Polícia investiga ligação do PCC com ataque a banco em Uberaba

Minas Gerais é, ao lado de São Paulo, o Estado onde houve o maior número de ataques a caixas eletrônicos neste ano. Desde janeiro, foram registrados 37 casos da modalidade de crime batizada de “novo cangaço” – por mês, houve ao menos seis explosões em agências bancárias mineiras, segundo dados da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Segurança Pública (Contrasp). Os 15 criminosos que levaram terror a Uberaba, no Triângulo Mineiro, na quinta-feira (27), em um assalto milionário, ainda são procurados. A polícia trabalha com a hipótese de que eles integrem a gangue paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), devido aos requintes de crueldade e ao porte do armamento usado na ação.

“Não estamos lidando com um grupo qualquer. Tudo leva a crer que eles são do PCC. Por enquanto, só os dez que pegamos no dia do crime estão presos. A gente acredita que devam ter mais uns 15 soltos. Por isso, estamos com a equipe toda empenhada”, afirma o major Adriano Marques Guimarães, porta-voz da 5ª Região da Polícia Militar (RPM).

Para ele, a gangue teria orquestrado o crime a fim de garantir recursos para financiar as atividades criminosas da organização. “Deu para perceber que são pessoas (os dez presos) bem-articuladas no mundo do crime e preparadas. Todas elas tinham passagens por roubos. Alguns já tinham sido presos por associação criminosa, tráfico de drogas e até homicídio. Eles agem com armamento pesado e de forma muito violenta. Tudo isso é característico do PCC”, explica Guimarães.

A Polícia Civil confirmou que os detidos fazem parte de uma organização criminosa, mas não garantiu que ela seja o PCC, já que as investigações estão em andamento.

Para o presidente da Contrasp, João Soares, a existência do grupo é, inclusive, uma das justificativas para Minas Gerais e São Paulo liderarem o ranking de ataques a caixas eletrônicos no país. Como a sede da organização criminosa é São Paulo, que faz divisa com cidades mineiras, é mais fácil para a gangue planejar os assaltos nos dois territórios. Além disso, trata-se de localizações privilegiadas. “Tanto Minas quanto São Paulo têm muita rota de fuga. Várias cidades mineiras fazem divisa com outros Estados”, argumenta.

Na opinião do especialista em segurança pública Frederico Machado, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, a falta de estrutura de municípios do interior mineiro também pesam nessa decisão dos criminosos. “Temos muitas cidades com segurança pública precária. Em algumas, há só um policial e uma viatura. Os criminosos chegam, roubam tudo e não têm resistência”, afirma.

O porta-voz da PM em Minas, major Flávio Santiago, discorda: “Reduzimos a incidência do crime em Minas. Trabalhamos no treinamentos de tropas, aumentamos o número de viaturas e utilizamos helicópteros e aeronaves com capacidade de deslocamento muito rápido. Inclusive, enviamos 20 militares do Bope para apoiar as negociações em Uberaba”, diz.

PRF apreende R$ 2,5 mi em SP

Uma parte do dinheiro roubado no assalto cinematográfico ocorrido em Uberaba, no Triângulo, na madrugada de quinta-feira, pode ter sido encontrada na rodovia Régis Bittencourt, a uma distância aproximada de 700 km da cidade. A Polícia Civil de Minas Gerais vai investigar se os R$ 2,5 milhões apreendidos na batida realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) são dos criminosos que explodiram a agência do Banco do Brasil no município mineiro. A quantia levada pelos criminosos ainda não foi revelada.

“Estamos analisando essa informação antes de confirmar se há ligação entre os fatos. Estamos checando todas as informações que chegam desde que o crime aconteceu”, afirma o titular da Delegacia Especializada em Investigação e Repressão ao Roubo a Banco, João Prata.

Segundo a PRF, os policiais, que faziam uma blitz de rotina no KM 430 da rodovia, na altura da cidade de Registro, em São Paulo, acharam o dinheiro escondido em pacotes plásticos no painel do carro. Havia notas de R$ 50 e R$ 100.

O motorista do veículo abordado, de 34 anos, disse aos agentes que o recurso não era dele e que ele apenas transportava o dinheiro, cujo destino era Balneário de Camboriú, no Estado de Santa Catarina.

Como a explosão do caixa eletrônico em Uberaba ocorreu por volta das 3h, é possível que, enquanto parte do grupo criminoso tentava distrair a polícia, a outra seguia para a estrada levando o dinheiro.

Relembre o caso

Chegada

Na madrugada de quinta-feira, ao menos 25 criminosos pararam dois caminhões carregados com produtos importados que seriam entregues em lojas em Uberaba. Eles roubaram os veículos e fizeram os condutores reféns.

A ação

A quadrilha se dividiu de modo a fechar o perímetro no entorno do Banco do Brasil. Eles conseguiram cercar dez ruas com miguelitos (pregos em formato de cruz) e carros para impedir a chegada de policiais. Por volta das 3h45, eles fizeram os ataques de forma orquestrada. Enquanto uma parte do bando explodiu e acessou o cofre da agência bancária, outra, que estava em outros pontos, atirou para cima.

Vítimas

Na fuga, os criminosos balearam três pessoas e fizeram ao menos dez reféns, entre eles uma criança de 2 anos.

Prisão

Cercados na 262 pela polícia, dez bandidos se renderam e foram detidos. Com eles, foram apreendidos 12 fuzis, duas pistolas, além de vasta munição e coletes à prova de balas.

Processo

Crimes. Os dez homens presos em flagrante foram autuados por latrocínio tentado (roubo seguido por tentativa de homicídio), explosão, porte e posse de arma de uso restrito. O inquérito será concluído em 30 dias.