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Pandemia da Covid-19 deve ampliar em 48% mortes por fome no mundo

Com pandemia, crise alimentar deve aumentar em 12 mil a quantidade de mortes causadas pela fome

13/07/2020 às 09h17
Por: Redação Fonte: Estadão Conteúdo / O Tempo
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Pandemia deve resultar em 12 mil mortes a mais por fome no mundo Foto: Prakash Singh / AFP
Pandemia deve resultar em 12 mil mortes a mais por fome no mundo Foto: Prakash Singh / AFP

Até o fim de 2020, o número de mortes relacionadas à fome no mundo chegará a 37 mil por dia. A previsão consta no relatório da ONG Oxfam, divulgado na quarta-feira (8), com base em dados da ONU. Em 2019, as mortes diárias em razão da crise alimentar chegaram a 25 mil, mas os efeitos da pandemia devem ampliar em 12 mil o total neste ano – alta de 48%.

O estudo identifica que os casos mais graves se concentram em nove países e uma região onde vive 65% da população global em situação de crise alimentar. A maior parte está em áreas de conflito, na África e no Oriente Médio, mas países como Brasil, Índia e África do Sul também terão de lidar com aumento da fome. “Veremos um aumento das pessoas passando fome no Brasil e precisamos tomar as medidas necessárias. Agora e depois da pandemia”, afirmou Maitê Guato, gerente de programas da Oxfam Brasil.

De acordo com ela, programas como o auxílio emergencial enfrentam dificuldades para atingir todos os necessitados, e milhares de cidadãos não têm celular, acesso à internet ou e-mail para se cadastrar e receber o recurso. “Os impactos sociais e econômicos vão perdurar por um tempo mais longo que a pandemia. Se suspendermos esses auxílios, tanto o emergencial quanto o apoio para manutenção de emprego e renda, empurraremos milhões de pessoas para a extrema pobreza e a fome”, disse.

Para o Brasil, que deixou o Mapa da Fome em 2014, a Oxfam faz um alerta. José Graziano, ex-diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sustenta que a fome no Brasil é um problema de acesso. “Produzimos e exportamos em grande quantidade. A questão é como fazer o alimento chegar às pessoas”, afirma.

Na visão dele, o país vem desmontando as políticas públicas de redução da insegurança alimentar, citando a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) como exemplo.

Graziano, ministro petista entre 2003 e 2004, diz ainda que há a necessidade de cooperação entre os setores privado e público e a sociedade civil para chegar a resultados melhores. “Não são os governos que acabam com a fome, são as sociedades. O governo sozinho pode fazer pouco sem o setor privado, que é fundamental no equacionamento de um sistema alimentar mais justo”, afirma.

Em seu relatório, a Oxfam cita seis ações necessárias para reduzir a insegurança alimentar no mundo, que em 2019 afetou a vida de 821 milhões de pessoas – quatro vezes a população do Brasil. Com a pandemia, mais 122 milhões podem entrar na estatística, chegando a mais de 900 milhões de indivíduos em situação de extrema vulnerabilidade.

Uma das medidas propostas é financiar o envio de ajuda humanitária da ONU, considerada fundamental para garantir a vida e a subsistência de milhões em países pobres. Em um contexto de recrudescimento do nacionalismo, a Oxfam considera as ações multilaterais coordenadas.

Um segundo ponto é o fortalecimento de sistemas alimentares, deixando-os mais sustentáveis e menos suscetíveis a interrupções, como fechamento de fronteiras. “Vivemos em um mundo que produz mais alimentos do que seria necessário e, ainda assim, temos índices altíssimos de fome”, afirmou o economista Walter Belik, professor da Unicamp, especializado em segurança alimentar e um dos criadores do Programa Fome Zero no Brasil.

Neste ano, o FMI prevê queda de 4,9% na economia global, o que acabaria com 300 milhões de empregos em tempo integral e dificultaria o acesso à renda para outros 2 bilhões de trabalhadores informais em todo o mundo. “A pessoa perde trabalho, renda e não tem como ter acessar a comida”, diz Belik.

Segundo o economista, os países deveriam elevar a produção local de alimentos e deixar de depender tanto de exportações. “Seria muito mais viável e saudável produzir localmente, ter circuitos curtos e depender menos de fluxos internacionais. Uma paralisação como essa fez cargueiros ficarem parados em portos e criou crises de abastecimento sérias em muitos países”, afirma Belik, que defende também a criação de estoques estratégicos para que países evitem o desabastecimento.

Em junho, a ONU estimou que a pandemia jogaria mais 49 milhões de pessoas na pobreza extrema. “O número de pessoas expostas a uma grave insegurança alimentar vai crescer rapidamente. A queda de um ponto percentual no PIB global significa mais 700 mil crianças desnutridas”, disse António Guterres, secretário geral das Nações Unidas.

Os países em desenvolvimento são particularmente afetados pelo confinamento em razão da dependência que têm da economia informal. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 1,6 bilhão dos 2 bilhões de trabalhadores informais serão afetados pelas restrição de movimento, a maioria em países da América Latina, Ásia e África.

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