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Dia do Trabalho: 'demanda de serviço cresceu mais de 70%', diz coveiro

Trabalhadores relatam os principais impactos e desafios trazidos pela pandemia da Covid-19 em suas rotinas

01/05/2021 às 10h08
Por: Redação Fonte: Mega Cidade com O Tempo
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Sob o sol escaldante e sem trégua, o coveiro Lucas Alves Aguiar, 27, fazia a manutenção de um túmulo no Cemitério Municipal de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Em cada suor que escorria do rosto, as lembranças  das histórias vividas ao longo de mais de quatro anos de profissão. "O mais difícil desse serviço nem é a questão da prática em si, mas ver o sofrimento das pessoas. Isso às vezes abala, mas temos que continuar", contou. 

Uma das situações que mais marcou aconteceu no ano passado, durante o velório de uma idosa, quando o neto colocou cerca de R$ 300 antes do caixão ser fechado. "Ele perguntou para a avó se a dívida estava perdoada. Parece que eles estavam brigados quando ela morreu. Aquilo me chamou atenção, porque temos que fazer as coisas em vida, depois não adianta mais", recordou. 

E diante de uma pandemia sem fim, Lucas Alves disse que a rotina no local mudou drasticamente por conta das mortes provocadas pela Covid-19. "A demanda de serviço aumentou mais de 70%. Antes, eram 20 óbitos por mês, hoje já chega a mais de 35. E também ficamos mais visados, acho que éramos mais esquecidos", acrescentou. Com isso, cresceram as preocupações de não se contaminar com o vírus. "Fico mais preocupado com a minha mãe e meu filho, que tem cinco meses. Mas tomamos todos os cuidados para não levar essa doença para dentro de casa", garantiu.

'Até aqui eu consegui vencer, apesar de muitas lutas e dificuldades'

No semblante sereno, o olhar de gratidão e as marcas de tantas lutas e dificuldades enfrentadas diariamente para levar o sustento para casa. Sem emprego por mais de dois anos, o gari Alan Rodrigues de Oliveira, 47, viu a despensa de casa ficar completamente vazia e não ter o que oferecer para a filha no almoço e nem no jantar. E todos os dias, ele ia até a Prefeitura de São Joaquim de Bicas implorar por um trabalho. Até que, há cinco anos, conseguiu uma vaga na Usina de Triagem e Compostagem de Lixo da cidade.

"Quando eu cheguei aqui, estava na hora do almoço. Eu ficava no canto vendo todo mundo comer e olhando. Até que um amigo meu chegou e perguntou o motivo, e eu disse que lá em casa ainda não tinha e estava esperando o pagamento para comprar as coisas. O pessoal descobriu isso, se juntou e fez uma compra para a minha família que durou oito meses", lembrou emocionado. 

E todos os dias, Alan acorda ainda na madrugada para chegar ao trabalho. Mesmo com a rotina dura e os riscos expostos pela pandemia, ele diz ter orgulho de ter chegado onde está. "Até aqui eu consegui vencer, apesar de muitas lutas e dificuldades", disse. Apelidado carinhosamente de Severino pelos colegas de trabalho, o gari faz de tudo no espaço, desde recolher o lixo na cidade até operar uma retroescavadeira e ainda ajudar na separação do lixo reciclável. 

"No dia a dia, tem coisas que é preciso passar por cima e relevar. Caso eu perca o emprego hoje, sei o que já passei lá atrás. Nunca pensei na minha vida que o chefe daqui ia falar que eu estou entre os dois melhores profissionais. Para mim, isso é motivo de orgulho, de uma conquista dia após dia", comentou.

No transporte público

Para milhares de trabalhadores que não puderam ficar em casa, o único meio de se deslocar pela cidade é através do transporte público. Em cada ônibus, motoristas como o Sebastião Inácio de Almeida, 57, que também se arriscam diariamente para desempenhar o ofício essencial. "Essa pandemia pegou todo de surpresa, mas eu tenho que cuidar de mim, cuidar do próximo e das pessoas que estão na minha casa. É usar a máscara, álcool em gel, evitar aglomeração", afirmou.

E ao longo dos últimos 33 anos, Sebastião fez amigos, acumulou histórias e o orgulho de exercer a profissão. "Sinto que tenho uma família aqui, tanto da empresa quanto de outras que circulam no mesmo trajeto. Eu trabalho na linha 65 (Estação Vilarinho/Centro) e gosto muito do que faço, é como se eu estivesse na minha casa. Pego a primeira viagem, olho o relógio, é a última do dia e eu nem senti", disse.

Um toque de carinho e afeto

Pelos corredores dos hospitais, uma categoria muitas vezes esquecida entre os carrinhos de limpeza que desempenha uma função fundamental. Nos quartos e leitos de UTI do Hospital Felício Rocho, na região Centro Sul de Belo Horizonte, o toque de carinho e afeto que contribui com a recuperação de cada paciente. É assim que a faxineira Tainá Silva de Araújo descreve o ofício. "A limpeza é essencial para tudo aqui, principalmente em tempos de pandemia. Se tudo está limpo, isso contribui para que as pessoas não tenham outras doenças no hospital", relatou.

Responsável pela higienização dos quartos, Tainá conta que a rotina ficou ainda mais intensa. "É uma vigilância 24 horas por dia em muitas coisas, já que o momento é grave e precisamos dar o melhor. E na minha casa, todos ficam preocupados. Tenho uma filha de cinco anos que é do grupo de risco", afirmou. Para a faxineira, a profissão deveria ser mais valorizada. "Sofremos muito preconceito, alguns locais de trabalho desmerecem muito o nosso serviço", frisou.

'Temos ficado bastante esquecidos'

No setor que nunca parou mesmo nos momentos de maior restrição por conta da Covid-19, os trabalhadores dos supermercados muitas vezes se sentem esquecidos. Para a operadora de caixa Rosilene Duarte, 42, todos esses profissionais deveriam ser priorizados na vacinação contra a doença, já que não pararam em nenhum momento. "Não falaram nada em nenhum momento sobre nossa categoria, as pessoas que estão no atendimento, na padaria", pontuou.

Rosilene atua em uma rede de supermercados no bairro Sion, região Centro-Sul da capital, desde 2018 e contou que muita coisa mudou no trabalho por conta da doença. "No início, a gente estranhou um pouco, mas tivemos que nos adaptar. Além da máscara e do álcool em gel, tem os acrílicos que nos separam dos clientes. Mas só de estar saindo todos os dias de casa para trabalhar, em um momento que muita gente está desempregada, conta muito", declarou.

Os bastidores da notícia

No momento em que a sociedade precisou se isolar para conter a disseminação do vírus, a informação se tornou uma arma ainda mais essencial para vencer esse momento difícil. E por trás disso tudo, está o trabalho da imprensa. Nos bastidores da notícia, estão repórteres como a Carolina Caetano, 33, do jornal O TEMPO, que se dedica diariamente a levar os fatos e contar histórias, nem sempre boas, como ela gosta de frisar. "Cada uma é um aprendizado, tanto para a gente que está escutando, mas também para quem quer falar. Nunca voltamos para casa da mesma forma que saímos", relatou.

A cada ida na porta de um hospital ou uma delegacia, uma família fragilizada que precisa de apoio. "Tivemos muito contato com a dor das pessoas devido à pandemia. Muitos acham que estamos ali querendo só ver o que há de ruim, e não é. Queremos dar voz a quem precisa. Já fomos hostilizados na porta da UPA Venda Nova por uma pessoa que dizia que a imprensa falava para ficar em casa, mas estava no local. Só que a gente precisa estar lá, informar", disse.

Em cada foto, um sentimento

Junto com a Carolina Caetano, atua toda uma equipe que se dedica diariamente a levar os fatos para as pessoas. E é no olhar atento do fotógrafo Alex de Jesus, 40, que aparecem imagens que retratam toda uma realidade. "Eu reflito muito, mesmo na pauleira que é o dia a dia. É muito sentimento na hora de fazer uma foto, não é só apertar um botão. Envolve muita coisa, tudo que aprendi, o que gosto de fazer e também o outro", afirmou.

E diante das dificuldades trazidas pela pandemia, Alex precisou se adaptar. "Mudou tudo. De imediato, foi o contato e a aproximação com a própria pauta. O acesso aos locais ficou mais complicado, principalmente para nós que estamos mais envolvidos com os factuais. Todos os dias temos que nos reinventar, fazer com que a informação chegue até o leitor", argumentou.

Experiência de muitas coberturas

Pelas mãos experientes do motorista Abílio Bittencourt, 52, a equipe do jornal O TEMPO chega até o local do fato para retratar tudo diariamente ao seu leitor há mais de 20 anos. E nesse tempo, ele já participou de muitas coberturas e viu a evolução trazida pela tecnologia na forma de fazer jornalismo. "O que mais me marcou foi o desastre de Brumadinho. Eu acompanhava os repórteres, fotógrafos e sempre via as histórias. E agora tem a pandemia, que é ainda pior e temos que conviver com as idas aos cemitérios, hospitais", relatou.

E ainda tem a responsabilidade de levar com segurança cada um. "Além de ter cuidado com o trânsito, tenho que ter cuidado com as pessoas que estão comigo. E por isso eu sempre digo, a suas vidas estão na minha e qualquer descuido pode ser uma fatalidade", finalizou.

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