A reação do pequeno Luiz Filipe, de 5 anos, ao reencontrar o pai curado da Covid-19 tem emocionado as redes sociais. O vídeo mostra o momento em que o garoto é surpreendido pelo retorno do pai, que estava internado com coronavírus, na UTI há quase 20 dias. Filipe Augusto Eiras, de 35 anos, recebeu alta, na última terça-feira (23), após um complicado tratamento da doença que assola o mundo.
A batalha do professor e coordenador pedagógico, da cidade de Itupeva, em São Paulo, começou ainda antes da descoberta da Covid-19. Filipe conta à reportagem que foi diagnosticado com câncer de esôfago no início deste ano. Nove dias após uma cirurgia para o tratamento do tumor, realizada em 28 de maio, o educador teve a desagradável surpresa de testar positivo para o coronavírus, após apresentar febre.
Entre a realização da cirurgia, o diagnóstico da Covid-19 e a liberação do hospital, foram 28 dias de batalha constante no hospital. Longe do filho e com visitações restritas, Filipe teve um tratamento delicado. “Essa privação, essa luta pela vida, fazem dar valor as pequenas coisas. São coisas simples como levantar, escovar os dentes, tomar um banho, ir ao banheiro”, comenta.
Uma das dificuldades durante esse período foi a distância do filho, já que ele não podia visitá-lo na UTI, durante o tratamento do coronavírus. O professor conta que os dois têm uma relação muito próxima. “Ele estuda na mesma escola que eu trabalho. A gente passa tempo junto, brinca, se diverte”, relata.
Para matar a saudade, as chamadas de vídeo foram a solução temporária. “Ele entendia que eu precisava estar lá. Ele às vezes abraçava o celular. Ele perguntava ‘papai, você está melhorando?'”, relembra.
Pai e filho se despedem, um dia antes da internação de Filipe (Arquivo Pessoal/Filipe Augusto)
No momento do reencontro, fica claro na reação emocionada da criança o quanto a presença do pai fez falta. “O papai voltou!”, comemora Luiz, enquanto abraça Filipe, que também se emociona.
Apesar do alívio de estar de volta em casa, Filipe conta que o tratamento não foi simples. “A cirurgia era de alta complexidade, mas eu não tive nenhuma complicação, estava tendo uma recuperação boa. Estava para ter alta e comecei a apresentar febre uns dias antes. Quando foram investigar, infelizmente estava com Covid”, narra.
Após essa confirmação, o professor foi transferido do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo para o Hospital das Clínicas do Estado. Lá, ele ficou em uma UTI exclusiva para casos de coronavírus. Segundo o próprio, Filipe não chegou a sentir nenhuma reação da Covid-19, além da febre. Ainda assim, o nível de oxigênio no sangue dele foi reduzindo pela doença, o que foi se tornando um problema.
Em virtude da cirurgia, a máscara de oxigenação foi um risco, mas acabou tendo sucesso (Arquivo Pessoal/Filipe Augusto)
“Eu fui piorando, foi aumentando o nível de oxigênio que eu precisava. A máscara de VNI (Ventilação Não Invasiva), inicialmente, eu não poderia utilizar por causa da cirurgia. O cirurgião fez uma tentativa para poder tentar melhorar, fez a máscara e, graças a Deus, não deu problema nos pontos”, relata.
Mesmo com o uso da máscara, a situação de Filipe era complicada. O professor foi então convidado para participar de um estudo no hospital, que envolvia o tratamento a partir do plasma sanguíneo de pessoas curadas da Covid-19. Essa solução já é regulamentada por uma nota técnica da Anvisa desde abril.
Segundo o professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Mateus Westin, essa é uma terapia que deve ser usada com cautela, já que os resultados clínicos não são consistentes. Além disso, a transfusão do chamado plasma convalescente pode trazer outros riscos. Por isso, a técnica só é utilizada em pacientes em estado grave.
Por outro lado, o uso desse tratamento tem apresentado bons resultados, já que os anticorpos presentes no plasma podem ajudar o organismo do paciente a combater a infecção. No caso de Filipe, felizmente, o tratamento com o plasma obteve sucesso. Com o uso da técnica, a oxigenação foi estabilizando aos poucos e após 16 dias na UTI, o educador foi para casa.
Junto da família, o tratamento de Filipe ainda não está concluído. “Eu estou em terapia respiratória e motora. Dentro do que eu cheguei, até hoje, já estou com uma recuperação considerável. Mas ainda preciso estar 100%”, comenta.
Filipe comemora a liberação do hospital, junto da tia e dos primos, que acompanharam o tratamento (Arquivo Pessoal/Filipe Augusto)
Ainda assim, o professor tira algumas lições do período difícil que enfrentou. “Você não percebe a importância das pequenas coisas até você ter que mudar. Sempre tive uma boa relação e dei valor para minha família, mas isso me fez dar ainda mais”, conclui.
Ao lado da esposa e filho, o professor continua se recuperando (Filipe Augusto/Arquivo Pessoal)
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