Nos meses de agosto e setembro, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais registrou diversos incêndios no estado, principalmente em vegetações, serras e parques naturais. Somente entre o último sábado (4) e essa terça-feira (7), a corporação registrou um total de 738 solicitações relacionadas a incêndios em vegetação em todo o estado de Minas Gerais.
A reportagem conversou com o sargento Miranda, um dos bombeiros que trabalha diretamente no atendimento às chamadas da população. Ele conta que esse aumento de incêndio florestais estão relacionados a dois fatores: o clima e a ação humana.
“Com o tempo seco dessa estação [inverno] e os ventos fortes, qualquer motivo pode dar margem para uma propagação muito maior do incêndio”, afirma o militar. “Mas além das questões naturais, o que temos percebido é a ação humana”, complementa.
“Estamos vendo, por exemplo, muito incêndio iniciando em BH e atingindo outras regiões com mais áreas verdes. Então, percebemos que muitas pessoas estão optando por se afastarem dos grandes centros e procurando por lugares mais verdes e tranquilos, ou seja, estão urbanizando mais esses locais que não tinham tanto fluxo de pessoas”, explica.
Incêndios em vegetações têm mobilizado bombeiros de Minas (CBMMG/Divulgação)
Ainda segundo o sargento, a transição de moradores da cidade grande para áreas verdes traz um outro inimigo das florestas: o uso de fogo não autorizado. O uso de chamas como técnica para suprimir vegetação não é totalmente proibido, mas a lei impõe que ele seja rigorosamente controlado.
“A gente percebe que não tem ocorrido transição [das chamas] da área rural para urbana, já que muitos incêndios não estão acontecendo, necessariamente, na zona rural. Mas, como muitas pessoas têm optado por morar em novos condomínios e fazendas, fazendo essa ampliação do espaço humano [para dentro das áreas verdes], quanto mais pessoas transitando no local, e fazendo limpeza do terreno, com certeza vai ter mais incidência de incêndios“, observa.
“Então, se a gente pudesse resumir o que tem causado tantas chamas nas vegetações, tem sido o manejo de fogo de forma inadequada, sem autorização e perícia, e como acaba saindo do controle os moradores acabam nos acionando sempre. Essa migração para locais menos explorados deixa a vegetação mais exposta. A ação humana é um fator, associado às condições climáticas ao período que estamos”, finaliza o militar.
Apesar dos inúmeros esforços dos bombeiros para operar o Plano Integrado de Preparação e Resposta aos Incêndios, que tem demonstrado eficiência na gestão de grandes queimas em parques e zonas rurais, ainda é grande a quantidade de incêndios registrados pela corporação.
Incêndios em vegetações têm mobilizado bombeiros de Minas (CBMMG/Divulgação)
Durante 10 dias, equipes do Corpo de Bombeiros estiveram em ação direta no combate ao incêndio na estância de Serra Negra, no município de Patrocínio, no Alto Paranaíba. Militares de Patrocínio, Patos de Minas, Uberaba, Uberlândia e Belo Horizonte foram designados para a ação que contou com helicóptero e cerca de 25 homens diariamente.
O incêndio se concentrou em uma área de mata fechada, íngreme e de difícil acesso, sendo necessário o deslocamento da tropa através de aeronave. No local, foi montado o Sistema de Comando de Operações – SCO, de onde era realizado todo planejamento, monitoramento e comando. Além de aeronave, a equipe contava com recursos tecnológicos como drone e monitoramento via satélite.
As características do incêndio dificultaram as ações de combate, uma vez que a distância entre os focos exigia que as equipes fossem remanejadas de acordo com as evoluções das frentes de incêndio. A área atingida pelas chamas foi de cerca de 880 hectares, sendo na maioria vegetação rasteira e algumas árvores. Após a extinção dos focos, as equipes do Pelotão de Bombeiros de Patrocínio continuaram com monitoramento do local, tendo em vista as possibilidades de reignição.
Iniciado na segunda-feira (6), ainda hoje o incêndio mobiliza os bombeiros. Pela manhã desta quinta, por volta das 05h, foi realizado o planejamento estratégico, definindo a divisão das equipes em três grupos. Dois deles atuando em um ponto onde as chamas foram iniciadas, e outro tentando encontrar um novo ponto de acesso com melhores condições de monitoramento. Ao todo, foram 23 trabalhadores, entre militares e brigadistas para conter as chamas.
No Parque Estadual da Serra do Papagaio, um incêndio de grandes proporções foi registrado nas áreas de proteção. A solicitação partiu da gerente do Parque, na manhã desta terça (7). Uma guarnição de combate a incêndios florestais, composta por quatro bombeiros de São Lourenço, iniciaram o combate ontem (8), na frente de incêndio entre os locais denominados Pico do Alegre, Pedra do Cigano e Morro Grande.
Outra equipe, composta por mais quatro bombeiros de Varginha, deslocou-se para o Posto de Comando na sede Administrativa do Parque para fazer as instalações de gestão da operação. Já o início dos combates às chamas foi na manhã de hoje.
Até a tarde de hoje, haviam 44 pessoas atuando no incêndio. Segundo a corporação, ainda existem outros focos de incêndio em andamento. Uma aeronave apoia os trabalhos em solo.
Mais um incêndio iniciado no sábado (4), na cidade de Marmelópolis, no Sul de Minas, em vegetação mista composta por pasto, plantação de eucalipto e mata de reserva florestal, atingiu uma área de 40 alqueires, equivalente a 193,6 hectare.
Militares do estado de Minas Gerais iniciaram o combate na região da Serra da Mantiqueira em conjunto com militares do Exército Brasileiro, bombeiros militares do estado de São Paulo e outros guias da região e brigadistas.
O incêndio chegou a avançar em duas grandes frentes. As aeronaves do Estado de São Paulo realizam o sobrevoo no local e as equipes estão sendo distribuídas em campo para a realização do combate direto às chamas.
Na capital, os militares tiveram que combater as chamas no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul, no sábado (4). Foram empenhadas 4 viaturas e houve o apoio de brigadistas. A linha de fogo que mais ameaçava foi extinta nas primeiras horas, mas alguns focos em locais muito íngremes e de difícil acesso continuaram, e por isso, foi montado um posto de comando e algumas equipes permaneceram no local durante toda noite realizando o monitoramento desses focos.
Os trabalhos foram retomados na manhã seguinte e o combate permaneceu até o dia 6. Bombeiros e brigadistas, tiveram o apoio de uma aeronave do Instituto Estadual de Florestas com lançamento aéreo de água em pontos estratégicos, com capacidade para 400 litros.
Outros incêndios também atingiram cidades e serras de Minas, como Tupaciguara, Ituiutaba, Januária, Serra da Gandarela/Rio Acima, Prados/próximo à Serra do São José e o mais recente foi no Parque Estadual Serra Verde, em Belo Horizonte, onde os fogos foram controlados há pouco pelos bombeiros.
Incêndio em Parque Serra Verde foi controlado no final da noite desta quinta (CBMMG/Divulgação)
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