No dia 18 de Maio de 1973 uma menina foi sequestrada no estado do Espírito Santo. Com apenas oito anos de idade, ela foi violentada sexualmente e brutalmente assassinada. Quando finalmente o corpo da criança foi encontrado, quase uma semana depois, iniciou-se uma mobilização em todo o país contra a violência sexual de crianças e adolescentes. Desde então, a data passou a significar, no país, o Dia Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a violência sexual é a quarta em número de denúncias ao Disque 100, perdendo apenas para a negligência e as violências física e psicológica. Não por isso, é menos grave que as demais. Dados da SDH apontam que, somente no ano passado, foram relatadas mais de 17 mil denúncias de abuso ou exploração sexual contra crianças e adolescentes. Quase 70% delas tinham meninas como vítimas e a maioria dos casos aconteceu com adolescentes com idades entre 12 e 14 anos.
No Hospital Nossa Senhora das Graças, que desde o início de 2015 começou a atender mulheres e crianças vítimas de violência sexual. Para isso, precisou passar por um credenciamento. Desde então, mulheres e crianças de até 14 anos de idade são acolhidas para atendimento no HSNG. Homens e adolescentes maiores de 14 anos são encaminhados para o Hospital Municipal, assim como os casos crônicos, que são aqueles que aconteceram repetidamente e há mais de três dias. “O atendimento que realizamos aqui é voltado para vítimas de violência aguda, ou seja: até 72 horas após o episódio”, conta a assistente social Gilcilene de Paula Santos.
No HNSG as vítimas de violência sexual são atendidas por uma equipe multidisciplinar formada por médicos, assistentes sociais e psicólogas. “Esses pacientes são encaminhados para uma espaço dedicado exclusivamente a esse tipo de atendimento. É um local sigiloso, onde durante o atendimento seguimos todas as diretrizes técnicas, respeitando aquele momento da vítima”, explica a psicóloga Deiziane Dias Freitas, que garante que a notificação à polícia só é feita quando a vítima é menor de idade. Nesse caso, o Conselho Tutelar também é acionado. “Quando a vítima é mulher, e maior de idade, nem sempre ela quer registrar o abuso. E isso é algo que a gente respeita muito aqui”, complementa.
Assim que chega ao HNSG, a vítima de abuso sexual, independente da idade, é acolhida por um enfermeiro, que é quem faz um levantamento inicial do tipo de violência que aquele paciente sofreu. A seguir, a vítima passa pelo atendimento de um assistente social ou psicólogo. “Neste momento, normalmente, já é possível saber que tipo de trauma esse paciente sofreu e como esse abuso vai se refletir na vida dela. Dependendo do tipo de comportamento que se espera dessa vítima nós também fazemos um encaminhamento para que ela seja acompanhada na atenção básica”, explica Deiziane.
Depois do serviço social e da psicologia, a vítima passa pelo atendimento médico. “Temos dois médicos que estão sempre de sobreaviso para atender esses casos. A qualquer hora do dia ou da noite, o paciente que sofreu abuso ou violência sexual será atendido por um especialista que vai fazer todos os exames necessários para tentar minimizar os riscos e conseqüências desse ato”, conta Gilcilene.
Desde que o serviço foi credenciado no HSNG, 64 vítimas já foram acolhidas pelo Hospital, 48 em 2015 e, neste ano, de janeiro a maio, 16. Vale lembrar que todo o atendimento é feito por meio de convênio com o Sistema Único de Saúde.
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