O uso de drogas entre pessoas mais velhas tem aumentado nas últimas décadas, com taxas que sobem mais rapidamente do que aquelas analisadas entre os mais jovens. Conforme dados divulgados nesta terça-feira (26) pelo “Relatório Mundial sobre Drogas” do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) as substâncias mais consumidas entre pessoas acima de 50 anos são medicamentos sintéticos (opioides), analgésicos e canabis.
A Organização das Nações Unidas (ONU) também chamou a atenção para o uso indiscriminado de opioides sem prescrição médica – responsáveis por 76% das mortes associadas ao consumo de substâncias psicoativas no mundo.
Levantamento feito pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) a pedido de O TEMPO mostra expansão de 63% nas vendas desses medicamentos no país entre 2012 e 2016; nos Estados Unidos, o vício é responsável pela morte de 78 pessoas por dia.
A UNODC lança a hipótese de que parte dos “baby boomers” que se viciaram em entorpecentes na juventude não deixaram esses hábitos de consumo com a idade. Nos Estados Unidos, por exemplo, em uma década (entre 2006 e 2016), o número de consumidores de drogas com mais de 50 anos triplicou, passando de 3,6 milhões para 10,8 milhões. Na Europa, a tendência é similar, embora menos acentuada, com taxas de consumo de canabis entre as pessoas de 55 a 64 anos crescendo em um ritmo maior em relação a outras faixas etárias.
No Brasil, não é possível confirmar essa tendência porque não existem dados recentes sobre consumo de drogas entre a população, de acordo com a cientista política e diretora executiva do Instituto Igarapé, Ilona Szabó. “A última pesquisa, feita em 2015, está pronta para publicação, mas continua embargada pelo Ministério da Justiça”, critica. Ilona reforça que os usuários mais velhos também merecem uma atenção especial, já que o uso problemático dessas substâncias em idade mais avançada tem efeitos distintos.
Mortes. Segundo o relatório da UNODC, pessoas idosas que usam drogas são responsáveis pelo crescimento de mortes causadas diretamente por esse consumo. Globalmente, esse aumento foi de 60% entre 2000 e 2015, e as pessoas com mais de 50 anos representaram 39% dos óbitos relacionados aos transtornos por uso de drogas em 2015. Em 2000, os idosos representavam apenas 27% das mortes por transtornos relacionados ao uso de drogas.
Em torno de 75% das mortes por transtornos relacionados ao uso de drogas entre pessoas com 50 anos ou mais estão ligadas ao uso de opioides.
Uma mudança na atual política de drogas da América Latina já começou. De acordo com a pesquisadora do Instituto Igarapé, que lançou nesta terça-feira o site Monitor de Políticas de Drogas nas Américas, Ana Paula Pellegrino, “muitos países estão deixando de lado exigências dos tratados internacionais, superando a busca por um mundo livre de drogas, em prol da construção políticas inovadoras e de comunidades mais saudáveis e seguras”.
A descriminalização, a despenalização do consumo e a adoção de penas alternativas ao encarceramento são alguns exemplos. O Uruguai foi o primeiro país a dar esse passo a nível nacional. A decisão, no entanto, chegou a ser considerada “irresponsável” pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes. “Precisamos seguir de perto o impacto dessas experiências, pois elas irão definir o futuro da política de drogas no mundo”, diz Ilona Szabó.
O site está disponível em português, inglês e espanhol.
Washington, EUA. A produção de cocaína e ópio alcançou níveis recordes, segundo as Nações Unidas. A produção de ópio aumentou 65% de 2016 para 2017, chegando a 10,5 mil toneladas, a maior marca registrada pela agência. O Afeganistão é responsável pela grande maioria, com produção de 9.000 t. Quanto à cocaína, a produção global em 2016 alcançou 1.410 t – aumento de 25% em relação a 2015. Um único país também é o principal responsável pela produção: a Colômbia, onde houve aumento de mais de um terço entre 2015 e 2016.
Por Litza Mattos - OTempo
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