A candidata à Câmara Municipal de Belo Horizonte Tainá Rosa (PSOL) entrou, ontem, com representação no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por ter sido vítima de injúria racial e crimes informáticos durante a realização de uma reunião virtual de sua candidatura.
No último sábado, a plenária organizada por Tainá e por Lauana Nara, pelo Google Meet, foi invadida por hackers, que inseriram mensagens ofensivas, machistas e injúrias raciais como “pretos macacos” e “brancos no topo”. Além disso, o encontro foi interrompido por músicas com volume alto inseridas pelos hackers.
“Tentamos mediar, mas quando a gente tentava falar eles colocavam uma música de funk muito pesada, muito pejorativa, (falando) que nós mulheres negras não prestamos, funk de cunho sexual, e mais uma vez colocando a mulher negra como objeto sexual”, disse Lauana. Ela relata que, mesmo mudando para o Facebook para dar continuidade à reunião, o encontro estava sendo derrubado a todo instante.
Tainá e Lauana se propõem a uma candidatura coletiva. As duas se proclamam candidatas, mas como não há legislação que permita isso, a candidatura foi registrada no nome de Tainá. Caso ela seja eleita, as duas pretendem exercer o mandato conjuntamente.
“É lastimável a gente perceber que tem pessoas que disponibilizam seu tempo para promover ataque e violência. É muito triste, mas é também um sintoma do tempo que a gente está vivendo. No campo político, tem muita narrativa do ódio, do ataque, do combate. Isso não vai me intimidar, fui nascida e criada em uma das favelas mais violentas de Belo Horizonte. A adversidade não me assusta, embora isso seja uma pena, pois não podemos banalizar a violência”, disse Tainá.
Além de Tainá e Lauana, participavam também da plenária virtual: Leonardo Péricles (UP), candidato a vice-prefeito de Belo Horizonte na chapa com Áurea Carolina (PSOL), Laura Fusaro, membra do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Luana Costa, educadora e comunicadora popular, e o mediador da Bim Oyoko, que é poeta, rapper e candidato a vereador pelo PSOL em Sarzedo.
Doutor em ciência política pela Universidade Federal de Minas Gerais, Paulo Victor Teixeira Pereira afirma que ataques como esse devem ser recorrentes nas eleições deste ano, principalmente devido às campanhas em redes sociais.
“Racismo é uma chaga que o Brasil carrega e que devemos muito lutar para combater. Uma tese recente defendida na Universidade de Southampton aponta que as mulheres negras são as mais atingidas por ataques em redes sociais. Então, combater o racismo é uma atividade de toda a sociedade”, avaliou. “Os candidatos devem estar preparados para campanhas negativas, principalmente em campanhas cada vez mais digitalizadas”, completou o especialista.
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