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Por hora, 17 mulheres em Minas são vítimas de agressão

Cultura de poder do homem sobre a mulher é entrave para combater problema

30/12/2019 às 11h05
Por: Redação Fonte: OTempo
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Uma vida. Xica viveu por 14 anos em um relacionamento abusivo - Foto: Alexandre Mota
Uma vida. Xica viveu por 14 anos em um relacionamento abusivo - Foto: Alexandre Mota

Quando se olha no espelho, Francisca Maria da Silva, 54, não vê mais o olho que perdeu, os 88 pontos no rosto e as 15 dentadas no seio dadas pelo ex-marido dela. Assim como esses rastros apagados pelo tempo, as marcas na alma também estão ocultas. Entretanto, ela ainda enxerga naquela mulher refletida os abortos forçados e o filho que nasceu morto após um espancamento. Essa é apenas uma parte da história dos 14 anos em que Francisca, ou Xica, como prefere ser chamada, sofreu com a violência doméstica. Assim como ela, a cada hora, 17 mulheres são vítimas do mesmo crime em Minas Gerais.

Só neste ano, por dia, cerca de 404 mulheres sofreram violência doméstica. Os dados refletem o quadro até novembro, segundo levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

“A violência doméstica é um fenômeno epidêmico. Apesar das políticas públicas e do enfrentamento, a gente não tem visto resultados efetivos na diminuição das agressões. A nossa cultura autoriza os homens a exercerem sua violência sobre as mulheres”, explica a professora e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher (Nepem), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Marlize Matos.

Xica demorou anos para perceber que era vítima de um crime. “Ele começou escolhendo o sapato e o batom que eu ia usar. Depois, me forçou a fazer dois abortos, eu tive um menino que nasceu morto por causa do espancamento. Ele me deu 15 dentadas no seio. No decorrer do tempo, eu fui percebendo que eu só podia fazer o que ele permitia”, conta a cozinheira.

O problema é que a descoberta não significou uma mudança efetiva. Afastada dos amigos pelo agressor e com medo de contar para a família sobre as agressões, ela continuava acuada e esperava a morte. “Eu pesava 101 kg e tinha me entregado para morrer. Minha ficha só caiu quando ele jogou o carro de uma ponte comigo dentro. Eu levei 88 pontos no rosto e perdi um olho. Foi ali que vi que tinha que escolher entre sair de perto dele ou morrer”, diz.

Essa realidade de medo faz com que os casos de violência doméstica ainda sejam subnotificados. “Cerca de 90% das mulheres não denunciam as agressões, principalmente as psicológicas, sexuais e morais. Quem vai à delegacia porque o cara jogou a comida dela no lixo? O problema é que o ciclo da violência começa com essas humilhações. Quando um homem chega a matar a mulher, significa que ela já passou por todo tipo de agressão em casa”, alerta Marlize.

Autonomia financeira é saída contra agressão

Para especialistas, a falta de autonomia econômica é um dos grandes empecilhos para que as mulheres consigam se libertar dos agressores. “Atualmente muitas mulheres estão ganhando menos que os homens. Elas engravidam e saem do mercado. Essa falta de autonomia as coloca na condição de subalterna”, explica a professora da UFMG Marlize Matos.

A cozinheira Francisca Maria da Silva conseguiu se reerguer por meio do aprendizado da culinária em um projeto de economia colaborativa. Foi aí que ela adquiriu a independência financeira e se libertou de vez do agressor. Hoje ela tem um bufê próprio. “Esse homem tentou tirar minha dignidade, mas não conseguiu. Ele me deu foi coragem de ajudar outras mulheres. Se você está sendo agredida, denuncie quantas vezes for preciso”, afirma.

Maior parte dos agressores repete erro

A cultura de poder do homem sobre as mulheres é um dos principais gargalos para diminuir a violência doméstica. A delegada Ana Paula Balbino, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Belo Horizonte, no Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, conta que a maioria dos agressores é reincidente.

“Ele agride uma mulher e, quando se afasta dela, passa a agredir outra mulher e vai fazendo mais vítimas. É importante um trabalho de conscientização, não só com as mulheres, mas com os homens também. (É preciso) trabalhar com adolescentes e jovens para evitar esses casos”, considera.

A opinião é compartilhada pela professora da UFMG Marlise Matos. “O maior problema que temos é o de socialização dos homens, que ainda veem as mulheres como posse e a agressão como algo quase normal. Temos que mudar essa consciência. Não adianta mudar as leis e continuar permitindo que os homens sejam agressores”, alerta.

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