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Efeito dominó: escolas fechadas tiram a renda de muita gente

Dos muros para fora, pipoqueiros, baleiros, papelarias, lojas de uniforme, museus e vários outros setores da cadeia sofrem fortes impactos

02/11/2020 às 08h25
Por: Redação Fonte: O Tempo
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Em condições normais – quer dizer, do velho normal –, a essa altura do ano os pais já estariam fazendo orçamento de material escolar, fechando contrato com transporte especializado e programando as festinhas de encerramento de ano. Mas, no novo normal, a produtora de eventos Cláudia Perdigão já sabe que não gastará com mochila nova nem vai precisar repor lápis e cadernos, que mal foram usados em 2020. “Está tudo novo, então eu vou economizar em 2021. Mas, para quem depende desse consumo, as coisas vão ficar difíceis”, comenta Cláudia, mãe da Duda, de 12 anos. Na verdade, tem muita gente que está fora da escola, mas depende inteiramente dela para sobreviver. É a tia da pipoca, o moço da bala, a papelaria, a loja de uniforme e até mesmo os museus, que tiravam pelo menos metade da bilheteria das excursões escolares.

“Eu faço transporte escolar há 30 anos e nunca imaginei viver uma crise assim. Os efeitos vão além dos muros da escola, pois a vida de muita gente depende das aulas, pois é desse movimento que tiram o seu sustento. O que vai ser feito dessa classe que depende das escolas para sobreviver? Olha, eu não sei. E estou com bastante medo do que vem pela frente”, desabafa a motorista de van Karime Fernandes.


Há oito meses sem ter como prestar serviços, ela conta com a parceria de alguns pais, que mantiveram o pagamento de pelo menos 50% do valor contratado. “Cerca de 20% continuaram me pagando. Por enquanto, tenho conseguido manter minhas contas, a prestação do carro novo que eu tinha acabado de comprar para dar mais conforto às crianças. Mas eu sou uma privilegiada, tem muitos colegas que estão tendo seus veículos tomados pelos bancos. É muita gente passando necessidade. E o pior é que não temos perspectiva de retorno das aulas e, mesmo quando elas voltarem, provavelmente não poderemos mais transportar o mesmo número de crianças por medidas de distanciamento. E como é que vai ser?”, questiona Karime. 

O professor de economia do Ibmec, Felipe Leroy, afirma que o fechamento das escolas tem um efeito cascata gigantesco. “Se para a escola, os pais e os alunos não se deslocam e não consomem combustível. A lanchonete não tem como funcionar. Não se vendem uniformes, cadernos, lápis, borracha, caneta, sapato. Ou seja, é um impacto absurdo em toda a matriz produtiva, que terá reflexos graves no aumento das taxas de desemprego e acesso à renda”, avalia o economista.

A dura realidade já bateu na porta da pipoqueira Idelze de Sousa, que trabalha há 15 anos na porta do Colégio Padre Eustáquio, que será assumido pelo Marista a partir de 2021. “Eu jamais imaginei passar por isso, pois o ponto é muito bom, tem movimento do colégio, do grupo, da igreja. Mas dependemos totalmente da escola para ter renda. Eu até tentei levar o carrinho de pipoca para outro lugar, mas não tive retorno”, conta Idelze, que trabalha com a cunhada.

Desde março, quando as escolas foram fechadas por causa da pandemia, ela conta com a ajuda de um grupo de pais. “Uma mãe me procurou e me pediu para arrumar o telefone do baleiro e da senhora que vende docinhos na porta da escola. Desde então, um grupo vem nos doando uma cesta básica por mês. A situação vai ficando difícil para todos, mas eu sou muito grata pelo apoio que eles me deram”, conta a pipoqueira. 
Ela também recebe o auxílio emergencial do governo e, enquanto as aulas não voltam, tem procurado outras fontes de renda. “Eu tenho oferecido faxinas, mas custo a conseguir algo”, afirma Idelze, que, apesar do aperto financeiro, agradece a Deus pela saúde. “Estou muito ansiosa para as escolas reabrirem”, diz. 

Na avaliação da economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL), Ana Paula Bastos, o auxílio emergencial tem sido a salvação para muita gente. “O problema é que esse valor foi reduzido pelo governo e vai afetar a vida dessas pessoas, que vão ter que se reinventar e procurar novas formas de renda”, comenta. Em setembro, o governo federal prorrogou o auxílio emergencial até dezembro, mas reduziu o valor da parcela e R$ 600 para R$ 300. “Quando um setor é fechado, toda a cadeia sente o impacto”, destaca a economista da CDL.

Museus sofrem sem excursões


Até os museus, que não têm relação direta com as escolas e já foram autorizados a reabrir, estão sofrendo os impactos. Acostumado a receber cerca de cem crianças por dia em grupos escolares, o Museu dos Brinquedos é um exemplo claro desses reflexos. O espaço, que funciona há 19 anos, voltou a abrir em setembro, com esquema de agendamento e rigorosas medidas de segurança. Cerca de 50% da nossa bilheteria vem das visitas das escolas”, explica a diretora Tatiana Azevedo. 
Com sete meses fechado, as demissões foram inevitáveis. “Tentamos segurar ao máximo, mas não deu. A equipe tinha 12 pessoas de carteira assina mais oito estagiários. Agora sou eu e um estagiário fixo. Para receber o público, nós contratamos freelancers, de acordo com a demanda”, explica Tatiana.

O Museu dos Brinquedos está funcionando aos sábados, domingos e feriados. Mas recebe pequenos grupos com horários agendados. As regras e os preços estão disponíveis no site museudosbrinquedos.org.br. 

Sem aulas presenciais, uniformes ficam encalhados nas prateleiras 

Se não tem aula presencial, também não tem venda de uniformes. Quem faz esse produto está com estoques altíssimos. “Normalmente, numa época dessas, era para eu ter 6.000 peças estocadas, Mas estou com 20 mil. Estou superabastecida não só com as peças prontas, mas também com as matérias-primas que eu já tinha comprado para produzir. O pior é que, enquanto as aulas não voltarem, não tem nenhuma perspectiva para voltar a vender”, conta a empresária Margareth Hoffman.


No ramo há quase 20 anos, ela atendia 45 escolas. “Uma delas fechou, e eu fiquei com praticamente mil peças aqui. E agora, o que eu vou fazer com elas? O jeito vai ser doar”, afirma a empresária. O grupo, que tinha 42 funcionários, agora está com no máximo 15. “Usamos todas as medidas oferecidas pelo governo para suspensão de contrato, redução de jornada e financiamentos. Mas, com as escolas fechadas desde março, não foi possível evitar as demissões”, justifica.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população desocupada atingiu 13,8 milhões de pessoas no trimestre móvel encerrado no mês de agosto. “O reflexo na taxa de desemprego será enorme, obrigando os setores a se reinventarem”, destaca a economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos. 


Enquanto as aulas não voltam, Margareth está buscando outros caminhos para manter o negócio. Assim como os fabricantes de uniformes escolares, as papelarias também viram as vendas despencarem com a pandemia. “Como elas também têm estoques, acabam não repondo muito. Eu vi uma oportunidade e investi na compra de alguns itens para vender em uma das minhas lojas”, conta Margareth. 

Papelarias

 As papelarias de Belo Horizonte já tiveram autorização para reabrir. Mesmo assim, segundo o vice-presidente da CDL, Marco Antônio Gaspar, com as escolas fechadas, o setor ainda está sofrendo os impactos.

“As papelarias de bairro ainda estão tendo alguma demanda, pois quem está trabalhando em home office acaba comprando algum item perto de casa mesmo. Mas as lojas que ficam em centros comerciais e shoppings ainda estão muito impactadas”, avalia Gaspar, que é dono da Brasilusa. 

Sem perspectiva de retorno das aulas presenciais, muitas papelarias fecharam as portas. Além dos reflexos, o setor já se prepara para os desafios que virão. “Os estoques estão muito altos. Por isso, as lojas não estão repondo mercadoria. Se as aulas voltam de repente, sem tempo para as papelarias planejarem, podemos ver uma corrida para compra e pode até mesmo faltar algum produto. Aí é a lei da oferta e da procura, ou seja, os preços podem subir”, avalia Gaspar. 

Na avaliação do empresário, para as papelarias que têm condições, essa pode ser uma boa oportunidade de fazer negócio. “A demanda está baixa. Então, quem puder fazer estoques agora vai conseguir preços mais baixos junto aos fornecedores. É um investimento”, analisa o vice-presidente da CDL.

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