Enquanto levava socos, chutes e arranhões, a universitária Melissa Gentz, 22, só conseguia pensar que, se fosse para continuar viva, que Deus a ajudasse. Sem poder reagir às agressões do namorado, no último domingo, em Tampa, no Estado da Flórida, nos Estados Unidos, o único pedido de Melissa era de que não sentisse mais dor. “Ele arrancou tufos do meu cabelo várias vezes, me apertava no chão até eu não conseguir respirar. Ele chutou meu rosto, me puxou pelos cabelos pelo apartamento. Teve uma hora que deixei ele me bater e só pensei em Deus. Daquele ponto em diante seria conforme a vontade Dele”, desabafou a estudante em entrevista a O TEMPO nessa terça-feira (25). O suspeito da agressão é o belo-horizontino Erick Bretz, 25, que está preso.
De acordo com Melissa, ela e Bretz estavam na casa dele assistindo a um filme. O suspeito, que segundo a vítima, faz uso de medicamento controlado, teria começado e beber e, pouco depois, iniciado uma discussão a respeito do celular. Ela se negou a entregar o aparelho para ele, que começou a agredi-la. Segundo a universitária, entre socos e chutes, Erick prendeu a cabeça dela entre as pernas dele e virou um frasco de soro fisiológico em seu rosto.
Melissa contou que tentou se trancar no banheiro, mas que o suspeito arrombou a porta. Em seguida, ela jogou o smartphone no chão, para que ele o pegasse, e correu para a portaria do prédio. Ainda segundoo a estudante, o porteiro chamou a polícia e uma ambulância para socorrê-la. Depois de medicada, a jovem voltou ao apartamento do namorado para buscar os objetos pessoais acompanhada de dois policiais. O namorado dormia. Foi acordado para receber voz de prisão.
Investigação. De acordo com o Departamento de Polícia de Tampa, Bretz é acusado de violência doméstica por estrangular e intimidar a vítima. Para se livrar da cadeia, ele precisará pagar fiança de US$ 60 mil – cerca de R$ 245 mil. Ainda assim, ele terá de entregar o passaporte para responder ao processo nos Estados Unidos.
Melissa disse que os dois estavam juntos havia três meses e que essa não foi a primeira agressão. De acordo com a universitária, o suspeito já teria hackeado o celular dela antes e ameaçado sua família. “Ele sempre tentava me convencer de que eu era louca e tinha sorte de estar com ele”, lamentou. Melissa foi estudar biologia celular e molecular nos Estados Unidos em 2015. Ela se formaria em dezembro, mas pretende trancar o próximo semestre devido aos ferimentos. “Eu tenho medo de ele não ser punido”, afirmou a jovem.
Os familiares e o advogado da família de Bretz foram insistentemente procurados nessa terça-feira (25), mas não haviam se manifestado até o fechamento desta edição.
Fiança só pode ser paga após depoimento
Um detido por violência doméstica na Flórida deve ser preso, sem fiança, até ser ouvido por um juiz, segundo o escritório norte-americano de advocacia Ralph Behr. As penas podem ser por lesão corporal, assalto, sequestro, cárcere privado ou abuso. Há possibilidade de prestar serviços comunitários, pagar taxas e fazer terapia.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que averigua o caso e que, devido à Lei de Acesso à Informação, “não serão fornecidas informações de cunho pessoal”.
Minientrevista
Melissa Gentz
Estudante mineira vítima de agressão nos EUA
Como vocês se conheceram? Ele demonstrava agressividade no início?
Estudávamos na mesma escola, mas não éramos amigos. Passei as últimas férias no Brasil, em junho, e começamos a conversar. Os pais dele tinham casa em Orlando, e ele passava as férias aqui (na Flórida). Quando voltei para as aulas na faculdade, no final de agosto, ele veio junto. Desde o início, ele tinha um ciúme exagerado, mas, como não o conhecia direito, achei que poderia ser normal ou controlado com o tempo.
Quando começaram as agressões?
Quando estávamos no Brasil, ele falava para cortar as minhas amizades, especialmente com homens. No início, parecia que era porque não gostava de ex-namorados, mas aos poucos passei a não poder falar com ninguém, nem com as minhas amigas. Até com os meus pais ele brigava. Ele hackeou meu celular, tinha acesso a tudo, gritava, puxava meu cabelo e me empurrava.
Você contou isso para alguém?
Conversei com várias ex-namoradas dele, sempre foi ciumento. No Brasil, ele era conhecido por abusar das drogas. Sinto medo de ele não ser punido. Eu dei várias chances, pedi ajuda para a família dele, relatei o que vinha acontecendo, mandei áudios e vídeos, mas eles ignoravam.
Letícia Fontes - OTempo
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