As redes sociais foram os espaços escolhidos pelas organizadas de Cruzeiro e Atlético para marcar o confronto no bairro Boa Vista, na região Leste de BH, que resultou na morte do torcedor cruzeirense Rodrigo Marlon Caetano Andrade, 25, no último domingo (6). A Polícia Militar (PM) informou que coletou mais de 200 informações sobre possíveis embates entre os rivais agendados pelas mídias. Especialista ouvida pela reportagem alerta que o momento é de os clubes coibirem tais atos, criando a chamada “cultura preventiva”.
Nos últimos meses, BH foi palco de cenas de violência envolvendo torcedores dos dois times – houve mortes em dois dos três casos (veja mais abaixo). Sobre a confusão de anteontem, a major Layla Brunella, porta-voz da PM, esclareceu ontem que outros conflitos foram impedidos de acontecer, graças à antecipação dos militares.
“Conseguimos chegar antes a alguns endereços (...) e impedir as ações”, disse. Não foi o caso da briga que culminou na morte de Rodrigo, mas, segundo ela, a corporação colheu “importantes informações" que culminaram na localização dos envolvido (no crime) de forma imediata.
Foram presos dois suspeitos de participação no assassinato. O terceiro envolvido, apontado como o responsável pelo disparo, estava foragido até a publicação desta matéria.
A major da PM destacou que todos os que se envolveram na briga tiveram participação no homicídio e ressaltou: “A selvageria tem que acabar”.
Por que tanta violência?
A escalada de violência entre torcedores rivais pode ser explicada, segundo a socióloga Ludmila Ribeiro, pesquisadora do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, da UFMG, por dois fenômenos. “O que aconteceu é que as torcidas se reorganizaram e brigam em locais menos vigiados, aprenderam onde podem brigar”.
O outro fator elencado pela estudiosa tem a ver com a retomada da rotina após o período crítico da pandemia. “Ficamos dois anos em casa e sem jogos, logo sem os eventos que mobilizam tanto esses públicos. Eles sentem prazer de usar os símbolos dos rivais e os exibem como se fossem troféus. Agora, querem recuperar o ‘tempo perdido’”, analisou.
Ludmila defende outras medidas para conter a violência, em que os clubes têm papel fundamental. “Enquanto não envolvê-los, não vamos mudar em nada. Eles precisam ser os responsáveis por regular suas torcidas organizadas. É preciso pensar para além e desenvolver a cultura preventiva”.
Ela sugere, por exemplo, que torcedores sejam cadastrados e que se adotem “políticas públicas que ajudem a repensar essa violência”.
Autoridades
Procurador geral de Justiça do Estado, Jarbas Soares Júnior defendeu “leis mais fortes” para punir atos de vandalismo e que os envolvidos nas brigas sejam banidos e punidos. “A disputa deve ser dentro das quatro linhas. Depois, as torcidas devem levar as coisas na alegria”, observou.
Ele acredita que são necessárias ações mais articuladas para evitar a repetição das cenas de anteontem e declarou. “No que depender do Ministério Público vamos agir rigorosamente e buscar a punição dos responsáveis”.
Já Polícia Civil de Minas Gerais informou que investiga os crimes e instaurou inquérito para “apurar a autoria e as circunstâncias da prática de lesão corporal e do homicídio”.
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