O transplante de rim de Flávia Schayer Dias, 48, para o marido dela, Cristiano Mauro Assis Gomes, 47, na manhã de ontem, devolveu a ele a esperança de dias melhores, após ter sofrido grave intoxicação pela substância dietilenoglicol, presente na cerveja Belorizontina, da fabricante Backer. Mas, para muitos pacientes à espera de um órgão no Brasil, o cenário não é nada otimista. A doação de órgãos e tecidos enfrenta uma crise em função da pandemia do novo coronavírus.
Dados do Ministério da Saúde apontam queda de 37% no número de transplantes – incluídas córneas e medula óssea – entre janeiro e julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2019. Em Minas Gerais, a redução até agosto chega a 34,1%.
O cenário preocupa o diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado. Com uma fila de pacientes à espera de órgãos no Estado que já chega a mais de 4.500 pessoas, conforme dados do início de setembro, o médico explica que Minas Gerais ainda sofre os impactos da crise sanitária.
"Durante a pandemia, todo doador contaminado ou que teve contato com alguém que contraiu o coronavírus tem que ser excluído. Além disso, durante a quarentena, o número de acidentes e traumas caiu cerca de 45%, o que também provocou redução do número de doadores”, explica Cançado.
Resistência
Segundo o médico, outro problema observado durante a pandemia foi o aumento do número de famílias que, após a morte de um parente, se recusam a ceder os órgãos do ente querido. Antes do isolamento social, cerca de 30% negavam autorização, taxa que subiu para 40% durante a crise sanitária. Para se ter uma ideia de como o problema impacta a realização de transplantes, Cançado explica que em países como a Espanha o índice de recusa familiar não ultrapassa 15%.
“Só vamos conseguir reverter totalmente esse quadro quando a pandemia acabar. Mas o mais importante é que as pessoas conversem com seus familiares para reduzirmos a taxa de recusa”, concluiu.
Saiba mais
O diretor do MG Transplantes, Omar Cançado, esclarece que a doação de órgãos só é permitida mediante autorização da família do doador. “Não existe mais aquilo de deixar escrito em um documento. O parente precisa autorizar”, explica.
Até o próximo dia 23, o Ministério da Saúde promove a Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos, por meio da divulgação de vídeos e peças no rádio e na internet.
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