O inimigo é antigo e as formas de prevenção são velhas conhecidas. Mas mesmo assim, pelo menos 30% dos municípios mineiros estão em estado de alerta para infestação do Aedes aegypti. Dados parciais do Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa) no Estado, com informações de outubro, revelam que 242 dos 803 municípios mineiros que enviaram informações à Secretaria de Estado de Saúde (SES) estão em situação de alerta por causa da presença de focos do mosquito, vetor dos vírus da dengue, zika e chikungunya. Outras 15 cidades estão em risco para surto de doenças transmitidas pelo inseto.
Na região metropolitana de Belo Horizonte, nove municípios estão em alerta pela presença de criadouros do mosquito: Esmeraldas, Brumadinho, São José da Lapa, Mário Campos, Igarapé, Matozinhos, Florestal, Juatuba e Bonfim apresentaram índices de infestação entre 1% e 2,6%. Na capital, o índice foi de 0,5%, considerado baixo.
Um dos principais problemas encontrados nos imóveis visitados foi a presença de recipientes destinados ao armazenamento de água. Esse tipo de criadouro foi identificado em 272 cidades, o que revela que mesmo aqueles municípios com situação considerada satisfatória pelo LIRAa têm focos do Aedes aegypti. Em outras 82 localidades mineiras, o lixo também é apontado como ambiente propício para proliferação do vetor.
“Os moradores devem ter um olhar atento para as residências e cuidar dos depósitos de água. O controle do Aedes deve ser feito o tempo todo. Acreditamos que, como 2019 foi um ano epidêmico, as pessoas ficaram mais alertas e começaram a ter os cuidados que sempre deveriam ter”, avalia a coordenadora do Programa Estadual de Doenças Transmitidas pelo Aedes", disse Márcia Ooteman.
Apesar de a situação de alerta atingir quase um terço das cidades mineiras, Márcia afirma que os índices melhoraram. No último balanço, realizado em outubro do ano passado, 40,7% dos municípios estavam em situação de risco ou em alerta para a possibilidade de infestação pelo Aedes aegypti. Na época, 819 enviaram informações para a Secretaria de Estado de Saúde. Em 60 deles, o índice foi superior a 4%, o que é considerado situação de risco para surto.
Segundo Márcia, “o levantamento de índice (de infestação) do Aedes é importante, pois permite categorizar os municípios quanto ao risco da ocorrência de epidemias e também identificar as localidades mais críticas e os depósitos predominantes”.
Surto
No entanto, mesmo com a redução de focos do mosquito no Estado, é difícil prever se a próxima temporada terá menos casos de dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Neste ano, Minas registrou a segunda maior epidemia da história, com 423,3 mil casos prováveis – número que engloba tanto os diagnósticos suspeitos quanto os confirmados.
Para o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, ainda é cedo para falar em nova epidemia. “A última temporada de dengue se estendeu até julho deste ano, o que não é comum. Não tem como prever sea epidemia vai ser maior nesta temporada. E também não estamos esperando nenhum fato novo, nenhum vírus novo entrou em circulação, por exemplo”, analisa o médico. (Com Franco Malheiro)
Estado vai usar armadilha para combater fêmea do mosquito
A Secretaria de Estado de Saúde prepara uma série de estudos e projetos pilotos para a próxima campanha de combate à dengue, prevista para o mês que vem. Uma das novidades é a criação de uma espécie de armadilha para a fêmea do Aedes aegypti, que é atraída e recebe uma dose de inseticida.
“É uma alternativa para casos em que não se consegue entrar nas residências. O objetivo é reduzir o número de vetores”, adianta a coordenadora do Programa Estadual de Doenças Transmitidas pelo Aedes", explica Márcia Ooteman.
Apesar das estratégias, o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, afirma que é preciso da participação da população. “Vale lembrar que se não houver uma massificação da participação das pessoas e da conscientização, o poder público só não consegue suprimir o problema”, alerta.
BH confirma 115 mil casos de dengue
Belo Horizonte já registrou mais de 115 mil casos de dengue e 29 mortes por causa da doença em 2019, segundo balanço divulgado ontem pela Secretária Municipal de Saúde. Apesar da epidemia, o diretor de Controle de Zoonoses da capital, Eduardo Viana, garante que situação está controlada.
Segundo Viana, assim como ocorre no Estado, 80% dos focos do mosquito na capital estão no ambiente domiciliar. Para combater o Aedes nesta temporada, a prefeitura promete soltar mosquitos infectados com uma bactéria. A previsão é de que isso ocorra até o primeiro semestre do ano que vem.
“É um projeto de implantação do Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que não parasita o homem, mas tem capacidade de diminuir o potencial do mosquito de transmitir os vírus da dengue, chikungunya e zika para as pessoas”, explica.
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