Minas Gerais tem 488 trechos em rodovias federais não concedidas à iniciativa privada que, em função dos riscos de acidentes, deveriam receber ao menos um equipamento de fiscalização de velocidade. O número de radares necessários para garantir a segurança apenas no Estado, que tem a maior malha rodoviária do Brasil, é quase o dobro dos 265 aparelhos que estão operantes em todo o país. Os dados constam em um levantamento feito pela área técnica do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em abril deste ano. O estudo foi entregue à Justiça Federal e vai na contramão do discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que anunciou a retirada dos radares de rodovias federais para acabar com o que ele chamou de “indústria da multa”.
Ainda segundo o levantamento, em todo o país seriam necessários 4.000 equipamentos de fiscalização de velocidade. Em São Paulo, falta a cobertura de apenas 35 trechos de estradas da União e, no Rio de Janeiro, de 106. Os dados foram entregues para a 5ª Vara Federal em Brasília, no último dia 30, por determinação da Justiça. A juíza Diana Wanderley suspendeu, por meio de liminar, a retirada de radares até que o governo comprovasse que a mudança na política não reduziria a segurança nas estradas. Por isso, o levantamento foi realizado.
Acidentes
O Dnit foi procurado para comentar o estudo e a mudança na política de segurança nas rodovias, mas, até o fechamento desta edição, não havia se pronunciado. Porém, no último relatório de gestão publicado pelo órgão, com dados de 2017, ficou clara a necessidade de radares em rodovias.
O Dnit fez um comparativo entre a quantidade de acidentes ocorridos antes e depois da instalação de cada equipamento de fiscalização de velocidade. Com o resultado de todos os aparelhos em mãos, foi calculada a média. No Brasil, com os radares instalados, houve uma queda de 20%, passando de 44.977 para 35.810 acidentes. Em Minas, a redução das tragédias nas vias federais não concedidas foi ainda maior após as fiscalizações, de 29%, ao passar de 4.779 para 3.390. Ou seja, houve uma redução de 1.389 acidentes.
O trecho mineiro controlado por radar com maior incidência de acidentes registrados está na BR–050, na altura do KM 70,3, em Uberlândia, no Triângulo. Lá, o equipamento foi instalado em junho de 2013. Nos 12 meses que antecederam a implantação foram registradas 91 tragédias. No ano seguinte, foram 80, resultando em uma queda de 12%. (Com agências)
Acidentes deverão ficar mais graves
A eliminação de radares das rodovias federais pode tornar os acidentes mais fatais, avaliam especialistas. “A velocidade influencia na quantidade e na gravidade dos acidentes. Uma colisão a 60 km/h é quatro vezes mais violenta do que uma a 30 km/h. E, a partir do momento em que os limites de velocidade são retirados, é como se tivesse uma liberação para correr”, avalia o presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, David Duarte Lima.
Para o especialista em transporte e trânsito Márcio Aguiar, Minas Gerais vai ser o Estado mais afetado. “Primeiro, que o Estado tem a maior malha rodoviária. Segundo, por ser em uma região montanhosa, com muitas curvas e morros, nossas rodovias já são mais perigosas. Em algumas, não dá para transitar em segurança mesmo”, afirma.
PRF
O porta-voz da Polícia Rodoviária Federal em Minas Gerais, inspetor Aristides Júnior, não quis comentar a retirada dos radares das rodovias. No entanto, ele disse que os 22 equipamentos móveis da corporação continuarão a ser usados.
Riscos
Ainda segundo o inspetor, velocidade incompatível com a via é uma das principais causas de acidentes no Estado.
Sem resposta
Questionamentos. O Dnit não respondeu quantos radares estão em funcionamento em Minas Gerais nem em quais rodovias deveriam ser instalados os 488 equipamentos necessários.
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