Perto de enviar projeto de adesão ao chamado regime de recuperação fiscal à Assembleia Legislativa, o governador Romeu Zema (Novo) nem seu secretário de Governo, Custódio Mattos (PSDB), que faz a ponte com o Legislativo, buscou o apoio dos deputados para a aprovação da impopular e amarga solução encontrada pela atual gestão para tentar superar a crise financeira, com déficit oficial de R$ 11,5 bilhões, herdado do antecessor Fernando Pimentel (PT).
Como foi reafirmado pelo relatório do Tesouro Nacional, divulgado na sexta (7), para aderir à recuperação fiscal e renegociar sua dívida junto à União no valor de R$ 90 bilhões, no programa do governo federal, o estado terá que, obrigatoriamente, privatizar suas empresas, congelar salários, aumentar a contribuição previdenciária dos servidores e até demitir pessoal.
São medidas de grande impacto negativo que dependem do aval do Poder Legislativo, onde até hoje, cinco meses e 10 dias após sua posse, o governo Zema não conseguiu fazer o dever de casa e montar base de sustentação política. Ao eleger Zema, o novato partido Novo só elegeu três deputados, que também não votam fechado com o governador.
Apesar dos remédios amargos e impopulares, o governo não dialoga com os parlamentares nem os prepara o tamanho do desafio que terão pela frente. Ou seja, age como se não tivesse interesse pela aprovação da matéria ou como se quisesse ser mesmo derrotado.
Diante disso, cresce, entre os 77 deputados estaduais, a impressão de que o governo não busca apoio para o projeto, não pela inabilidade na relação política, mas porque saberia das dificuldades em vê-lo aprovado, tendo, a partir daí, argumento para se defender ao lançar a responsabilidade sobre a Assembleia que não teria colaborado para tirar o estado do vermelho.
Enfim, apresenta um projeto dessa magnitude, que impõe perdas para o estado e alteração constitucional, mas não se digna a conversar com os deputados para que não sejam ‘flagrados fazendo política’, já que a prática foi criminalizada pelo partido Novo na campanha eleitoral.
O que tem causado espanto entre os deputados não é o fato de o governador e seu partido serem novatos e inexperientes, mas de o secretário Custódio Mattos, político de grande experiência, não conseguir avançar na organização da base política. Para muitos, o tucano estaria desatualizado da nova realidade política na Assembleia, onde há representação fragmentada de 28 partidos.
Custódio já foi prefeito duas vezes (Juiz de Fora), deputado federal por vários mandatos e secretário de estado nos governos tucanos (Aécio e Anastasia), mas, igualmente, não dialoga. Como disse lá um deputado, “falta mais carinho do que caneta”, referindo-se à falta de trato em tempos de poucos recursos.
Além da questão política, a maioria dos deputados duvida da eficiência do projeto de recuperação fiscal, por conta da imposição de privatizações e sacrifícios aos servidores e, principalmente, pelo desastroso resultado alcançado pelo Rio de Janeiro, único estado brasileiro a aderir ao programa federal.
Para se ter uma ideia da crise naquele estado, após a recuperação fiscal, o Rio contraiu empréstimo de R$ 2,9 bilhões, deu uma estatal como garantia e, ao final, não pagou a dívida nem privatizou a empresa pública (Companhia Estadual de Águas e Esgotos, a Cedae).
E mais, quem conduziu a negociação do estado do Rio, à época, foi o secretário da Fazenda, Gustavo Barbosa, que, hoje, tem o mesmo cargo no governo mineiro. Seria bem recebido no governo federal após o calote fluminense?
Junto do benefício de suspender o pagamento da dívida, o que o governo mineiro já não o faz há um ano, o estado poderá contrair empréstimo com aval do Tesouro Nacional. Se o Rio conseguiu R$ 2,9 bilhões, Minas poderá conseguir até o dobro, o que, por outro lado, pouco representaria para um estado no qual a folha de salário de servidores é de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões mensais. Como comparou outro deputado sobre a situação financeira de Minas: “aquilo é como descarga estragada; desaparece tudo pelo ralo dos gastos”.
Tudo somado, os deputados estão convencidos de que o projeto não resolverá a crise mineira. “A não ser que seja para Minas também dar o calote no empréstimo, como fez o Rio”, provocou um deles, advertindo que a medida não irá salvar o estado. Como alternativa, os parlamentares defendem que o estado privatize, neste ano, a Codemig (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais), a estatal do precioso nióbio, que já está com projeto adiantado nesse sentido, e aguarde os efeitos da reforma da previdência, além de torcer pela retomada do crescimento econômico do país.
E que, em 2020, fizesse nova avaliação dos números do estado antes de adotar medidas drásticas como a recuperação fiscal, que impõe a perda de seus maiores patrimônios. O assunto deverá pautar as sabatinas que a Assembleia realiza, a partir de hoje, com os secretários de estado, especialmente da área econômica.
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