Por mais de duas horas, a Polícia Civil realizou, na manhã desta quarta-feira (9), a reconstituição do acidente com um ônibus que caiu de um viaduto na BR-381, altura de João Monlevade, na região Central de Minas Gerais. Com a queda, 19 pessoas morreram, e dez sobreviventes ainda estão internados.
A ação começou por volta das 10h30, pouco depois que a equipe de policiais civis, entre eles o delegado responsável pelo caso, Paulo Tavares, chegou ao ponto da tragédia, conhecido como Ponte Torta. Um ônibus de viagem foi usado na simulação.
A reconstituição começou no entroncamento da BR-381 com BR-262, cerca de 200 metros antes da ponte. "O passo a passo da simulação, os detalhamentos não serão divulgados. Primeiro que é uma questão técnica da perícia e, segundo que é sigiloso e não será passado no momento. Eu classifico que seja uma das perícias mais importantes de todo o processo. Os próximos passos são algumas oitivas e diligências que vamos fazer aqui e fora do Estado. Formalmente, 14 pessoas foram ouvidas e, informalmente, sete", explicou o delegado Paulo Tavares.
Motorista
O motorista, que conseguiu pular do veículo e fugir após o acidente, participou da reconstituição. Ele chegou ao local acompanhado da advogada e aguardou por cerca de dez minutos dentro de uma van. Em seguida, entrou no ônibus para o início da simulação. O veículo era conduzido por outra pessoa.
Acompanhado dos policiais, ele desceu ao menos três vezes do veículo permanecendo de cabeça baixa a maior parte do tempo. "A participação do motorista foi muito importante. Ele continua abalado com o que aconteceu, como qualquer ser normal ficaria. Somos mortais, somos falíveis", afirmou o delegado.
O motorista, em uma das descidas, quando o veículo se aproximava do local da queda, ficou abalado e precisou sentar no acostamento da pista enquanto passava as informações à equipe policial. Durante os trabalhos, a advogada dele, Carolina Zerbini, fez um pronunciamento evitando responder perguntas da imprensa.
"A título de esclarecimento, o motorista tem mais de 20 anos de profissão, fazia essa rota há mais tempo. Ele fugiu por medo, está muito consternado, abalado. Vamos esperar a conclusão da perícia. Estamos na fase de acompanhamento das investigações. Ele está à disposição da polícia. Se o delegado autorizar, ele volta para a cidade dele ou fica na região mesmo", explicou a advogada.
Perícia tenta apurar velocidade que veículo estava no momento do acidente
Por três vezes, o ônibus andou para frente e para trás no momento em que a perícia tentava levantar a velocidade aproximada que o ônibus acidentado estaria no dia do acidente.
"Esse trabalho foi, basicamente, fundamentado no depoimento do motorista. Nós vamos fazer outros grandes levantamentos do funcionamento do veículo, vamos analisar o motor, o sistema de freio para depois ter uma informação mais precisa do resultado. Hoje basicamente nós avaliamos a dinâmica do evento se estava coerente com o depoimento do motorista, e estava", disse a chefe de seção da Polícia Civil de João Monlevade, Karina Martins.
Segundo ela, toda a pista e o deslocamento foram medidos. Também foram realizados vídeos e cálculos. Ainda conforme Karina, ainda não é possível afirmar se houve falha mecânica ou humana. Quando questionada pela reportagem de O TEMPO se foi possível ter noção da velocidade do ônibus no momento do acidente, ela reforçou que não poderia falar.
"Seria uma velocidade aproximada, nós fizemos com o veículo virado de frente para gente ter uma segurança maior no processo. Mas essa é uma medida aproximada que vamos comparar com alguns vídeos que foram enviados para nós. No momento não é possível falar qual seria essa velocidade. Ela será calculada", finalizou.
Nenhum representante da empresa responsável pelo ônibus que caiu compareceu à reconstituição.
Efetivo
Participaram da simulação dois delegados, três peritos, três investigadores e um escrivão. Além do efetivo da Polícia Civil, uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), com oito policiais, apoiou com o fechamento da rodovia - cinco quilômetros antes e cinco depois da ponte. A PRF não informou o tamanho do congestionamento, e o trânsito começou a ser liberado por volta das 13h10.
Curiosos
Enquanto a constituição era realizada, curiosos se aglomeravam em cima de outro viaduto para acompanhamento dos trabalhos.
O acidente
A queda do ônibus aconteceu na sexta-feira (4). Com 48 passageiros, o veículo saiu de Mata Grande, em Alagoas, no dia anterior, e tinha como destino São Paulo.
Em depoimento, o motorista disse à policial que o ônibus perdeu os freios. Ele e alguns passageiros conseguiram pular antes da queda.
Até essa terça-feira (7), cinco pessoas seguiam internadas no Hospital Margarida, em João Monlevade, e três em Belo Horizonte, entre elas duas crianças.
Os corpos foram transferidos para o Instituto Médico Legal (IML) da capital mineira e, na segunda-feira (7), levados, no avião Força Área Brasileira (FAB), para cidades de origem das vítimas.
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