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Após repercussão, UFOP concede título de mestre a bióloga que perdeu prazo no pós-parto

Bióloga comemorou a conquista do título acadêmico em publicação no Instagram

09/06/2022 às 16h41 Atualizada em 09/06/2022 às 17h00
Por: Redação Fonte: Mega Cidade com BHAZ
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Bióloga comemorou a conquista do título acadêmico em publicação no Instagram (Reprodução/@ambarsol/Instagram)
Bióloga comemorou a conquista do título acadêmico em publicação no Instagram (Reprodução/@ambarsol/Instagram)

Depois de ter o depoimento compartilhado e viralizado nas redes, a bióloga e pesquisadora Ambar Soldevila Cordoba, de 29 anos, finalmente conseguiu o título de mestre, anteriormente, negado pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). A instituição recuou após a repercussão do relato da jovem, no qual contava que perdeu o prazo de submissão do artigo porque deu à luz poucos dias após a apresentação na banca.

Segundo depoimento da pesquisadora, ela engravidou no último ano do mestrado e defendeu a dissertação pouco antes de o filho, Caetano, nascer. Ambar entrou com um pedido de licença maternidade, pois o parto estava batendo à porta, mas a solicitação foi negada pelo programa de pós-graduação. Depois de 19 dias da apresentação, o bebê nasceu.

Mesmo com a aprovação da banca, novos obstáculos surgiram. Além do estresse natural dos momentos pós-parto, ela lidou com noites maldormidas, preocupada com o mestrado, enquanto “mal conseguia tomar banho” e só tinha em mente se adaptar à rotina como mãe.

“Eu estava passando por um dos momentos mais desafiadores da minha vida, não tive rede de apoio, eu e meu companheiro estávamos com dificuldades financeiras, com uma dívida enorme”, narra em um dos trechos do texto que se espalhou.

À reportagem, a pesquisadora conta que se sente aliviada com a decisão atual. Embora essa não tenha sido a intenção, ela acredita que o colegiado se sentiu pressionado com a repercussão do relato.

“O meu objetivo era conseguir meu título de volta, porque trabalhei muito duro por ele. Recebi apoio de uma professora de Direito, que faz parte da Ouvidoria Feminina da universidade, e estávamos bem esperançosas. Acho que eles se sentiram prejudicados pela repercussão, ainda mais porque as redes sociais podem ser cruéis”, conta à reportagem.

A universidade disse que se solidariza com as discussões sobre a necessidade de que o campo da pesquisa tenha maior sensibilidade para mulheres pesquisadoras no país.

‘Prazo improrrogável’

 

Antes mesmo de ter o Caetano, Ambar conta que entrou em contato com o programa de mestrado da UFOP para reivindicar um prazo maior para entregar a dissertação. Apesar dos esforços, a resposta foi “muito clara”: ela não conseguiria uma licença maternidade e teria de entregar o trabalho no período estipulado.

“No manual do aluno, disponível na página do PPG [Programa de Pós-Graduação], está em caixa alta ‘PRAZO IMPRORROGÁVEL’ para a entrega da versão definitiva da dissertação e submissão do artigo. Como regras do PPG, se você não entrega sua versão definitiva e a submissão do artigo, você não tem direito ao título de mestre”, explicou no texto que viralizou.

Em função dos variados desafios atrelados à maternidade, a jovem não foi capaz de cumprir o prazo inicial e recebeu um e-mail do PPG, afirmando que ela iria perder o título de mestre. O caso dela, então, seria enviado ao colegiado da UFOP.

“O motivo MATERNIDADE não é suficiente. Alegam que fui negligente, mas negligência foi a universidade não ter me dado amparo no momento em que eu mais precisei, invisibilizando minha maternidade e cobrando de uma aluna mãe, muito além do que é cobrado dos demais alunos”.

 
 
 
 
 
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A jovem destaca que seu direito ao resguardo pós-parto foi “completamente ignorado” e sua maternidade, silenciada. Ela apresentou uma justificativa no mesmo dia, reforçando o pedido pela extensão do prazo, que foi novamente negado. Logo em seguida, o colegiado investigou qual resolução se aplica ao caso e consultou o jurídico da UFOP.

“Enquanto isso, corri atrás e entreguei a versão definitiva da dissertação e submeti o artigo, entreguei tudo antes da reunião do colegiado que julgaria sobre meu título. Mesmo fora do prazo, entreguei o que faltava. Mas, mesmo assim, me foi negado o direito ao título”, revela o desabafo.

Direitos da “mulher-mãe-acadêmica”

 

A bióloga foi informada de que seu caso era, teoricamente, amparado pela nova resolução CEPE 8039 no próprio colegiado da universidade. De acordo com o relato, no entanto, a lei não protege mulheres que dão à luz após a defesa da dissertação, já que o período de licença maternidade “não computa no prazo máximo para a defesa e deveria ser no prazo máximo para obtenção do grau acadêmico”.

Além de recorrer à decisão, ela fez um apelo para que a jornada dupla de mulheres pesquisadoras e mães seja reconhecida como digna de respeito no país. “Não cheguei aqui com toda essa força sozinha, por trás dessa história existem muitas mulheres e mães que me deram apoio pra enfrentar tudo isso. Obrigada por me darem a mão. Sozinhas não temos força, mas unidas e juntas somos muito mais fortes!”, escreveu.

UFOP concede título de mestre

 

Em nota oficial no último dia 31, a UFOP declarou que o caso já vinha sendo acompanhado pela coordenação do programa de pós-graduação envolvido e pelas instâncias superiores há dois meses, quando a questão foi julgada. “Contudo, esse caso específico revela os desafios pelos quais muitas mulheres, na UFOP e em todas as universidades brasileiras, passam diariamente”, pontuou a universidade mineira.

Conforme a UFOP, os prazos estabelecidos para a conclusão das pesquisas de mestrado e doutorado são estabelecidos nacionalmente, o que impede as instituições de definir prazos ou de “oferecer condições diferenciadas para estudantes devido a fatores ou circunstâncias que possam interferir em seus processos de formação”.

A universidade disse que se solidariza com as discussões sobre a necessidade de que o campo da pesquisa tenha maior sensibilidade para mulheres pesquisadoras no país.

Por meio das redes sociais, Ambar compartilhou a alegria de conquistar o título acadêmico. Ela agradeceu a todos os que torceram e compartilharam a história, mas pontua que ainda existe um caminho longo pela frente.

“Essa foi a primeira batalha, ainda temos que mudar as legislações dentro das universidades. Acredito que em breve teremos resultados positivos, existem muitas mulheres mães se movimentando dentro da universidade, e falando sobre maternidade e parentalidade”, escreveu. 

“Espero muito que outras mulheres possam ter seus direitos de maternidade garantidos e que isso não seja um estorvo em suas vidas, pq de dificuldade já basta todos os desafios do puerpério. Agora vou comemorar com minha família e ser feliz por essa grande conquista na minha vida”, finalizou.

 
 
 
 
 
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