Há quase um mês do rompimento da barragem da Vale na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ocorrido no dia 25 de janeiro deste ano, que até o momento provocou a morte de 166 pessoas e deixou outros 144 desaparecidos, os comerciantes da localidade e de cidades vizinhas ainda sentem os efeitos da tragédia. Já na entrada do município é possível perceber que muitas lojas retardaram o início da abertura de suas portas no dia a dia. Os vendedores ambulantes também amargam queda nas vendas. Eles contam que após o desastre, algumas lojas ficaram quatro dias sem abrir em respeito às vítimas e pelo sentimento de luto que toma conta de Brumadinho.
Morador de Brumadinho por sete anos, Jovelino Engracio de Oliveira Filho, de 34 anos, comercializa frutas, milho e outros produtos de sua horta e ressalta que o rompimento atrapalhou as vendas dele em 40%. “Os lojistas também reclamam que têm vendido pouco. O movimento está muito fraco. Houve queda no número de turistas e de sitiantes que vinham passar os fins de semana aqui. Bom não está, ficou ruim mesmo. Eu mesmo fiquei uma semana sem vir trabalhar por respeito às vítimas. A cidade está bem triste e todos ainda estão de luto”.
Ele comenta que como em toda cidade pequena, todos se conhecem. “Tenho muitos amigos que morreram e alguns estão desaparecidos ainda. Além disso, ficamos preocupados com outras consequências, como a contaminação da água. Lá em casa, por exemplo, todos se vacinaram. Fica a tristeza e um pouco de revolta diante disso tudo, mas não podemos desanimar. Temos filho para criar, não é?”.
Contraponto
Por outro lado, em Mário Campos, município limítrofe com Brumadinho, o vendedor de frutas, sucos, pastéis e conservas, Jairo Eustáquio, de 50, conta que houve um aumento em suas vendas. Na opinião dele, a procura cresceu devido a várias empresas que estão chegando na região para prestar serviço para a Vale. “Além disso, muitos curiosos estão vindo para visitar o local. E teve a reabertura de Inhotim, que ficou um tempo fechado para visitas. Com isso houve bastante movimento”.
Ele afirma que duas primas da esposa dele, além de vários colegas e clientes estão soterrados. “A esperança é de que ao menos resgatem os corpos para fazermos um enterro digno. Infelizmente agora é o que resta. Muitos já estão buscando seus direitos. A vida não vai voltar mesmo. Fazer o quê?”, desabafa. De acordo com ele, já passou da hora dos engenheiros e outros empregados da Vale pensarem mais no trabalho deles. “E essa aí não será a última barragem a romper, tem várias outras aí para estourarem também”.
Jairo Eustáquio não esconde o receio de contaminação da água do Rio Paraopeba. “Aliás, praticamente todos os peixes já morreram e falam que não se pode nem tocar na água. Eu usava a água do rio para apagar a poeira aqui em frente à minha venda. Agora não tem nem como mexer nela. Atrapalhou tudo. Para a Vale a vida não está valendo muito não”.
A Prefeitura de Brumadinho foi procurada para comentar os reflexos do rompimento da barragem na economia da cidade, o que deve ser feito para reconstruir as áreas destruídas e sobre apoio do município aos atingidos. No entanto, a administração municipal não se pronunciou.
Mín. 14° Máx. 23°