunda-feira uma vítima, de 26 anos, que também pediu para não ter o nome publicado. Silva teria ajudado a família a arrumar um advogado para o caso. “Depois que ele me ajudou, veio cobrar a conta. É assim que ele faz”, disse.
Em uma das situações, a vítima conta que chegou à igreja chorando e que o pastor teria começado o consolo com palavras. “Em seguida, ele me deu um abraço e começou a alisar meu corpo. Eu o empurrei com os cotovelos”, detalhou.
Depois de quase um ano, a jovem considerou que poderia confiar no pastor de novo, já que “ele era um homem de Deus”. No entanto, houve o segundo abuso, de acordo com ela. “Ele me ofereceu uma carona e, na hora que eu fui sair do carro, ele me puxou e tentou me dar um beijo”, revelou. A moça disse que dessa vez também estava fragilizada, já que sua avó enfrentava um câncer. “Logo depois, minha avó morreu, e nunca mais voltei à igreja”, completou.
Ainda segundo ela, os rumores da conduta inadequada do pastor eram de conhecimento público, mas as vítimas tinham medo de revelar os detalhes e se sentiam culpadas e envergonhadas. A sentença deu certo alívio à jovem.
“Ele se imaginava blindado. No dia da audiência a família dele achava que éramos as culpadas. A sentença mostrou pra ele que Deus é quem traz a justiça”, disse.
“Eu perdi minha fé. Ninguém é digno para representar Deus”, disse Ana*, que não vai à igreja há mais de cinco anos. A mudança ocorreu, segundo ela, após oito anos de abusos do pastor Wilson da Silva, 51. “Com o tempo, ele oferece uma carona, fala que você é muito bonita e coloca a mão dentro da sua blusa”, conta, angustiada.
Ana se trata com psiquiatra e diz ter sido ameaçada. “Eu me sentia muito culpada e vivi uma espécie de libertação quando ele foi preso”, diz. Procurada pela reportagem, a defesa do pastor não se pronunciou. Ninguém foi localizado na igreja onde ele atuava até o início do ano, antes de ser afastado.
Depoimento
“Ele sempre ficava de olho nas meninas da igreja, principalmente nas mais novas e mais bonitas. Pesquisava a fraqueza delas para agir. Com o tempo, pegava confiança, abraçava (as vítimas) apertado e pressionava na parede.”
Vítima
Sob anonimato
* Nome fictício
Por Aline Diniz - OTempo
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