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Aulas particulares viram alternativa em meio às incertezas da volta das escolas

Procura tem sido maior por parte de pais de alunos em fase de alfabetização em Minas Gerais; na capital, Secretaria de Educação diz que vai priorizar crianças quando as atividades escolares forem iniciadas

29/05/2020 às 11h08
Por: Redação Fonte: O Tempo
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O pequeno Lucas faz aulas para alfabetização com a professora Virgínia - Foto: Ramon Bitencourt
O pequeno Lucas faz aulas para alfabetização com a professora Virgínia - Foto: Ramon Bitencourt

Nas pranchetas com as letras do alfabeto, crianças descobrem os sons e a formação das palavras. Em cada sílaba pronunciada, uma conquista diária de aluno e professor. Considerada uma das mais importantes etapas da educação, a alfabetização nas escolas foi interrompida por uma das maiores pandemias dos últimos séculos. Diante das dificuldades em realizar o processo de forma remota, por meio das videoaulas, crescem também as incertezas sobre os danos causados pela paralisação da aprendizagem presencial.

E uma das alternativas encontradas por muitos pais têm sido as aulas particulares. É o caso da contadora Ariadne Cunha, de 36 anos, que enfrentou muitas dificuldades para ajudar o filho Lucas, de 5, a estudar e fazer as tarefas enviadas pela escola. “Eu tinha dificuldade para prender a atenção dele. Essa é uma característica das crianças, que precisam de uma didática melhor para aprender. Como mãe, eu não tenho isso, minha formação é diferente”, relata.

Depois de conhecer o trabalho de uma professora, ela resolveu levar o pequeno para fazer um teste. E o resultado, conforme Ariadne, tem sido excepcional.“Para ele foi muito bom, o que me deixou bem surpresa, já que ele gosta bastante de ir para a atividade. O Lucas precisa interagir, e sinto que a professora está dando continuidade ao ensino. Na aula online, ele não fica tão atento, queria fazer algo diferente toda hora”, afirma.

Com a alfabetização em dia, Lucas começa seus primeiros passos na leitura e na escrita. “Nesta semana mesmo eu coloquei um enfeite novo na casa, em que estava escrito ‘amar’. Ele nunca tinha visto e conseguiu ler. Não é algo barato, o custo dessas aulas fica em torno de 50% do valor da escola, mas foi muito bom para o seu desenvolvimento. Agora ele não fica em casa só vendo TV”, completa.

E todos os dias da semana, a pedagoga Virgínia Ferreira Ramos, que é especialista em alfabetização e letramento, dá aulas para crianças como o Lucas. Desde o início da pandemia do coronavírus em Belo Horizonte, há mais de dois meses, ela conta que o perfil dos responsáveis que procuram as atividades particulares mudou. “Os pais estão diante de diferentes desafios, visto que eles não possuem a didática para continuar, por si sós, o processo de alfabetização. Se as crianças não estão tendo aula online, fica ainda mais desafiador para as famílias com esse perfil”, explica.

E diante das mudanças trazidas pela doença nos hábitos, a especialista tem adotado várias precauções, como o uso das viseiras acrílicas, maior distanciamento em relação ao aluno, além de horários alternados com espaço de tempo entre um atendimento e outro. “Isso para que eu possa realizar a higienização do espaço e, assim, consiga seguir as orientações dos órgãos competentes”, complementa.

A professora, que também atua em uma escola da rede particular, lembra que o processo de alfabetização envolve diversas etapas, como jogos e trabalhos em grupo para reforçar o aprendizado. Com a paralisação das unidades de ensino por tempo indeterminado, ela enfatiza que podem ocorrer alguns prejuízos. “O processo vai sofrer algum trauma de qualquer maneira, já que a aprendizagem das crianças tem como base a troca entre os pares. Eles aprendem muito com as diferenças de cada um”, argumenta.

De acordo com Virgínia Ferreira, as crianças sentem muita falta do ambiente escolar e das relações interpessoais que cada uma criava naquele espaço. “Vejo isso nos alunos que continuo atendendo e até no contato virtual com os outros. Como trabalho em escola particular, dei aulas online e, quando entrava na sala de bate-papo, eles falavam da saudade, que é ruim ficar em casa o dia todo. Nesse momento de escuta, valido os sentimentos deles e aproveito para desenvolver neles as habilidades socioemocionais, como, por exemplo, resiliência, autocuidado, otimismo e paciência”, diz.

Retorno contará com diagnóstico de cada aluno

Em cada família, uma realidade socioeconômica que afeta diretamente a continuidade do ensino dentro de casa. Enquanto alguns pais não possuem facilidade com a didática e a manutenção dos estudos, seja pelos exercícios enviados pelas escolas ou por meio das aulas online, uma parte consegue custear as aulas particulares para os pequenos.

Como cada criança deve retornar às escolas com diferentes níveis de aprendizagem, a presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Reis, lembra que a orientação é que cada unidade realize um diagnóstico de aprendizado entre cada aluno. “Essa medida vai dar condições de os coordenadores verificarem o grau de aprendizagem de cada um. Mesmo presencial, ela não é igual para todos, e há alunos com mais facilidade para uma matéria, outros para outro tipo de conteúdo”, explica.

Segundo a dirigente, a expectativa é que o diagnóstico forneça informações para complementar o planejamento das aulas no restante do ano letivo. “Com ele, terá condições de ver os pontos cruciais para vencer essa etapa sem ser sacrificado, sem uma avalanche de informação que possa desorientar o aluno. Tenho absoluta certeza que nesse planejamento será priorizado o que é necessário para que o aluno vença esse ano”, tranquiliza.

‘Diferenças não podem ser acirradas’

Para a diretora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Faculdade de Educação da UFMG, Francisca Izabel Pereira, a maioria das famílias não tem acesso às ferramentas necessárias para a continuidade das aulas remotas, como computador e internet. Por isso, a especialista acrescenta que a pandemia pode acirrar ainda mais as desigualdades sociais.

“São realidades sociais muito distintas, e as escolas precisam cuidar dessas diferenças para que elas não sejam tão acirradas no retorno. Apenas começamos o ano letivo, e de certa forma essa interrupção trará consequências. São novos aprendizados, e não há uma receita ou experiência anterior para saber como fazer”, comenta.

Crianças priorizadas na volta às aulas

Na educação infantil, a responsabilidade da gestão das unidades é de cada prefeitura. Em Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Educação informou, por nota, que, quando for possível, o primeiro grupo a retomar presencialmente às atividades será o das crianças em processo de alfabetização. 

“Em atenção aos processos de ensino-aprendizagem, especialmente sobre o processo de alfabetização e letramento, destacamos que se trata de um processo complexo que exige a mediação qualificada de profissionais da educação, uma vez que é preciso ter clareza sobre os fundamentos da apropriação da linguagem escrita e da cultura dos sujeitos envolvidos nesse processo”, resume a pasta.

Ainda de acordo com a secretaria, não será tomada nenhuma decisão precipitada na capital mineira sobre a volta às aulas, que é discutida com diversos setores. “Estamos vivendo um contexto excepcional, um tempo de inseguranças e medos, mas, concomitantemente, um tempo de novas possibilidades, novas aprendizagens, novas experiências, e perspectivas desafiadoras, em que o nosso compromisso primeiro é com a vida dos estudantes, profissionais da educação e famílias”, finaliza.

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