Aos 20 anos, feliz com a recém tirada carteira de habilitação e satisfeito com o primeiro dia de trabalho como servente de pedreiro, Onofre Tadeu da Silva, o Tadeu para os moradores do bairro Jardim da Glória, em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, não poupava motivos para comemorar quando foi morto a tiros na festa junina da vizinhança na noite deste domingo (30). O jovem foi uma das duas vítimas fatais de um tiroteio que ainda deixou cerca de dez moradores feridos no que seria um acerto de contas entre traficantes da região.
O rapaz, segundo familiares, amigos e a polícia militar, não possuía histórico de envolvimento no crime. Acostumado a sair apenas com os primos e não muito frequente em festas, Tadeu teria sido vítima de uma bala perdida. Ele morreu no local após ser alvejado com dois tiros na cabeça. Segundo a PM, a festa, que é tradicional e autorizada pela prefeitura, acontecia normalmente quando, por volta das 23h, um grupo de pessoas decidiu iniciar uma disputa de funk em carros de som. Cerca de três veículos participaram da competição e aproximadamente 100 pessoas estavam no local quando dois homens em uma moto escura passaram atirando em quem estava presente. Eles fugiram em seguida e, até o momento, não foram encontrados.
“Um menino bom ele era. Amoroso, carinhoso. É difícil acreditar. Um jovem na flor da idade. Acontecem uns crimes aqui mas não dá pra imaginar que vai acontecer com a família da gente. Ele era inocente, não tinha nada a ver com o crime. Uma pessoa de fé que, infelizmente, estava no lugar errado, na hora errada. O que me consola é saber que ele está em um lugar bom. Agora é cuidar dos meus tios”, disse emocionada a prima da vítima, a dona de casa Patrícia de Andrade Paiva, 29. Segundo ela, Tadeu tem oito irmãos e seria enterrado ainda nesta segunda-feira. Os pais dele estão morando em um sítio e teriam preferido não vir para a cerimônia devido ao impacto emocional.
Para a polícia, o ataque foi premeditado e acabou atingindo outros moradores. “No momento do crime tinha criança, gente de idade. Muita família mesmo.É uma festa muito tradicional na região. Tem todo ano. Acreditamos que a motivação seja acerto de contas. Os traficantes do Jardim da Glória estão em guerra com a gangue do Vila Esportivo, que é um bairro vizinho”, afirmou o sargento Ailton Batista Santiago, que esteve à frente da ocorrência. Ele também encontrou na cena do crime um revólver calibre 38 e munições que possivelmente foram usados no tiroteio.
Em completo silêncio, na manhã desta segunda-feira (1º), cerca de dez moradores do Jardim da Glória retiravam da rua São Carlos os restos da festa. Enquanto alguns desmontavam o pequeno palco instalado no início da rua e as barracas de bambu, outros desciam os varais de bandeiras e uma outra parte tentava retirar as marcas de sangue do asfalto. Questionados, contudo, os moradores, assustados, não quiseram dar detalhes sobre o ocorrido. “Eu estava aqui. O que eu posso te dizer é que foi premeditado. Não temos dúvida. Foi totalmente pontual. Infelizmente não podemos falar mais nada, porque com certeza estão observando a gente e vão dar conta de quem abriu o bico. Esse bairro é assim. Então se puderem ir embora, é melhor, para não dar problema pra ninguém”, disse um morador à reportagem.
Além de Tadeu, Luciano de Jesus Dias, cuja idade ainda não foi divulgada, também foi baleado e morreu a caminho do hospital. Alguns moradores relataram à PM que ele seria o alvo do tiroteio. Pelo menos quatro pessoas foram levadas para o Hospital Risoleta Neves, onde permanecem em observação. Elas foram vítimas de tiros no tórax e no pé. “Os organizadores nos contaram que foram pelo menos dez feridos. Alguns nós socorremos, outros procuraram auxílio por conta própria”, informou o sargento Ailton Batista Santiago.
Alguns moradores que estavam na festa relataram que a polícia foi acionada antes do tiroteio devido a uma reclamação pelo volume do som. Os organizadores da festa, de acordo com a polícia, apresentaram um alvará emitido pela prefeitura e encerraram a festa pouco tempo depois. A disputa de funk teria sido feita no fim do evento por um grupo que se reuniu no fim da rua.
A reportagem questionou à Prefeitura Municipal de Vespasiano sobre o ocorrido e pediu um retorno das investigações à Polícia Civil, e aguarda retorno.
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