O simples fato de ser extraído da folha de maconha pode falar mais alto do que seus efeitos, mostrando o preconceito que ainda existe para muitas pessoas quando o assunto é o uso do canabidiol. O produto revolucionou o tratamento de doenças como a epilepsia e outras síndromes do sistema nervoso central, a exemplo de Alzheimer e Parkinson, já sendo bastante utilizado por atletas, principalmente depois de 2018, ano em que não foi mais considerado doping.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), hoje, mais de 50 milhões de pessoas sofrem com doenças que afetam os neurônios do cérebro. A estimativa para 2050, é que esses casos tripliquem, chegando a 152 milhões.
A quebra de barreiras teve, em 2014, um dos momentos mais importantes quando uma criança de sete anos de Sorocaba (SP) ganhou na Justiça o direito de receber gratuitamente o produto. Bernardo Betega de Assis, de sete anos, foi diagnosticado com um grave tipo de epilepsia, recebendo decisão da Vara da Infância e Juventude da cidade, que determinou que os governos estadual e municipal financiassem o tratamento do garoto.
A partir daí, algumas importações foram sendo judicializadas. Desde então, o crescimento do mercado tem sido vertiginoso, aproveitando a autorização, desde 2015, para uso terapêutico dentro do país. Foi questão de tempo para seu uso também acontecer com frequência no mundo esportivo.
Apesar da Agência Mundial Antidoping autorizar o uso da substância, a resistência sobre o canabidiol ainda é grande, enfrentando o pensamento de muitos em virtude da sua origem vir de uma planta considerada uma droga, mas que tem seu uso medicinal e até recreativo permitido em alguns países.
"O preconceito e o proibicionismo atrapalham a pesquisa e o tratamento de pessoas que podem se beneficiar do canabidiol, uma vez que dificultam o acesso à substância", comenta Fabrício Moreira, professor de Farmacologia na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Para ele, o contexto poderia ser outro se não fosse pela maneira como a situação é vista por muitos. "Este é um tema dinâmico e em constante transformação. Nosso grupo de pesquisa na UFMG e outros pelo Brasil têm estudado intensamente o tema há vários anos. No entanto, neste momento, a falta de financiamento para pesquisas, por parte do governo federal, tem sido catastrófica para o avanço nesta e em outras áreas da ciência", esclarece.
Resistência e preconceito
A resistência sobre o assunto ainda é grande, não somente entre o público que pode vir a consumir e se beneficiar do produto como dos próprios médicos.
"Somente a educação da população pode fazer todos entenderem que não estamos falando de maconha e sim de produtos derivados da planta canabis sativa. Se estivéssemos falando de alguma outra planta, que possa proporcionar o uso fitoterápico, o preconceito tinha tudo para não existir ou ser menor", analisa Renato Anghinah, professor da Faculdade de Medicina da USP e CMO (Chief Medical Officer) da HempMeds.
"Quando fala-se em canabis sativa, aparece, automaticamente, um pré julgamento de que trata-se de algo inadequado. Estamos falando de produtos derivados da canabis, não é o uso da maconha em si. Muitos médicos ainda não se inteiraram do assunto por completo. Educar a todos é um desafio grande. É algo que acontece no mundo todo, com alguns países em nível mais avançados de entendimento. Ainda há um longo caminho a ser vencido", reforça Renato.
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