Quando Rosa (nome fictício) precisou procurar documentos pessoais para o mestrado, aos 33 anos, ela não imaginava que encontraria um relatório destinado à sua mãe e que mudaria tudo o que ela conhecia sobre si.
O texto dizia que ela era portadora de uma condição genética conhecida como “insensibilidade aos andrógenos”, e que, aos sete meses, passou por uma cirurgia de transição de gênero para o feminino.
"Durante 33 anos eu vivi uma farsa. Eu sempre desconfiei de que havia uma história que não era contada sobre mim", relembrou.
Segundo a Anistia Internacional, “intersexo” é o termo usado para descrever pessoas cujos órgãos genitais, características cromossômicas ou hormonais não correspondem ao padrão para categorias masculinas ou femininas de anatomia sexual ou reprodutiva. O prontuário de Rosa indicava que, na verdade, ela era portadora de cromossomo XY e que, ao nascer, tinha testículos palpáveis, saco escrotal e todo o aparelho sexual masculino.
"A descoberta, para mim, foi como se fosse um quebra-cabeças que, agora, estava montado".
A descoberta da intersexualidade foi um marco para a transição de Rosa, que, em 2016, passou a se identificar como uma pessoa trans-masculina: Amiel Modesto Vieira. O sociólogo, hoje com 39 anos, diz que, junto do nome, nasceu também o compromisso de falar sobre a intersexualidade.
Segundo Amiel, antes de nascer, a família dele esperava por um menino. E, quando nasceu, o registro deste menino foi feito: Luíz Henrique Modesto Vieira. Os médicos, porém, de acordo com ele, foram contra, de modo que os pais dele fizeram um novo documento, desta vez para a menina, Rosa, que nasceu aos sete meses.
"Só que o problema é que eu nunca me adaptei a este feminino".
Atualmente, Amiel se pronuncia como contrário às cirurgias feitas em bebês intersexuais. Para ele, o procedimento deve ser adiado para quando o próprio indivíduo tiver autonomia para decidir. O posicionamento dele é o mesmo da ONU.
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