A delação premiada feita pelo empresário Marcos Valério, operador do mensalão petista e do mensalão mineiro, em acordo com a Polícia Federal, atinge em cheio políticos de Minas que, até então, não apareciam entre as principais figuras dos casos, como o ex-secretário de Estado de Governo Danilo de Castro (PSDB), o ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Mauri Torres (PSDB) e o ex-ministro dos Transportes e ex-deputado Anderson Adauto (PRB).
De acordo com os anexos da delação, obtidos pela redação, o então presidente da Assembleia de Minas Gerais (ALMG), deputado Mauri Torres, teria solicitado um empréstimo de alto valor ao publicitário Ramon Hollerbach Cardoso, sócio de Valério nas agências SMPB e DNA Propaganda, para comprar um apartamento na avenida Olegário Maciel, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.
"Como o valor era um pouco alto, resolvemos, junto com o Banco Rural, fazer um empréstimo com o aval dele. Mas aí surgiu uma demanda do secretário Danilo de Castro, que era para ajudar, além do Mauri Torres, ele próprio e o governador de Minas”, escreve Valério no anexo 31 da delação. O chefe do Executivo mineiro era Aécio Neves (PSDB). “Fizemos um financiamento numa quantia maior e repassaríamos todos os valores em dinheiro para Mauri e Danilo”, diz o documento.De acordo com a delação do publicitário, no entanto, após o escândalo do mensalão petista estourar, o esquema de repasses precisou ser refeito, com Valério e os sócios pagando o financiamento do apartamento e realizando os repasses com dinheiro vivo oriundo “dos próprios bolsos”: “A partir daí, ficou acertado que o sr. Oswaldo Borges da Costa (ex-presidente da Codemig) iria providenciar o pagamento de tudo e quitar o empréstimo fraudulento feito com o Banco Rural para dar um ar de legalidade à operação”.
Repasses na Assembleia. Marcos Valério também afirma ter realizado repasses ao ex-ministro Anderson Adauto na época em que ele havia se tornado presidente da ALMG, em 1999. “Quando ganhamos a conta de publicidade da ALMG, passamos a fazer os repasses para uma conta em nome de Anderson Adauto”, conta o empresário.
Ainda segundo Valério, durante todo o tempo da presidência de Adauto na ALMG (1999 a 2001) foram destinados recursos para compra e reforma de um apartamento em Belo Horizonte. “Os recursos foram entregues em dinheiro vivo para pagar as despesas de mão de obra do apartamento, além do material de construção”, completa.
Composição. Na delação, o publicitário conta que, na disputa ao governo de Minas em 1998, o ex-senador Clésio Andrade teria pagado diversos deputados da base governista na ALMG para que ele fosse indicado como vice na chapa de Eduardo Azeredo (PSDB), que tentaria a reeleição.
Valério cita o nome dos deputados Carlos Melles, Bilac Pinto, Sebastião Costa e Paulo Piau como supostos recebedores desses repasses. Além destes, teriam sido realizados pagamentos a pessoas ligadas a Azeredo para “convencê-lo” a aceitar a indicação de Clésio Andrade, como o ex-deputado Amilcar Martins e o deputado estadual Agostinho Patrus (PV).
RESPOSTAS
Carlos Melles. Afirmou que foi secretário de Obras de Minas por quatro anos e que movimentou R$ 9 bilhões sem nenhuma denúncia contra ele: “Se você quer brigar comigo é falar de Clésio Andrade. Confesso que eu tenho até um pouco de asco de Clésio Andrade. Ele me tirou a oportunidade de ser vice-governador por duas vezes, uma com Eduardo Azeredo e outra com Aécio Neves. Nem se ele me desse todo ouro do mundo eu o ajudaria em algo. Isso é uma mentira”, disse.
Danilo de Castro. O advogado Sânzio Baioneta Nogueira disse que “É lamentável que um criminoso confesso, conhecido nacionalmente por todos os órgãos de persecução penal, venha a denegrir levianamente a imagem de um homem com mais de 40 anos de vida pública e reputação ilibada.Recentemente, aliás, o Sr. Marcos Valério inclusive buscou ludibriar a Justiça através da juntada de declarações falsas, visando obter a sua transferência para a cidade de Lagoa da Prata. Sua falta de compromisso com a verdade é uma marca que acompanha toda a sua trajetória, e esta é apenas mais uma prova disso. Não é à toa que o Ministério Público Federal e Estadual recusaram as ofertas de colaboração propostas por este cidadão.Marcos Valério, nas palavras do Procurador-Geral da República à época do Mensalão, “é um jogador”. Sobre estes fatos ele já trouxe várias versões distintas, sendo esta apenas mais uma de suas inverdades. Por fim, é bom lembrar que os fatos noticiados pelo delator já foram objeto de exaustiva apuração por parte do Ministério Público, que, acertadamente, não vislumbrou qualquer irregularidade por parte de Danilo de Castro”.
Mauri Torres. O advogado Sânzio Baioneta disse que as acusações contra Torres são “fantasiosas e descabidas por parte do Sr. Marcos Valério. Em mais uma tentativa de atenuar sua condenação à pena de 40 anos de reclusão em regime fechado, decorrente do julgamento do processo conhecido como Mensalão, novamente este cidadão apresenta versão absolutamente inverídica sobre os fatos. Mauri Torres possui total consciência da retidão que sempre acompanhou sua atuação profissional, e está tranquilo em relação aos fatos, já apurados à exaustão pelo Ministério Público, que concluiu pela inexistência de qualquer irregularidade. Caso seja confirmado que ele realmente realizou tais afirmações inverídicas, todas as providências jurídicas cabíveis serão tomadas”.
Outros. A reportagem não conseguiu contato com o deputado estadual Agostinho Patrus (PV), o deputado federal Marcus Pestana (PSDB), Amilcar Martins, Anderson Adauto, Custódio Mattos, Márcio Kangussu, Paulo Piau, Sebastião Costa e Vanessa Lucas.
IDAS E VINDAS
Em Brasília. A delação de Marcos Valério foi inicialmente rejeitada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). O acordo com a Polícia Federal ainda precisa ser homologado pelo STF.
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