É natural de Sete Lagoas o prefeito José Pedro Pires da Rocha (PSB), o “Zé Galego”, de 64 anos, que morreu e foi o primeiro a ser sepultado no novo cemitério municipal de Bonito de Minas, de 11,2 mil habitantes, distante 644 de Belo Horizonte, no Norte de Minas. A obra ainda está em fase de acabamento.
A morte de José Pedro Rocha ocorreu sexta-feira passada (17 de janeiro). Ele viajava sozinho para Brasília (DF) e, na estrada, sentiu uma dor no peito. Procurou um hospital de Planaltina (GO), onde teve um infarto. Os médicos tentaram reanimá-lo, sem sucesso.
O caso lembra a novela “O Bem Amado”, do dramaturgo Dias Gomes (1922/1999), levada ao ar na década de 1970, na qual o prefeito da fictícia cidade de Sucupira, Odorico Paraguaçu, interpretado por Paulo Gracindo (1911/1995), tem como principal meta inaugurar um cemitério, mas não consegue alcançá-la porque na cidade ninguém morre. Por ironia do destino, ao final da história, o próprio prefeito “inaugura” a obra, onde é o primeiro a ser enterrado.
Emancipado de Januária em 1997, Bonito de Minas possui um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,537, um dos mais baixos de Minas Gerais. Por outro lado, o município tem uma grande extensão territorial (3.914 quilômetros quadrados).
Eleito vice-prefeito em 2016, Galego tinha assumido o comando da prefeitura em abril de 2018, tendo em vista que o então titular, José Reis, (PHS), se afastou do cargo para ser candidato a deputado estadual e foi eleito com 45.746 votos.
O corpo do chefe do executivo foi velado no prédio da prefeitura. O caixão foi coberto com uma bandeira do município. O enterro ocorreu no fim da tarde de domingo, com acompanhamento de cerca de 500 pessoas. Na descida do caixão à sepultura, o clima de emoção aumentou mais ainda, ao som da marcha fúnebre de Chopin, executada por um morador.
Nesta segunda-feira, o presidente da Câmara Municipal, o vereador Dilson Barbosa Santana (PP), o “Dilson de Senhorinha”, foi empossado como prefeito de Bonito de Minas. Na prática, ele só vai iniciar os trabalhos na prefeitura na quarta-feira, porque, com a morte de Zé Galego, foi decretado luto oficial no município nesta segunda e terça-feira.
O novo prefeito evitou fazer comentários sobre o fato do seu antecessor ter sido o primeiro a ser enterrado no “novo” cemitério. “Acho que Deus marcou a chegada do dia dele e aconteceu isso, mas não posso falar sobre essa questão do cemitério”, disse Santana. Ele contou que mesmo continuando no grupo político local do prefeito morto (liderado pelo deputado José Reis), quando Zé Galego assumiu o comando da prefeitura, ele passou a fazer oposição ao então chefe do executivo.
A obra
O ”novo” cemitério de Bonito de Minas fica ao lado do antigo cemitério da cidade, separados por um muro. A obra foi iniciada pela prefeitura há cinco meses como uma “ampliação” do cemitério antigo, que tem mais de 70 anos. As vagas para sepultamentos no local se aproximam do fim, o que motivou a expansão.
Túmulo do prefeito na área de ampliação do cemitério — Foto: Arquivo Pessoal
Para a conclusão da obra ainda falta o término de uma capela e do calçamento (de uma passarela). De acordo com um servidor municipal de Bonito de Minas, uma pessoa da família de Zé Galego pediu que ele fosse sepultado no “novo cemitério”antes mesmo da conclusão dos serviços previstos, tendo em vista que, “por uma que questão de justiça” , o prefeito deveria ser enterrado “numa obra feita por ele”.
Ao contrário de Odorico Paraguaçu, político corrupto e cheio de artimanhas, Zé Galego era um "homem correto e honesto", afirma o vereador Miqueias Figueiredo.
Ele lembra que o amigo era natural de Sete Lagoas e chegou ao Norte de Minas Gerais para trabalhar transportando carvão. Tempos depois, tornou-se como taxista na Comunidade de São Sebastião do Catulé. Na época, seguindo conselhos dos passageiros que levava, candidatou-se a vereador, mas não se elegeu.
Nas eleições seguintes, tentou novamente e foi eleito vereador, primeiro cargo político que ocupou. Em 2012, elegeu-se vice-prefeito e voltou a ocupar o cargo após o pleito seguinte.
Zé Galego assumiu a Prefeitura de Bonito de Minas depois que o então ocupante do cargo, José Reis (PHS), afastar-se ao ser eleito deputado estadual, em 2018.
Zé Galego e o vereador Miqueias — Foto: Arquivo Pessoal
"Eu já fui oposição, mas conheci o trabalho dele e passei a apoiá-lo. Foi um prefeito que conseguiu contornar as dificuldades financeiras do município para pagar salários e outras despesas em dia", diz Miqueias, sobre o amigo.
"De tanto cuidar dos interesses da população, acabou esquecendo dele e, infelizmente, morreu em virtude de um problema de saúde."
Um dos filhos de Zé Galego disse ao vereador que o pai tinha passado mal há dois anos e um médico apontou, na época, que ele tinha uma veia com sinais de entupimento.
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