A escalada do número de casos de dengue – que alcançou a marca de 121.699 notificações em todo o Estado, um aumento de 649% na comparação com os quatro primeiros meses de 2018 – já afeta o funcionamento de unidades de saúde da rede privada em Belo Horizonte e região, forçando pacientes a peregrinar entre vários hospitais até conseguirem atendimento. No Hospital Felício Rocho, localizado no bairro Barro Preto, na região Centro-Sul da capital, o acolhimento de pessoas com suspeita da doença está suspenso por tempo indeterminado, e só são recebidos casos de urgência e emergência relativos à enfermidade. A instituição confirmou o problema e informou, em nota, que a decisão “está diretamente relacionada à epidemia de dengue”. Segundo um funcionário, quem chega à unidade é barrado na triagem e orientado a procurar ajuda em outros hospitais.
Com sintomas clássicos da doença, um designer gráfico, de 41 anos, percorreu nesta semana três hospitais privados na capital e voltou para casa sem atendimento. Ele relata que, no Hospital Vera Cruz, no Barro Preto, a média de tempo para passar pela triagem era de cinco horas. A solução encontrada foi recorrer a uma unidade da Unimed em Contagem, na região metropolitana. “O pronto-socorro também estava lotado. Então, sugeriram que eu agendasse uma consulta. Só assim consegui ser atendido”, conta ele, que preferiu não ser identificado.
Na Rede MaterDei, com unidades na capital e em Betim, na região metropolitana, as salas de espera também têm ficado lotadas. A instituição atribui o problema aos casos suspeitos de dengue e de doenças respiratórias e afirma que reforçou a equipe médica para se adequar à demanda.
A Unimed informou à reportagem em nota que, em função da epidemia, já ampliou o atendimento nos centros de promoção de saúde de Horizonte, Betim e Contagem. O reforço está sendo feito para evitar situações como a da dona de casa Marília Gomes, 34, que relata ter ficado mais de cinco horas em uma sala de espera, na segunda-feira, para a filha ser atendida no pronto-atendimento do hospital de Contagem. “Estava muito cheio, e o pessoal não dava conta de atender. “O sentimento é terrível”, lamenta.
A cooperativa reforça que, além dos centros de promoção da saúde, “os hospitais da rede estão preparados para o atendimento dos casos mais graves de dengue e arboviroses”.
Problema exige que municípios ampliem o atendimento
A rede pública de saúde também enfrenta superlotação em suas unidades por causa da dengue, o que força os municípios a se adequarem. Em BH, que tem 13.713 casos prováveis da doença, a solução foi ampliar dias e horários de atendimento em alguns centros de saúde. Neste sábado, quatro postos das regiões Nordeste, Pampulha, Venda Nova e Barreiro serão abertos das 8h às 17h para acolher pessoas com sintomas da doença.
A fim de evitar a superlotação desnecessária de hospitais e unidades de pronto-atendimento, a Secretaria Municipal de Saúde da capital orienta que a população vá aos postos de saúde dos bairros para confirmar o diagnóstico de dengue.
Segundo o órgão, “todos os 152 centros de saúde da capital estão preparados e contam com equipe capacitada” para acolher os pacientes. Eles funcionam de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h.
De acordo com a pasta, nos dias e nos horários em que os postos de saúde estiverem fechados, a busca por assistência deve ser feita nas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), que funcionam 24 horas.
Em Contagem, na região metropolitana, 30 unidades de apoio foram criadas para atender pacientes com dengue. A cidade já notificou 8.444 casos de suspeita da doença, quase sete vezes mais do que no mesmo período do ano passado, quando houve 1.274 registros. Ao lado da UPA JK, a maior do município, foi montada uma tenda com capacidade para até 200 atendimentos diários.
No país, casos cresceram 300% em relação a 2018
São Paulo. O número de casos de dengue no Brasil subiu 29% em duas semanas, segundo o Ministério da Saúde. Até 30 de março, foram contabilizadas 322.199 infecções, com 86 mortes. Em 16 de março, eram 229.064. Em relação ao ano passado, a elevação é bastante expressiva: 303%. No mesmo período de 2018, haviam sido registrados 51 óbitos.
O maior número de casos da doença está na região Sudeste, com 66,3% do total. Em seguida, vêm Centro-Oeste (17,4%), Nordeste (7,5%), Norte ( 5,4 %) e Sul (3,4%). A maior relação de casos por habitantes foi registrada o Tocantins (687,4 casos por 100 mil habitantes). Minas Gerais, o quarto Estado dessa lista, tem 387,8 casos a cada 100 mil habitantes).
Situação em Minas
Boletim
Neste ano, dos 853 municípios mineiros, 548 já registraram casos de dengue, segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde, na segunda-feira.
Incidência
Conforme o relatório, 99 municípios mineiros têm alta incidência da doença. A cidade com o maior número de casos é Tabuleiro, na Zona da Mata. Com apenas 3.792 moradores, a cidade tem 115 notificações.
Orientação
Combate. O infectologista Antonio Toledo alerta que repelentes naturais não têm a eficácia cientificamente comprovada para repelir o Aedes aegypti: “As pessoas devem usar itens à base de Icaritin, Deet ou IR3535”.
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