Passados três meses da tragédia da Vale em Brumadinho, na região metropolitana, um corpo em estado completo – sem separação de nenhum membro e com materiais necessários de identificação – foi encontrado sob a lama pelo Corpo de Bombeiros. O resgate foi no domingo de Páscoa, comemorado em 21 de abril, e a identificação da vítima pelo Instituto Médico-Legal (IML), no dia seguinte. A informação foi confirmada nesta quinta-feira (2) pela Polícia Civil.
O caso surpreendeu os legistas, uma vez que, prestes a completar cem dias da tragédia, os corpos ficam cada vez mais deteriorados. Até o momento, 233 vítimas foram identificadas, mas apenas 82 delas estavam intactas. Outras 37 pessoas ainda são consideradas desaparecidas.
Segundo o chefe da seção de tanatologia forense do IML, Ricardo Moreira Araújo, a identificação de, pelo menos, 151 vítimas da tragédia só foi possível por meio dos fragmentos encontrados e não pelos corpos inteiros. “É uma surpresa se considerarmos o momento, mas poderia acontecer”, disse.
O corpo em questão foi resgatado no dia 21 e identificado 24h depois por papiloscopia, que é o método de identificação por meio de digitais, um dos mais difíceis de serem feitos agora que já se passaram muitos dias do fato. As outras técnicas são o reconhecimento por arcada dentária, exames antropológicos e exame de DNA.
Para Ivan Dieb Miziara, presidente da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM) e professor de medicina legal da Universidade de São Paulo (USP), o que pode ter permitido que o corpo fosse encontrado praticamente intacto foi o efeito do solo. “O corpo provavelmente sofreu um processo transformativo chamado ‘saponificação’. Acontece em solos úmidos e argilosos. É como se o corpo virasse um sabão. Fica conservado dentro do próprio solo”, explicou.
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