Minas Gerais teve cinco mortes por arma de fogo a cada dia em 2018

Mais de cinco pessoas morreram assassinadas por arma de fogo em Minas diariamente entre janeiro e novembro do ano passado. O total de vítimas foi de 1.815 no período, conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Enquanto isso, o número de concessões de registros de armas de fogo aumentou 14% no ano passado em Minas na comparação com 2017 – subiu de 5.342 para 6.123. Os dados foram repassados pela Polícia Federal.

Para a coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, Natália Pollachio, o aumento da quantidade de pessoas que pediram a concessão de arma tem relação com uma falsa ilusão de segurança. “O aumento da demanda tem relação com a proliferação e a circulação em grupos e redes sociais de que a pessoa armada consegue se defender”, considera. No entanto, a coordenadora acredita que ocorre exatamente o oposto. “Até para um policial que está de folga e tem a experiência com uma arma existe o efeito surpresa”, acrescenta. Natália avalia que a presença da arma em uma casa pode, inclusive, piorar a natureza de um crime. “Um roubo pode passar a ser um latrocínio (roubo seguido de morte)”, explica.

Queda de entrega. O “Atlas da Violência 2018”, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que a porcentagem de homicídios cometidos com arma de fogo na década de 80 era de cerca de 40%. O número teve alta até 2003 e ficou estável até 2016 – chegando a 71,1% dos homicídios do país.

Apesar de o estudo recomendar a retirada de armas da sociedade, o índice de pessoas que entregam armas ao poder público está em queda. Em 2015, 8.883 foram entregues em postos da Polícia Federal, espalhados pelo país contra 2.749 no último ano, conforme a corporação.

Em dez anos. Os homicídios por arma de fogo no país passaram de 34.921 em 2006 para 44.475 em 2016, aumento de 27,4%. Em Minas, a variação no período foi de 8%, subindo de 3.075 para 3.321.

“Não acho isso problemático”

O professor e especialista em segurança pública Jorge Tassi defende que o cidadão ter a posse da arma não é problemático: “Sou um desarmamentista e não vejo ganho muito grande em segurança, mas, em algumas situações, a pessoa necessita de uma arma (como nas áreas rurais). Então, se a pessoa passa pela avaliação da Polícia Federal e possui um espaço seguro, não vejo problema”.

Tendência é de restrição, diz procurador

Especialistas explicam que a tendência atual no mundo é de restrição ao acesso à arma de fogo e que é raro encontrar um exemplo de nação que esteja afrouxando as leis.

No Japão, por exemplo, o processo para obter permissão para comprar arma inclui aulas de tiro, teste escrito e prático, avaliação psiquiátrica, entrevista com a polícia e inspeção do local onde a arma será armazenada. No Reino Unido, a posse só é permitida para caçadores e membros de clubes de tiro.

Já nos Estados Unidos, que tem a maior taxa de armas por habitante do mundo, a aquisição do artigo é simples. “Isso tem gerado eventos em que indivíduos portadores de transtornos mentais cometem chacinas e genocídios”, afirma o procurador de Justiça e ex-secretário de Segurança Pública de Minas Rômulo Ferraz. Ele considera razoável a possibilidade de facilitar a posse de arma nas propriedades rurais para situações de defesa.

Por Aline Diniz e Rafaela Mansur - OTempo