O rodízio de água em Belo Horizonte e região metropolitana, implementado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) por conta do rompimento de uma adutora em Juatuba, chega a seu terceiro dia hoje com prejuízos financeiros para trabalhadores, sufoco para famílias que têm que se virar sem o item essencial e até o cancelamento de aula em escolas com torneiras vazias. Enquanto falta abastecimento em muitos bairros, há vazamentos na rede da Copasa que geram desperdício e levam dias para serem sanados, como um registrado ontem pela reportagem no bairro São Bernardo, na região Norte da capital.
Para se ter ideia, a Copasa esclareceu que, somente no ano passado, BH teve uma perda de 24% de água por conta de vazamentos. “Todos os sistemas de abastecimento de água têm nível de perda. O Brasil tem uma média de perda d’água de 40%. O índice de BH é menor do que o nacional, mas também é elevado, principalmente se olharmos que estamos tendo rodízio. É muita água perdida, e isso é um absurdo”, disse o professor Cesar Rossas Mota Filho, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
No bairro São Bernardo, moradores denunciam o desperdício de água há pelo menos dez dias, desde que um cano da Copasa se rompeu no passeio do taxista José Vicente Pereira, de 68. “A água faltando em vários pontos da cidade, e aqui sendo jogada fora”, lamentou.
A situação tem gerado revolta na população, pois, segundo eles, a companhia não atende as solicitações para que o vazamento seja interrompido. “O que está acontecendo é um erro. A Copasa fica pedindo para economizarmos água, muita gente com as torneiras secas, e a situação desse jeito”, pontuou o motorista aposentado Raul Francisco Alves, 67.
Outro vazamento também aconteceu anteontem no bairro Vale da Prata, em Ribeirão das Neves, cidade que está entre as afetadas pelo rodízio de água. A população chegou a armazenar a água desperdiçada e levar para casa, pois estão tendo que lidar frequentemente com a interrupção do serviço.
A Copasa informou que o vazamento em Ribeirão das Neves foi resolvido anteontem e que uma equipe vai ao bairro São Bernardo para averiguar a situação. “A companhia possui estratégias de atuação para reduzir as perdas”, declarou a companhia, em nota.
População busca saídas no desespero
A falta de água tem levado muitas famílias a mudarem os hábitos para que a caixa-d’água não esvazie. “Quando a água chega, eu faço tudo, lavo roupas, limpo a casa, porque depois que corta não dá para fazer nada. Tenho um filho autista que precisa tomar até quatro banhos por dia. Estou tendo que deixar a reserva para ele”, contou a operadora de caixa Luciene Barbosa, 47, que reside no bairro Confisco, na região da Pampulha, em BH.
O comerciante José Divino da Silva, 48, que vende caldo de cana na mesma região, comprou uma torneira mais econômica: “Tenho que ter água para lavar as garrafas com caldo de cana dos clientes”.
Corte deixa estudantes sem aula
Os estudantes das escolas municipais de Vespasiano, na região metropolitana da capital, ficaram sem aula, ontem, por causa do rodízio de água. De acordo com a prefeitura, a reposição acontecerá ainda neste mês. Os pais foram avisados, na quarta, sobre o fechamento das unidades de ensino.
Mesmo com o aviso prévio, nem todos os pais conseguiram alterar a rotina, como foi o caso da cabeleireira Bruna Gonçalves, 35. Para não deixar a filha de 8 anos sozinha em casa, Bruna teve que apertar o orçamento e pagar uma babá. “Tive que tirar dinheiro de onde não tinha”, comentou.
A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) informou que todas as escolas que tiverem suspensão das atividades devido ao abastecimento de água terão “calendário de reposição das aulas”.
Na capital mineira, segundo a prefeitura, apenas a Escola Municipal Professora Ondina Nobre, em Venda Nova, teve as aulas suspensas desde que o rodízio começou, na última quarta. O fornecimento de água foi restabelecido na noite do mesmo dia, e a instituição já funciona normalmente.
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