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Saúde Opinião

Por uma política de saúde mental que cuide de todos nós

Por Rute Alves de Lima – Secretária da Diretoria da ASPOLI (Associação do Movimento de Mulheres na Política de Sete Lagoas)

27/05/2025 às 10h19
Por: Redação
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Por uma política de saúde mental que cuide de todos nós

Nos últimos dois meses, Sete Lagoas registrou três perdas humanas relacionadas ao sofrimento psíquico extremo — duas delas em maio, mês da Luta Antimanicomial. Esses casos, que chegaram à esfera pública, revelam apenas a ponta visível de um iceberg profundo e negligenciado.

Se essas perdas tornaram-se visíveis, quantas outras seguem silenciadas nos bairros, nas casas, nas ruas, nos locais de trabalho? Mulheres sobrecarregadas, homens silenciados pelo preconceito, jovens em crise, crianças sem acesso a atendimento especializado, pessoas vulnerabilizadas — muitos seguem sofrendo sem cuidado adequado.


Atenção primária: o coração do cuidado

A Atenção Primária é o nível mais estratégico, abrangente e econômico do SUS. Ela pode resolver até 80% das demandas de saúde, pois acontece no território e promove ações preventivas e contínuas. Porém, em Sete Lagoas, a estrutura ainda está aquém das necessidades da população.

Durante audiência pública na Câmara Municipal, o secretário de Saúde, Jean, reconheceu as falhas da atenção primária no que diz respeito ao cuidado em saúde mental, especialmente no acesso a psiquiatras. Ele destacou o déficit de especialistas e a dificuldade em garantir atendimento, inclusive nos casos urgentes. A Secretaria estuda novas formas de contratação, mas isso exigirá alterações na legislação municipal.

Outro ponto crítico é o número reduzido de equipes do NASF (Núcleo Ampliado de Saúde da Família) — atualmente, são apenas nove, número insuficiente para garantir uma cobertura territorial qualificada, inclusive para a realização de grupos terapêuticos e atividades coletivas de escuta e cuidado.


Educação: profissionais adoecidos e estudantes sem apoio

Renato Gomes, porta-voz da Secretaria Municipal de Educação, relatou na audiência que apenas 11 duplas de psicólogo e assistente social atendem as 54 escolas da rede municipal. Muitos professores recorrem à medicação psiquiátrica para lidar com a rotina escolar, enquanto os estudantes enfrentam quadros de ansiedade e sofrimento sem acompanhamento contínuo.

O cuidado psicossocial nas escolas é urgente — não apenas para o desempenho pedagógico, mas para o bem-estar de toda a comunidade educativa.


Crianças invisibilizadas no cuidado em saúde mental

As crianças com sofrimento psíquico continuam sem assistência adequada. Falta atendimento especializado, estrutura para diagnóstico precoce e acompanhamento contínuo — lacunas que comprometem o desenvolvimento infantil e sobrecarregam famílias e escolas.


Ambientes de trabalho também adoecem

A lógica produtivista e a falta de espaços de escuta e cuidado levam muitos trabalhadores ao adoecimento silencioso. Homens, especialmente, ainda associam o autocuidado à fraqueza, o que agrava quadros de sofrimento. É urgente pensar em ações nos ambientes de trabalho — como comércios, construções civis e empresas — com campanhas e rodas de escuta que levem o cuidado até onde as pessoas estão.


Caminhos possíveis e urgentes

A ASPOLI propõe ações concretas para uma política de saúde mental mais humanizada e acessível em Sete Lagoas:

  1. Fortalecer a Atenção Primária: com mais profissionais, formação continuada e escuta qualificada nas Unidades Básicas de Saúde.
  2. Reforçar e descentralizar as equipes do NASF: garantindo cobertura territorial e práticas integrativas em todos os bairros.
  3. Ampliar e qualificar a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS): flexibilizando o acesso, ampliando o número de profissionais e fortalecendo o cuidado comunitário.
  4. Implantar políticas específicas para saúde mental infantil: com equipes multidisciplinares preparadas para o cuidado da infância e acompanhamento das famílias.
  5. Integrar saúde, assistência social e educação: com ações intersetoriais no território, construídas com participação social.
  6. Promover campanhas permanentes de valorização da vida: com linguagem acessível, sem estigmas, construindo o cuidado como direito.
  7. Levar ações de saúde mental aos ambientes de trabalho: com escuta ativa, oficinas e rodas de sensibilização — especialmente voltadas aos homens.
  8. Apoiar iniciativas comunitárias de cuidado: como oficinas, grupos terapêuticos e rodas de escuta, com protagonismo de movimentos e coletivos locais.

Cuidar da saúde mental é cuidar da vida.
É responsabilidade coletiva e dever do Estado. Que essas perdas se transformem em alerta e ação. Que o luto se transforme em luta — por uma política de saúde mental que cuide de todos nós.

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