Quem viu a rua Marília de Dirceu, no bairro Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, na manhã da última quarta-feira (29), após a enchente que atingiu a cidade, se surpreendeu quando nesta sexta-feira (31) encontrou uma rua praticamente reconstruída.
Mesmo sem parte do asfalto, o cenário de guerra, em que carros foram arrastados, buracos foram abertos na via e árvores caíram sobre passeios, já virou passado para quem mora e trabalha no local. A rapidez nas obras, contudo, tem chamado a atenção de moradores de outras regiões atingidas pelas inundações, que aguardam, há uma semana, pela limpeza das áreas onde moram.
Por volta das 8h desta sexta-feira, cerca de 15 funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte chegaram à praça Marília de Dirceu para realizarem trabalhos como limpeza e poda de árvores na rua atingida. Ainda que com parte do asfalto retirada, a rua não tem nenhum ponto de interdição no trânsito. Os outros acessos da região também já estão liberados para carros e pedestres.
Morador do Barreiro, o taxista Gerônimo Antônio da Silva, 64, que trabalha ha 15 anos na praça do bairro Lourdes, lamenta a discrepância no andamento das obras. Na região dele, onde fica a Vila Bernadete, sete pessoas morreram soterradas na última sexta-feira (24), e até hoje moradores aguardam pela manutenção do local.
“Zona sul é diferente, né? Onde morreram pessoas lá, pergunta se passaram? Aqui é rápido. O homem mora aí, né? Zona sul. O pessoal tem que trabalhar e faz pressão. Eu não acho justo. Tem que ter direitos iguais. Infelizmente não é. Não adianta pensar, porque não é. Você vê a rapidez que eles arrumaram aqui, e lá? Não era para ter arrumado pelo menos uma limpeza? O Kalil diz que vai reconstruir tudo, eu quero ver”, afirmou.
Moradora da região Norte da capital e funcionária do bairro Lourdes, uma mulher, que pediu para não ser identificada, se assustou ao perceber a celeridade das obras. “A Prudente de Morais está quase pronta também. O asfalto está aí. Nos bairros periféricos a gente fica meses e até anos sem obras. Isso é muito triste, para mim como contribuinte e moradora de Belo Horizonte. O pessoal está chorando perda de carro, mas na periferia, perto de mim, caiu uma casa. Ou seja, a pessoa perdeu tudo o que tinha e até mesmo a dignidade. E vai saber se vai recuperar. A área Centro-Sul é sempre privilegiada, até mesmo na questão de recurso. Raposos estava aí e ninguém veio, a Prudente alagou e o presidente passou de avião. É uma constatação muito difícil", disse.
A reportagem questionou a Prefeitura de Belo Horizonte sobre o andamento acelerado das obras em uma única região e aguarda um posicionamento do Executivo.
Mín. 13° Máx. 25°