Na última viagem do dia, o motorista de ônibus Oduvaldo Clarindo Mendes Filho, 61, foi surpreendido por quatro criminosos quando se aproximava do ponto final da linha 7150 (Novo Riacho/BH), em Contagem, na região metropolitana. Os homens incendiaram o coletivo com o motorista dentro. Gravemente ferido, ele foi levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII com 36% do corpo queimado, conforme os médicos. Oduvaldo Filho é a vítima com ferimentos mais graves da onda de ataques a ônibus, que se intensificou no Estado em junho. Nos últimos dez dias, já foram seis veículos queimados só em BH e região.
Apesar de o governo de Minas ter admitido que as ordens para os delitos saem de dentro de unidades prisionais do Estado e ter informado que as ações de prevenção seriam endurecidas, as ocorrências não cessaram. Desde o início das ações, já são pelo menos 70 ataques registrados em Minas.
De janeiro a julho, foram 36 coletivos queimados em Belo Horizonte e região metropolitana. O ataque de domingo (22) se destaca pela violência na ação dos criminosos, que, dessa vez, não pouparam pessoas, como ocorreu na maioria dos crimes, quando eles ordenavam que todos deixassem o coletivo. Em um único caso, em 18 de junho em Timóteo, na região do Vale do Aço, o motorista foi agredido.
Antes de ser socorrido, Oduvaldo Filho contou aos militares que foi abordado pelo grupo na rua Columbia. Um dos bandidos estava armado e carregava um galão com líquido inflamável. Ele entrou pela porta da frente, jogou o produto no coletivo e ateou fogo. O motorista não conseguiu sair e acabou queimado. Não havia passageiros. Comparsas esperavam o grupo em um Palio, e eles fugiram no sentido BR–381. Ninguém foi preso.
O filho da vítima, Leandro Mendes, 38, contou que o pai passou por cirurgia. Ele, que também é motorista, ressaltou que a situação é preocupante. “A gente tem medo, mas não tem como parar. Foi desesperador saber que fizeram isso com ele”, lamentou.
No mês passado, o governo de Minas informou que 26 líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que ordenou muitos dos ataques, seriam transferidos. Na segunda-feira (23), a Secretaria de Estado de Administração Prisional, alegando questões de segurança, não confirmou se o processo já aconteceu. Eles seriam levados para uma mesma unidade e ficariam em um Regime Disciplinar Diferenciado. No ataque de domingo, ainda não há confirmação de que os suspeitos têm ligação com o PCC. A Polícia Civil investiga o caso.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou, por meio de nota, que o esclarecimento de crimes relacionados a queima de ônibus no Estado tem sido feito com “prioridade” pelas forças de segurança. A pasta reiterou que mandantes dos delitos identificados foram retirados de circulação. No total, 129 pessoas foram presas em flagrante ou em virtude de mandados de prisão desde junho. Segundo a Sesp, o trabalho tem sido feito de forma integrada, inclusive com a colaboração da Polícia Federal.
No entanto, para o sociólogo e cientista político Moisés Augusto Gonçalves, as medidas anunciadas pelo Estado devem ir além de aumentar o número de militares nas ruas. “Está acontecendo em outros Estados, como Rio Grande do Norte e São Paulo, também. São facções nacionais. É preciso articulação das forças de segurança do país”, afirmou. O especialista defende ainda que medidas na área de políticas públicas, para reduzir a miséria, por exemplo, também influenciam na questão da segurança.
Cada ônibus que é queimado custa aproximadamente R$ 400 mil e demora seis meses para ser substituído. Desde janeiro, a destruição de 36 coletivos na capital e na região metropolitana acumula um prejuízo de R$ 14,4 milhões – que pode acarretar, inclusive, no aumento das passagens.
Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano, o ônibus da linha 7150 atende uma média de 1.340 passageiros por dia. Um veículo reserva foi realocado.
Por Aline Diniz e Carolina Caetano - OTempo
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