Prefeitura de Raposos solicita R$ 20 mi à União para reconstrução após chuvas

Duas semanas após um temporal afetar 70% da cidade de Raposos, na região metropolitana de Belo Horizonte, e deixar 5 mil pessoas desalojadas e outras 667 desabrigadas, o município ainda sofre com as consequência das chuvas. 

Sem uma noite apropriada de sono há muitos dias e com o celular tocando sem parar, o prefeito de Raposos, Serginho da Bota, do PSB, está preocupado com a reconstrução do município, que integra a lista de 196 cidades em situação de emergência por conta das chuvas. 

O chefe do Executivo já enviou ao Ministério do Desenvolvimento Regional toda a documentação necessária para receber ajuda financeira da União.

De acordo com Serginho, foram solicitados R$ 20 milhões ao Governo Federal para acelerar o restabelecimento dos serviços essenciais à população. 

"Nós fizemos o grosso para permitir as pessoas circularem pela cidade. Mas o trânsito ainda está complicado. Tem rua caindo, a ponte só está funcionando uma mão. Segunda-feira (10), nós teremos uma reunião com o governo de Minas para eles avaliarem a nossa documentação. A população está impaciente e nós precisamos resolver os problemas da cidade", explica Serginho.

O prefeito criticou a morosidade em liberar o recurso na esfera federal. “Precisamos o mais rápido possível de recursos para acelerar as obras. A minha expectativa era de o recurso ter chegado na semana passada. O ministro (do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto) nos informou que isso era uma coisa bem rápida de ser feita, mas tem muita burocracia. A cidade precisa do recurso desde o primeiro dia da enchente”.

Também sem previsão estão 667 moradores de Raposos afetados pelas chuvas que foram obrigados a deixar seus lares.

Segundo a Secretária de Desenvolvimento Social, Ana Mota, eles estão vivendo em três escolas municipais que foram transformadas em abrigos.

“As casas ainda estão sendo vistoriadas pela Defesa Civil, que está avaliando se há possibilidade das pessoas voltarem para elas. Muitas delas estão sendo condenadas. Neste momento, essas pessoas têm que permanecer nos abrigos ou fora das suas casas. A gente continua no período de alerta. AS chuvas ainda estão fortes e temos previsão de mais chuva forte. A gente pede que essas pessoas evitem de retornar para essas áreas que foram interditadas pela Defesa Civil”, descreve.

Como as escolas estão sendo utilizadas para armazenar donativos e abrigar as famílias, o calendário escolar será prejudicado e não há uma data para o início das aulas.

“O nosso ano letivo teria que ter iniciado na segunda-feira (3). Mas nós não temos neste momento nenhuma data prevista porque as famílias estão abrigadas nas escolas. E o município não possui outro local (para alojar as famílias). Nem mesmo condições de alugar porque não há oferta de imóveis para serem locados”, alega Mota. 

A secretária conta que a cidade ainda precisa da doação de alimentos e da ajuda de voluntários. “Nós estamos recebendo a solidariedade de pessoas de diversas cidades. Mas ainda estamos precisando de doações. Estamos precisando muito de leite, desinfetante, açúcar e água mineral”.

Comércio

A solidariedade atinge também os donos de estabelecimentos comerciais da cidade.

Apesar de a lama ter invadido os dois depósitos de construção que ele possui e ter tido um prejuízo de R$ 90 mil, Daywison Cunha está vendendo os seus produtos a preço de custo para ajudar a população.

"Eu tive que reabrir a loja na última sexta-feira (31), mesmo ainda bastante suja, para ajudar a população. Estou vendendo os produtos a preço de custo porque teve muita gente que perdeu muita coisa. Hoje, eu abri a loja que foi mais afetada para vender portas, janelas e tintas. Tudo a preço de custo", conta.

Apesar das perdas, Daywison não perdeu as esperanças. "Eu passei por um momento que nunca tinha passado na minha vida. Eu já quebrei três vezes. Dessa vez agora o desastre foi grande, mas não tive tempo de chorar ainda. O tempo de chorar vai vir depois, mas vai vir mais com alegria do que com choro. Estamos reconstruindo com muito prazer. Várias pessoas vieram de Nova Lima para ajudar a limpar as lojas", disse.

Quem também sentir o desejo de ajudar e doar mantimentos, pode levar pessoalmente os donativos para o ponto de apoio montado pela prefeitura na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, localizada em um casarão branco e azul, na rua Elisa de Araújo Gouvea, 20, no Centro.

Emissão de identidade

Com o objetivo de auxiliar os moradores que perderam ou tiveram os documentos danificados durante os temporais, a Polícia Civil de Minas Gerais montou, nesta sexta-feira (7),  um posto itinerante para emitir até 300 identidades gratuitas. A medida também ocorre em outras cidades mineiras afetadas pelas chuvas.

"A Polícia Civil, sensível às consequências danosas das enchentes decorrentes das fortes chuvas que tem assolado toda Minas Gerais, elaborou um projeto que atenderá todas as cidades atingidas pelas chuvas. Para que elas (as pessoas atingidas pelas chuvas) possam dar entradas em benefícios sociais e outras demandas que precisam do documento", explica Thiago Rocha Ferreira, delegado regional de Nova Lima.

Uma das pessoas que enfrentaram a fila para emitir a 2ª via da identidade, Daniel Rodrigues, 26 anos, teve a casa tomada pelas águas no dia 24 de janeiro e perdeu a maioria dos documentos.

"Eu perdi tudo. Vou tirar a nova via da identidade para tentar uma nova oportunidade de emprego pela frente. Eu fiz o cadastro no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e não vou precisar pagar a taxa de R$ 74,23", conta.