Há um mês, no dia 19 de março de 2020, inaugurou-se uma situação até então inimaginável: os belo-horizontinos começaram a se recolher em casa diante da pandemia que já dilacerava milhares de vidas em toda a Europa. E, com o isolamento social, cenas inéditas apareceram nos noticiários e nas redes sociais: em pleno horário de pico, ruas e avenidas vazias. No coração de Belo Horizonte, a praça Sete, que via a movimentação de mais de 400 mil pessoas por dia, teve o tráfego reduzido em até 71%.
Mesmo com o crescente número de infecções e mortes em todas as partes do planeta, inclusive em Minas e na capital, o isolamento, desde o início, tem sido controverso. As informações sobre o aumento de casos não foram suficientes para evitar registros como os ocorridos na orla da lagoa da Pampulha e na praça da Liberdade: aglomerações de pessoas por lazer ou prática de esportes – que só cessaram com o cercamento dos espaços.
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Diante da teimosia de parte da população, a prefeitura precisou agir. Em todo esse período, foram pelo menos 13 decretos que ditaram e alteraram normas e regras. O mais recente, publicado na última sexta-feira (17), tornou obrigatório o uso de máscaras nos espaços públicos. E ainda teve espaço para briga judicial: depois de o prefeito Alexandre Kalil (PSD) ter proibido a entrada na capital de ônibus de cidades do interior que afrouxaram o isolamento social, o Ministério Público entrou na história e barrou a medida.
Os comércios não essenciais, como salões de beleza, lojas de roupas e shoppings, também passaram a ter normas mais rígidas. Agora, quem desobedecer à medida e resolver abrir pode ter o alvará cassado. E sobrou até para uma grande loja de departamentos, fechada por fiscais na rua São Paulo, na região central, por funcionar irregularmente.
Sem data para acabar
Com um isolamento na casa de 55%, conforme o infectologista Carlos Starling, não há nenhuma perspectiva sobre quando as medidas começarão a ser flexibilizadas. “Qualquer data que seja passada tem que ser baseada em números, o que não temos ainda. Estamos discutindo alternativas e formas progressivas de ajustes no isolamento, como o uso das máscaras. Mas qualquer flexibilização será feita de forma científica”, explica o especialista.
Medidas evitaram mortes
Para o infectologista Carlos Starling, que é membro do comitê de enfrentamento do coronavírus criado pela prefeitura, os números mostram o sucesso do isolamento social até aqui: foram mais de 200 mortes evitadas, além de 3.500 casos da doença a menos.
“É uma estimativa que tem como referência o que havia se projetado para uma cidade do porte de Belo Horizonte. Não estamos vivendo o que São Paulo vive, onde os serviços de saúde já começam a mostrar um colapso”, compara.
O especialista alerta que não é o momento de relaxar. Segundo o comitê, o pico de casos deve ocorrer nas primeiras semanas de maio, e previsões da UFMG apontam que, se as pessoas retomarem a rotina, pode haver até 600 mil contaminados e 30 mil com necessidade de leitos – em toda a rede SUS da capital, há pouco mais de 6.000 leitos e, com as unidades particulares, o número sobe para 10,5 mil.
Finais felizes
Mesmo com as incertezas causadas pela pandemia, finais felizes trazem perspectivas positivas. É o caso de quem conseguiu se curar da doença. Depois de ter sido infectado pelo coronavírus em uma confraternização em Belo Horizonte, Flávio Palestino venceu os 31 dias de confinamento e as angústias causadas pelo isolamento. Apesar de ter perdido o momento do nascimento do filho, ele comemora a recuperação.
“Meu filho nasceu no início do mês, e só nessa semana consegui pegá-lo no colo. Tive que me afastar e ficar isolado até ter um exame negativo. Como minha esposa não foi à festa, ela não teve a doença”, relembra.
A doença se disseminou entre figuras públicas, como a vereadora Bella Gonçalves (PSOL) – na Câmara Municipal, outros seis parlamentares testaram positivo para o coronavírus. “É preciso manter o isolamento rígido, mas precisamos avançar nas medidas de proteção às comunidades das vilas e das favelas”, ressalta.
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