Reclamações de fraudes em empréstimos têm alta de 20% no Procon

A pandemia apertou mais as contas de muitas famílias brasileiras, que recorreram a empréstimos para não entrar no vermelho. Oito a cada dez consumidores fizeram essas solicitações, segundo o Serasa. A crise tem chamado a atenção de criminosos: apenas em BH, as reclamações de fraudes em empréstimos cresceram 20% desde o fim de 2020, conforme o Procon da Assembleia, que toda semana recebe de 15 a 20 queixas de empréstimos não pedidos, principalmente consignados. 

No primeiro semestre, a Serasa registrou ao menos uma movimentação fraudulenta a cada oito segundos, índice maior da série, iniciada em 2011, com bancos e cartões liderando as tentativas. Foram quase 2 milhões de ataques, principalmente pela internet. As maiores vítimas são idosos, aposentados e pensionistas. É o caso de Arlete Nunes dos Santos, 63, que há três anos busca solução junto ao banco. 

Para reformar o muro de casa, ela havia realizado três consignados, de valores diferentes, com o Mercantil do Brasil. “Um dia, vi que tinha algo errado, havia outro empréstimo, de R$ 4.800, em 84 parcelas. Chegaram a me oferecer, mas eu não aceitei e também não assinei nenhum contrato”, contou. 

Ela foi à agência. “A moça que tinha feito os outros (empréstimos) para mim não trabalhava lá mais. O gerente me explicou que ainda havia um saque de R$ 1.500, outro de R$ 500 e pagamento de faturas. Só que eu nunca paguei nada com o meu cartão. Só saco o pagamento na agência ou na farmácia perto da minha casa, e essa transação ocorreu em outro lugar”, resumiu. 
Para a aposentada, o cartão foi clonado e ela foi vítima de golpe. Agora, resta a parcela mensal de mais de R$ 300, que só vai terminar em cinco anos, quando ela terá pagado mais de R$ 25 mil. 

Migração

O servidor Manoel Reis, 61, também está entre as vítimas. Após fazer a migração de um consignado para outro banco, ele recebeu duas ligações de criminosos que se passaram por gerentes do Banco do Brasil (BB). “Falaram que teriam uma proposta melhor, para eu voltar para o banco”, relatou.

Na primeira vez, o falso gerente ofereceu um consignado de R$ 22 mil, em 42 parcelas de R$ 800. Dias depois, uma mulher ofereceu transferência de R$ 24 mil, em 42 parcelas de R$ 526. “Nos dois casos, falaram que o procedimento era que eu estornasse o valor, a título de amortização”, explicou.

Manoel fez o combinado e, quando foi checar o portal do servidor, verificou que havia um consignado e outros dois empréstimos normais em seu nome. “Falaram que os lançamentos dos dois últimos seriam retirados em até nove dias, só que isso nunca aconteceu. Para piorar, o segundo empréstimo estava em 96 parcelas”, lamentou.

Sem retorno dos falsos gerentes e com salário reduzido à metade devido às dívidas, o servidor foi à agência e, semanas depois, descobriu que os golpistas eram agentes comerciais, de duas consultorias do Rio e São Paulo. “Não ficou dinheiro na minha conta, já que repassei o valor imediatamente, sob orientação. Os valores caíram na conta em nome dessas empresas”, contou.
Sem resolução do banco para o problema, Manoel precisou recorrer à Justiça. 

O que dizem as empresas

O Mercantil do Brasil informou que consignados podem ser obtidos apenas em seus pontos de atendimento ou lojas de parceiros. O caso de Arlete será tratado no “prazo máximo regulamentar de dez dias úteis”, pela Ouvidoria.

O Banco do Brasil não tinha respondido até o fechamento desta edição. 

Pequenos cuidados evitam problemas

Idosos são sempre mais vulneráveis a esse tipo de golpe, alerta Lucas Zandona, especialista em direito do consumidor. “Primeiro, porque não dominam a tecnologia. Também é muito comum emprestarem o nome para familiares contraírem empréstimos”, lembrou o especialista, que é professor de direito na Estácio. 

A primeira ação de uma vítima desses golpes deve ser o boletim de ocorrência na delegacia, alerta. “O primeiro passo é levantar toda a troca de mensagens, printar conversas e levar para a autoridade policial. Em seguida, deve procurar um advogado para tentar ressarcir o prejuízo”, explicou.

Delegado do Departamento Estadual de Combate à Corrupção e Fraudes, Marlon Pacheco alertou que pequenos cuidados podem evitar dores de cabeça. “(O ideal é) sempre desconfiar de propostas vantajosas demais, que escondem algum tipo de armadilha. E procurar a agência. Idosos devem pedir auxílio de um familiar para ajudar na decisão. As quadrilhas têm se especializado cada vez mais nesses golpes”, frisou.

Ligação

Outra modalidade de golpe é quando a vítima recebe, por telefonema, resgate de valores que estavam retidos na conta, acrescenta o advogado Tadeu Saint’ Clair. “É enviado um link que, na realidade, é um empréstimo. O dinheiro cai na conta, em operação toda online. O aconselhável é entrar em contato direto com o banco e tentar o cancelamento. Não sendo possível, deve-se buscar a via judicial”, sugeriu.

Dicas para não cair em golpes

Sempre desconfie de ofertas muito atraentes, que podem esconder armadilhas. 

 Consulte mais informações da empresa antes de fechar a transação; verifique se há endereço físico e qual é a reputação em sites confiáveis. 

Atenção aos contratos: quando for assinar, leia todas as cláusulas e verifique se o valor e o número de parcelas estão corretos. 

Não faça depósitos ou transferências de valores quando contratar um empréstimo: nenhuma instituição solicita uma antecipação, principalmente de contas físicas. 
No caso de transações online, verifique se o site é seguro.  

Reclamações no Procon 

15 a 20 queixas de empréstimos não solicitados por semana 

Alta de 20% no número de reclamações neste ano