Obra central da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, nascido em Cordisburgo, é considerada um dos romances mais complexos do século XX. Escrita em 1956, a narrativa já havia chegado à Alemanha em versão traduzida, mas ganhará em 2026 uma nova edição, resultado de quase 15 anos de intenso trabalho do tradutor Berthold Zilly. O lançamento está programado para agosto, ano em que o livro completa sete décadas, pela Fischer Verlag, de Frankfurt.
A empreitada de Zilly para verter a história de Riobaldo e a inventiva linguagem de Rosa ao alemão foi um desafio de fôlego. A obra exige mais que domínio técnico: demanda recriação. Guimarães Rosa moldava palavras, inventava termos e subvertia a gramática para dar voz ao sertão mineiro em sua forma mais genuína. Reproduzir esse universo em alemão significou enfrentar dilemas linguísticos, recriar cadências poéticas e preservar a densidade cultural do texto.
Um exemplo emblemático é o próprio “sertão”, incorporado ao dicionário alemão sem tradução direta, como prova de sua força simbólica. O romance exige mergulho profundo, misturando filosofia, oralidade e ambiguidades que tornam a tradução um exercício de reinvenção. Zilly conciliou o tom poético e enigmático da narrativa com a tradição literária germânica, sem reduzir a obra a exotismo ou perder seu caráter universal.
O resultado, previsto para 2026, reforça o alcance mundial do romance nascido em Cordisburgo. Mais que um clássico brasileiro, Grande Sertão: Veredas se confirma como patrimônio literário universal, capaz de atravessar idiomas e culturas sem perder sua singularidade, reafirmando o gênio criativo de Guimarães Rosa.
Com informações de DW - Deutsche Welle
Foto: Fabio Correa/DW
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