As imagens do Telegram mostram que as mensagens foram postadas pelo empresário Ubirajara Alencar, dono da Oficina do Software: “Galera estamos fazendo parte de um movimento nacional e Sete Lagoas aderiu. Segunda feira dia 31 outubro, após a vitória do capitão Bolsonaro será feriado em Sete Lagoas. O comércio e a indústria decretarão feriado particular!”. O texto é o mesmo da página do Facebook “Lojistas unidos 7 Lagoas”.
Lista é real
Ao EM Confirma, Alencar confirmou a existência da lista, mas negou que a iniciativa tenha por intenção angariar votos ao candidato do PL. Negou ainda que se trate de instauração de um “feriado”.
“Tínhamos falado entre lojistas que poderia folgar na segunda pós-eleição. É feriado dos servidores públicos e o comércio não teria tanto movimento. Funcionário público tem peso sobre o comércio e se eles não trabalham, complica. Então, pensamos em parar para comemorar a vitória do capitão”, afirma. “Fazemos sempre controle do feriado. Esse grupo de lojistas existe há muitos anos. É no nosso grupo de lojistas que resolvemos nossas ações. Tem quatro anos que, sempre que nos aproximamos de um feriado, vemos se vai compensar abrir.”
Ele disse que o fechamento teve adesão de 200 empresas, mas, por causa da repercussão do caso, todas abrirão no dia 31.
O dia do servidor público é comemorado em 28 de outubro, quando União, estados e municípios decretam ponto facultativo. Este ano, a data cairá na sexta-feira anterior ao domingo do segundo turno das eleições. A Prefeitura de Sete Lagoas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que ainda não sabe quando concederá a folga a seus funcionários, pois seguirá o calendário do governo estadual e, por isso, aguarda publicação no diário oficial Minas Gerais do decreto com a data do ponto facultativo.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio de Sete Lagoas e Região (Sindcomerciários), Márcio Santos Ferreira, informou que o comércio da cidade nunca foi fechado em anos anteriores por causa do feriado do funcionalismo público. “Feriado na cidade quem decreta é prefeitura, governo ou União. Se é feriado do comércio na cidade, tem que ter acordo coletivo”, avisa. Ao representante sindical, foram expostos outros argumentos: “Fui informado de que fizeram uma lista com empresas que não acharam interessante trabalhar nesse dia”.
Entidades negam envolvimento
O empresário José Roberto da Silva, cuja empresa aparece na lista, é presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Sete Lagoas e explica que a entidade não participa, ressaltando não se tratar de um movimento associativista. “É um grupo particular entre pessoas físicas. É para comemorar uma possível vitória. As entidades não participam”, afirma. Segundo ele, o nome aparece na lista, pois “como sou transportador, entrego mercadoria para os lojistas, se eles fecharem, não tenho como trabalhar”.
Sobre o “incentivo” citado no áudio, ele responde: “Sou contra , enquanto entidade, enquanto empresário e cidadão, a qualquer tipo de coerção e benefício em troca de voto. Acredito que o grupo estava pensando em termos de comemoração, não em oferecer benefício em troca de votos”.
A empresa do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade, Geraldir Alves, também é citada na lista. Em resposta ao EM Confirma por mensagem de whatsapp, ele afirmou: “Não concordo com coerção de funcionários, pois o voto é secreto e cada um vota como preferir e achar correto, a CDL Sete Lagoas repudia qualquer tipo de coerção”.
Em nota de esclarecimento conjunta publicada em suas redes sociais, a ACI e a CDL afirmam que não criaram nem participam dos grupos de WhatsApp e Telegram e que são apolíticas e apartidárias. Destacam que seus estatutos sociais preveem que deliberações são tomadas por meio de assembleias ordinárias ou extraordinárias.
E que são “entidades que respeitam a democracia, a liberdade de expressão e o voto secreto e individual dos cidadãos”. “As entidades não podem, na qualidade de representantes de seus associados, interferir na vida e na conduta pessoal de seus integrantes, embora prezem que seus membros observem os princípios que as regem”, dizem. O texto ressalta que a ACI e a CDL não têm competência para instituir feriados, cabendo aos poderes municipais, estaduais ou federal.
As entidades acrescentam “que não coadunam com qualquer ato contrário aos princípios constitucionais que regem o país, ressaltando que as ações porventura praticadas por seus associados, não refletem o pensamento delas pelo simples fato desses integrarem o seu quadro de filiados”.
E finalizam: “O pensamento individual de cada um é de sua inteira responsabilidade e jamais pode ser interpretado como pensamento do todo, ou seja, o pensamento de um associado, na condição de cidadão, não pode ser confundido com o pensamento da entidade da qual faz parte justamente por ser a mesma representante de várias pessoas com crenças individuais e diferentes que fazem parte do tão falado estado democrático”.
O EM Confirma tentou contato com a mulher apontada por moradores de Sete Lagoas como sendo a autora do áudio, por meio de seu perfil no Instagram, mas não teve retorno até a publicação deste texto.
O Ministério Público Eleitoral também foi procurado para responder se o caso configura crime eleitoral, mas não deu retorno até a publicação. Esta verificação será atualizada em caso de resposta.
Foto Reprodução
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O "Beabá da Política"
A série Beabá da Política reuniu as principais dúvidas sobre eleições em 22 vídeos e reportagens que respondem essas perguntas de forma direta e fácil de entender. Uma demanda cada vez maior, principalmente entre o eleitorado brasileiro mais jovem. As reportagens estão disponíveis no site do Estado de Minas e no Portal Uai e os vídeos em nossos perfis no TikTok, Instagram, Kwai e YouTube.
SEGUE ABAIXO O LINK DA MATÉRIA NA ÍNTEGRA, PUBLICADA PELO JORNAL ESTADO DE MINAS: