O goleiro Bruno Fernandes – condenado por homicídio triplamente qualificado de Eliza Samúdio, mãe de seu filho, e de cárcere privado do próprio filho, Bruninho – marcou um gol, na noite dessa quinta (22), pela Série D do Campeonato Brasileiro. É o primeiro tento do atleta após mais de 10 anos, período no qual ficou preso e tentou retornar ao futebol em diversas oportunidades – todas marcadas por polêmicas.
O gol do arqueiro ocorreu aos 8 minutos da etapa final da partida entre sua atual equipe, Rio Branco-AC, e Bragantino-PA. O atacante da equipe acreana Vandinho sofreu falta dentro da área e Bruno decidiu cobrar a penalidade máxima. O defensor bateu alto, no canto direito do goleiro adversário, e abriu o placar do duelo, que terminaria empatado em 1 a 1.
É o primeiro gol de Bruno após a prisão pelo assassinato e ocultação de cadáver da modelo Eliza Samúdio. O último tento tinha ocorrido em 26 de maio de 2010, quando o arqueiro marcou pelo Flamengo na derrota para o Fluminense, por 2 a 1. A atual equipe disputa a Série D do Brasileiro e ocupa a quarta colocação do Grupo 1, com 13 pontos em oito jogos disputados.
Justamente pela atrocidade do crime, a volta de Bruno aos gramados sempre foi cercada de polêmica. Quando confirmada sua contratação pelo Rio Branco, a técnica do time feminino, Rose Costa, pediu demissão da agremiação. “Foi uma decisão unilateral, uma vez que parte da diretoria não concordava com essa contratação. Soube que o o presidente havia fechado negócio com o Bruno por meio da imprensa, acredita? Mesmo com apelo – tanto de torcedores como de funcionários do clube –, não houve como negociar”, afirmou a treinadora, à época.
Em outubro do ano passado, quando Bruno estava prestes a estrear pelo time mineiro Poços de Caldas FC, a mãe de Eliza Samúdio, Sônia, concedeu entrevista exclusiva ao BHAZ. “Eu sou a favor do condenado trabalhar, não sou contra a ressocialização, mas ele matou uma pessoa brutalmente, e me assusta pensar que ele pode ser ídolo de uma criança”, afirmou. condenado a 20 anos e nove meses de prisão, progrediu para o regime semiaberto em julho de 2019 e, com autorização da Justiça, pode trabalhar durante o dia.
À época, a coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benário e da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, Indira Xavier, afirmou à reportagem que o assunto em tese é bastante complexo e exige um diálogo aprofundado. “Eu não concordo com um Estado punitivista, que encarcera e acha que isso resolve o problema. O condenado precisa trabalhar, sim, mas é necessário analisar caso a caso”, ponderou.
“No caso em questão, ele retornar para uma posição de tamanho destaque, é um dano para a sociedade. As pessoas são reflexo do meio social e violência contra a mulher é uma construção social. Alguém que cometeu um crime tão grave quanto o dele, inclusive com ocultação de cadáver, ter essa visibilidade agora, naturaliza a violência”, afirmou.
“Ele voltar a uma posição similar a que estava antes, ter a possibilidade influenciar socialmente, de ser um ídolo para crianças e uma referência masculina, dá a impressão de que se pode cometer esse tipo de violência, cumprir a determinação judicial e que está tudo bem”, destacou Indira.
Ela ressaltou a necessidade de ressocialização, mas com ressalvas. “É uma situação muito complexa. Ele deve trabalhar sim, mas essa é a única opção? Esse lugar de destaque? Será que é a única coisa que ele sabe fazer? Ele é jovem, pode ser qualificado, reinserido, mesmo que no mundo do futebol – algo que ele tem conhecimento, mas não com esta visibilidade, talvez nos bastidores. Achamos que ele não deve voltar pra esse lugar de destaque, de prestígio”.
O especialista em segurança pública e ex-secretário de Defesa Social do Estado de Minas Gerais, Luis Flávio Sapori, também conversou com a reportagem e discordou do raciocínio ao afirmar que “delimitar a atuação seria um absurdo em vários sentidos”. “Se ele pode retomar o trabalho que ele sabe fazer, ele não pode ser impedido. Eu acredito, inclusive, que ele não vá alcançar a posição de ídolo. Ele vai voltar com um estigma, vai ser pra sempre ‘o mandante do assassinato da Eliza’. É uma mancha indelével, um estigma merecido inclusive”, disse.
O estudioso ainda reforça que Bruno está “cumprindo devidamente o que a lei prescreve”. “É compreensível a dor dos familiares e a critica que parte da sociedade faz, mas não há nada de excepcional nesse contexto. Não há como pensar algo diferente, inclusive porque a lei de execução penal no Brasil trabalha com a ideia de menos punição e muito mais com a ideia de reinserção do preso”, argumentou Sapori.
Já Indira alegou que usar como base apenas o argumento jurídico não é a melhor saída. “No Estado, certas condutas sociais não são permitidas, exatamente para garantir o bem estar coletivo. O limite jurídico foi alcançado por esse indivíduo. Ele cumpriu o que a lei previa. Mas o limite social que ele rompeu com o crime que cometeu, suscita algo maior a respeito das sanções legais estabelecidas, uma interpretação no sentido de talvez delimitar o campo de atuação profissional dele”.
E ressaltou os recordes de violência contra a mulher em Minas Gerais como mais um ponto a se considerar em todo o processo. “Nós estamos no Estado que mais matou mulheres nos últimos 2 anos, segundo o Mapa da Violência. Cerca de 4 mil foram assassinadas, e 47% desses crimes foram tipificados como feminicídio, o que significa aproximadamente 2 mil mulheres mortas por crime de ódio. Dada a particularidade do crime que ele cometeu, nós vemos a impossibilidade dele voltar a um lugar de destaque, o que só dá uma certeza de que está tudo bem. Banaliza a vida das mulheres”.

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