Um aluno de 17 anos com um facão, um simulacro de pistola e uma garrucha invade uma escola. Esse foi o cenário para uma tragédia em Caraí, no Vale do Jequitinhonha. Era por volta de 8h da manhã quando o estudante atirou contra dois colegas, nesta quinta-feira (7), durante o horário de aulas na Escola Estadual Orlando Tavares, em Ponto de Marambaia – distrito do município de Caraí.
Ele teria agido com a ajuda de outro adolescente, mas ainda não há confirmação, nem detalhes sobre como este segundo envolvido teria participado do crime.
Rejeições amorosas podem ter sido a motivação para o ataque. Sem conseguir atingir seus possíveis alvos, duas adolescentes com quem o principal suspeito queria namorar e que o teriam rejeitado, o adolescente disparou dois tiros com a garrucha, que era de seu pai, contra a porta da sala onde queria entrar – no entanto, a professora, em aula no momento do ataque, conseguiu fechá-la e barrou o impacto dos tiros.
Ele não tinha assistido às aulas nesta quinta e, de acordo com a Secretaria de Educação, pulou o muro para entrar na instituição.
O que sabemos até agora
Quem é o atirador. Um adolescente de 17 anos, aluno do 3° ano do ensino médio da Escola Estadual Orlando Tavares. É descrito por colegas e por funcionários da unidade como um estudante 'tranquilo'. Um outro adolescente possivelmente está envolvido no crime, porém a participação dele ainda não foi confirmada.
Quantos feridos. Dois adolescentes de 16 e 17 anos que impediram o atirador de entrar em uma das salas de aula foram atingidos por tiros. A professora, presente nesta sala no momento da invasão, ficou em estado de choque e também precisou ser levada ao hospital.
Onde foi. Na Escola Estadual Orlando Tavares, em Ponto de Marambaia, zona rural de Caraí, no Vale do Jequitinhonha. O município tem 22.343 habitantes, segundo o IBGE.
A motivação. De acordo com as primeiras informações da PM, a motivação para o crime seria passional, posto que o atirador não teria aceitado o fato de que duas adolescentes teriam negado seus pedidos de namoro.
Uma das vítimas, um adolescente de 16 anos, tentou ajudar a professora a frear a ação do colega e, por isso, sofreu um disparo na altura do pescoço. A outra vítima, também um adolescente, mas este com 17 anos, seguiu à linha de frente da sala e acabou atingido no braço.
"Informações colhidas com os alunos apontam que, recentemente, duas estudantes da escola se negaram a ter um relacionamento com o suspeito, a namorar com ele. E essa teria sido a motivação para o crime. Mas, durante entrevista, quando perguntado sobre a motivação para sua prática criminosa, o adolescente não quis comentar o que o fez adotar essa conduta", explica o tenente coronel Fábio Marinho, à frente da ocorrência. Alguns minutos após os disparos, o estudante foi contido pela Polícia Militar e está sob custódia da corporação.
Alguns alaunos perceberam a entrada do suspeito, armado, no pátio da escola e, por isso, saíram correndo. Ele, então, teria seguido em direção à sala de aula, onde atacou os outros dois adolescentes. Pais de alunos ficaram desesperados e foram buscar os filhos, houve correria e muito pânico, segundo a polícia.
Os feridos
Os dois adolescentes atingidos receberam socorro rápido e foram levados ao hospital Nossa Senhora Mãe da Igreja, no município de Padre Paraíso – vizinho a Ponto do Marambaia e Caraí. Segundo informações da Polícia Militar, nenhum dos dois corre risco de vida. Além deles, a professora que fechou a porta da sala de aula e impediu o ataque também precisou ser socorrida. Ela permanece internada em estado de choque.
O hospital informou que "um dos adolescentes recebeu transfusão sanguínea e permanece estável, aguardado em USA (Unidade de Saúde Avançada) para Teófilo Otoni. Ofertado o suporte dos serviços de assistência social e psicológico do município de Padre Paraíso de forma imediata, bem como os familiares das vítimas e outros estudantes", escreveu em nota.
Em informações atualizadas às 15h30, o hospital informou que o adolescente que levou um tiro no pescoço e recebeu a transfusão de sangue já foi transferido para um Hospital de Teófilo Otoni, mas está estável. Já o adolescente que levou um tiro no braço foi atendido e liberado.
Adolescentes deitaram no chão durante o ataque
Durante o ataque os alunos de uma das salas do 1º ano deitaram no chão e se protegeram dos tiros. Em conversa com a reportagem de O TEMPO, o pai de uma aluna da classe, José Nepomuceno, de 43 anos, contou que a filha ainda está assustada e não consegue falar muito do assunto.
"Estava trabalhando em outra escola quando soube o que tinha acontecido. Fui para lá e só então soube que o fato foi na sala de uma das minhas filhas, de 16 anos. Ela disse que alguns colegas se abaixaram, deitaram no chão e que houve muita gritaria. Porém, como está muito abalada, não conseguiu falar mais do assunto e não quis almoçar. No momento, ela está descansando", disse o homem, que também trabalha na escola em outro horário, no setor administrativo.
Ainda segundo Nepomuceno, que também é presidente da associação do Ponto do Marambaia, os moradores se tranquilizaram depois que souberam que não teve vítima fatal no ataque. "Eu entendo que essa questão da violência está ligado à estrutura familiar, aos jogos eletrônicos, o envolvimento com as drogas. É uma consequência de uma má formação", afirmou.
Uma mãe de aluna e funcionária da escola que preferiu não se identificar contou que houve momentos de pânico durante o ataque. "Os alunos saíram correndo da sala de aula, já vimos o menino todo ensanguentado. Foi muito assustador. A escola aqui todo mundo conhece todo mundo. É um distrito pequeno", relatou.
Suspeitos apreendidos
Os dois adolescentes suspeitos do crime foram apreendidos e as armas utilizadas no crime também. "A equipe da perícia já está no local fazendo os primeiros levantamentos e outros trabalhos policiais prosseguem. Dois adolescentes foram identificados e serão ouvidos pela Polícia Civil", informou a Polícia Civil.
O padastro do atirador também foi preso porque a garrucha usada no crime era dele. O idoso de 80 anos vai responder pelos crimes de omissão de cautela, já que deixou a arma ao alcance do enteado e por posse ilegal, por não ter registro da garrucha.
"Ele nos disse que não sabia que o enteado tinha a intenção de cometer o crime e que o adolescente era muito tranquilo e não dava nenhum indício de que faria algo do tipo", relatou o tenente coronel Fábio Marinho, à frente da ocorrência.
Atirador era bom aluno
Amigos, colegas de sala e uma ex-diretora, assustados após o ataque à Escola Estadual Orlando Tavares na manhã desta quinta-feira (7), em um distrito de Caraí, no Vale do Jequitinhonha, detalharam o suspeito de comandar o ataque como 'um menino tranquilo' e 'sem histórico de agressividade'.
"Nunca tinha acontecido nada disso na escola, é uma tragédia sem explicação. Toda a comunidade escolar está muito abalada", lamentou aos prantos uma ex-diretora da escola, que conversou com a reportagem de O TEMPO, mas preferiu não se identificar. Segundo ela, o aluno que atirou nos colegas se saía bem nas aulas e não tinha qualquer histórico de agressividade.
O crime chocou igualmente os estudantes da unidade. À polícia, alunos contaram que o adolescente responsável pelos disparos sempre foi 'uma pessoa muito tranquila'. No entanto, funcionários da escola não quiseram comentar a respeito do passado dele.
"Nenhum professor ou o diretor quiseram comentar fatos relacionados à vida pregressa do adolescente, o que dificulta nossas possibilidades de confirmar a motivação. Mas, os alunos relataram que ele é tranquilo", comenta o tenente coronel Fábio Marinho dos Santos, da Polícia Militar, à frente da ocorrência.
A escola atende alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental e do 1º ao terceiro ano do ensino médio.
O que diz a secretaria de educação
A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) informa que a equipe da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Teófilo Otoni está na Escola Estadual Orlando Tavares, localizada no distrito de Ponto do Marambaia, em Caraí, para apurar a situação ocorrida na escola na manhã desta quinta-feira (07/11) e dar todo o apoio e auxílio à direção da unidade escolar, à comunidade escolar e às famílias dos dois alunos feridos na ocorrência.
De acordo com a direção da unidade, os dois tiros foram disparados por um aluno da instituição que não estava presente hoje às aulas, pulou o muro da escola armado e efetuou os disparos. A direção da escola acionou a Polícia Militar imediatamente e os dois alunos feridos foram levados para o hospital.
Representantes da SRE acompanham a situação dos alunos no hospital. A direção esclarece, ainda, que todas as informações necessárias estão sendo passadas para os órgãos competentes que farão a investigação e apuração do caso.
Veja o que diz o goivernado Romeu Zema:
Recebi com muita tristeza a notícia de que dois jovens alunos ficaram feridos após um estudante invadir a escola em que estuda, no distrito de Ponto da Marambaia, no município de Caraí, no Vale do Jequitinhonha, e atirar contra seus próprios colegas. Uma tragédia maior só não ocorreu graças ao trabalho e ação dos professores e alunos da Escola Estadual Orlando Tavares.
Já determinei que seja prestado todo o apoio à instituição de ensino, às famílias das vítimas, aos estudantes, pais, professores, demais funcionários e toda comunidade escolar.
Representantes da Superintendência Regional de Ensino de Teófilo Otoni estão na escola e também dão todo o suporte aos estudantes no hospital. Podem ter a certeza de que o Governo de Minas acompanha com máxima atenção o fato.
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