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Torcedor do Galo, segurança vítima de injúria racial relata cusparada

Fábio Coutinho, de 42 anos, declarou que vai procurar seus direitos por meio de identificação de agressor

11/11/2019 às 11h16
Por: Redação Fonte: OTempo
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Josias Pereira | @superfcoficial
Josias Pereira | @superfcoficial

Fábio Coutinho, 42 anos. Morador de Betim, atleticano, casado, nascido no Rio de Janeiro, pai de dois filhos e que se mudou para Minas há cerca de cinco anos. Ele é o segurança vítima de injúria racial no Mineirão, além de agressões verbais no último clássico do ano. Um trabalhador brasileiro que na prestação de seu serviço acabou sofrendo as piores agressões. Fábio não quer um discurso vitimista. Tanto que durante todo o contato com a reportagem do Super FC ainda na madrugada desta segunda-feira relatava com muita tristeza o fato de ter sido alvo de uma cusparada do homem que aparece no vídeo que circula por todo o Brasil dizendo: “olha a sua cor”. 

“Foi triste. Foi uma situação lastimável. São vários vídeos, existe a imagem que ele falou ‘olha a sua cor’, ‘sua mãe está na zona’, mas o momento mais repugnante foi quando ele cuspiu na minha face. Isso foi repugnante”, explicou Fábio à reportagem. 

O vigilante, que também presta serviços em jogos no Independência, disse à reportagem que não chegou a prestar queixa sobre o ocorrido no estádio. Porém garante que a partir desta segunda-feira, tendo a chance de identificar o agressor, ele não tem dúvidas de vai exercer seus direitos. “Obviamente que isso me abalou, mas eu dei continuidade ao meu serviço. O abalo veio mais posteriormente. Naquele momento que as coisas aconteceram eu tinha que dar continuidade ao meu trabalho, mas agora em casa, pensando bem, podendo identificar essa pessoa, eu quero dar continuidade sim (juridicamente) ao assunto”, declarou Fábio. 

“Realmente eu não fiz nenhuma queixa, eu não poderia abandonar o meu setor, como eu sou um vigilante pró-ativo nas iniciativas após essa confusão, eu ainda fui resolver outros tumultos no estádio, mas recebi posteriormente um vídeo de um repórter que mostra a cusparada e outras imagens também em que abertamente ele (o agressor) me chama de ‘macaco’. Foram agressões gratuitas porque eu, em nenhum momento, o agredi. As imagens falam por si só”, acrescenta Fábio. 

À reportagem, o vigilante também contou sobre a revolta da esposa, também atleticana, ao saber da notícia. 

“Ela não sabia do fato ocorrido, quando cheguei aqui em casa, eu contei. Ela ficou muito chateada, meus familiares, amigos no Rio, visualizaram por meio das redes sociais, assim como pela TV também, se sensibilizaram. Mas eu volto a dizer. Eu não quero me vitimizar. A questão do racismo eu acho bem séria, mas também coloco o cuspe, o dedo na minha cara, foram agressões gratuitas. Que isso sirva de lições para outros”, salienta o segurança. 

Vida simples e de dignidade 

Durante a entrevista ao Super FC, Fábio contou um pouco de sua história, de como escolheu o trabalho de vigilante, como escolheu Minas para viver, além da torcida para o Atlético. Interrompeu o contato para mandar um vídeo do banheiro que havia acabado de reformar há poucos dias. Uma das pequenas conquistas que enche o vigilante de orgulho. 

“Eu atuo na área a vigilância há poucos anos, aproximadamente três anos. Antes eu atuava na área social. Eu saí do Rio de Janeiro, vim aqui para Minas Gerais, tive passagem também por São Paulo, por Brasília, mas me encantei por Minas e já moro fixo aqui durante esse período aí de cinco, seis anos”, conta Fábio, morador da cidade de Betim. 

“Sou atleticano, Galo doido. No Rio eu sou Fluminense, e como não seria compatível torcer para o Cruzeiro, porque a torcida tem uma certa proximidade com o Flamengo, que é rival do Tricolor lá, eu decidi torcer para o Atlético. Mora aqui eu e minha esposa em Betim, temos uma vida simples de muita batalha. Temos nossas conquistas básicas como, por exemplo, na semana passada conseguimos fazer uma reforma no imóvel na parte do banheiro”, relata o vigilante. 

“Por ironia do destino, pelo fato de ter sido chamado de ‘macaco’, eu adoro micos. Aqui onde moro tem uma vegetação vasta e os micos sempre vêm aqui em casa, quase que diariamente. Ficam soltos na natureza, são animais silvestres. Tenho cachorros, meu aquário, enfim, uma vida bem simples, bem regrada, bem tranquila, como boa parte da nação brasileira”, conclui Fábio. 

Uma causa coletiva 

Convivendo com situações de trabalho sempre problemáticas, além da exaltação peculiar que uma partida de futebol provoca nas pessoas, os seguranças precisam ter jogo de cintura. Uma reflexão que Fábio também quer propor. 

“Eu gostaria que isso fosse levantado como uma causa coletiva e não pessoal. Muitos podem falar “é mimimi porque foi chamado de negro, preto, macaco. Ele recebeu uma cusparada no rosto”. Mas muito de nós temos uma atitude como a que o vigilante Fábio Coutinho teve hoje. Eu não tive uma atitude agressiva. Eu apenas exerci a minha função”, ressalta o segurança. 

“No vídeo ali, foi claramente quando uma mãe com uma criança passou entre nós, idoso passou entre nós, a vovó do Galo foi eu que encaminhei a descida, teve uma gestante que encaminhei lá para baixo. Agora os baderneiros não puderam passar. Que isso fique bem claro que é uma causa coletiva. E não uma causa individual do Fábio Coutinho”, encerra.

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