Cachaça produzida em Felixlândia, região Central de Minas, a Flor das Gerais Dorna Única, envelhecida por quatro anos em amburana, acaba de ganhar medalha de ouro no International Organic Products Competition, prestigiada competição francesa que premia os melhores produtos orgânicos do mundo. Organizado pela AgriBioProTech, o prêmio destaca bebidas com excelência sensorial combinada a práticas de produção sustentáveis ??e éticas. Nessa edição, 500 bebidas de 18 países, dentre elas vinhos, cervejas e destilados, participaram. Na categoria de destilados foram 56 inscritos e apenas 13 receberam medalhas de ouro e prata. Em Sete Lagoas, a premiada bebida é comercializada na Carne & Afins, Espaço Milena Gonçalves, Supermercado Santa Helena e Supermercado Santa Helena.
Responsável técnico da empresa, o engenheiro agrônomo Daniel Duarte afirma ter recebido com alegria a notícia, principalmente por saber que a conquista eleva não só o nome do Brasil, mas também o de Minas Gerais e o da cidade de Felixlândia. “Essa medalha de ouro é um reconhecimento do esforço iniciado há de mais de 20 anos, quando demos início na conversão de agricultura tradicional para agricultura orgânica, e do esforço em manter essa certificação ano após ano, desde 2009”, destaca acrescentando que a Flor das Gerais Dorna Única foi lançada em 2021, fruto de um trabalho voltado para a produção de cachaças especiais, do qual fizeram parte pesquisas acadêmicas, contratação de empresa de design e analistas sensoriais. O sucesso do produto foi tamanho que já em seu primeiro ano ganhou quatro prêmios nacionais e internacionais.
Ainda segundo Daniel, a Dorna Única é a primeira cachaça da Flor das Gerais que faz parte de uma linha com três extra premium. A segunda, Reserva - Porto Douro, envelhecida por 10 anos em tonéis de carvalho europeu. Trata-se de um blend que incluí barris utilizados para armazenamento de vinho do porto, cujo rótulo faz parte da linha extra premium da destilaria, e antes mesmo de seu lançamento que acontecerá no dia 21 de maio deste ano, já foi premiado com a medalha de mérito sensorial na categoria Safras Especiais do concurso promovido pela Expocachaça – o New Spirits”, conta Duarte.
Já a terceira extra premium da Flor das Gerais, em fase de preparação, deve chegar ao mercado, segundo Daniel, em 2028/29. O objetivo do trio de novos rótulos é atender um público mais especializado, é atender um público mais especializado, que valoriza cachaças de qualidade e safras especiais.
Empresa em sintonia com as boas práticas socioambientais
Representante da quarta geração de empreendedores à frente da Flor das Gerais, Daniel Duarte faz questão de destacar que a marca tem produção 100% orgânica e, inclusive, é a primeira cachaça a obter essa certificação do estado, em 2009. “Somos também a que está há mais tempo com esse selo”. Para mantê-lo, a empresa precisa cumprir uma série de requisitos ambientais como não usar nenhum tipo de agrotóxico durante o plantio da cana de açúcar e no processo de produção, além de medidas socioeconômicas que impactem positivamente a vida de quem está envolvido no processo produtivo.
Produzida há mais de um século, a Flor das Gerais ainda ostenta seu grande engenho de madeira tracionado a Bois e construído em 1912, pelo bisavô de Daniel. A marca também desenvolve um projeto de envelhecimento sustentável, que consiste no cultivo de espécies destinadas à tanoaria, que é a fabricação de tonéis, barris e outros recipientes de madeira utilizados, principalmente, para a envelhecimento, conservação e transporte da bebida. “A nossa ideia com essa iniciativa é compensar a madeira que já utilizamos para envelhecer cachaças e no futuro produzir a madeira dos nossos próprios barris. É um projeto que vem sendo implementado nos últimos três anos e a nossa meta é plantar de 300 a 400 mudas/ano [de espécies tanoeiras]”, conta.
O engenheiro agrônomo reforça, ainda, que apesar de as práticas sustentáveis da empresa serem fundamentais, a credibilidade da marca no mercado não seria possível sem a atuação de seus pais, seu Adão e Dona Lúcia, os produtores que vivem na Fazenda Mourões, onde a produção é feita em um espaço de 90 hectares. “Eles são a espinha dorsal da cachaça e herdeiros de um conhecimento ímpar, iniciado pelo meu bisavô no século passado, transmitido ao meu avô, que, por sua vez, compartilhou com meu pai e, que continua sendo compartilhado”, destaca, revelando que a capacidade atual de produção é de cerca de 10 mil litros por ano, sendo que nos períodos de safra, de maio a setembro, o número de colaboradores chega a triplicar, passando de quatro para 12.
Outros prêmios importantes
A Flor das Gerais também acumula prêmios notáveis no currículo, e, nos últimos quatro anos, a marca vem sendo reconhecida em concursos nacionais e internacionais. No Brasil conquistou três premiações no New Spirits, concurso promovido pela organização da Expocachaça e duas premiações no Concurso Cachaças Mineiras, promovido pela EMATER. Fora do país foram duas premiações no Spirits Selection, sediado em Bruxelas, na Bélgica, e, uma premiação no Concours International de Lyon, na França.
Mercado mineiro se destaca
De acordo com dados do Anuário de Cachaça 2024 – ano base 2023, o Brasil possuía 1217 estabelecimentos produtores de cachaça. Deste total, 504 estão localizados em Minas Gerais, estado com maior número de cachaçarias registradas. Tal quantidade de estabelecimentos é um marco, pois é a primeira vez que uma unidade da federação supera a marca de 500 estabelecimentos registrados.
Em 722 municípios brasileiros há pelo menos uma cachaçaria, o que representa um aumento da dispersão em 5,4% se comparado a 2022, quando havia ao menos um estabelecimento em 685 municípios brasileiros.
Dos oito municípios que possuem mais estabelecimentos produtores de cachaça no país quatro são em Minas: Salinas (24), Alto Rio Doce (20), Rio Espera (16) e Córrego Fundo (10). Além disso, Minas Gerais é o estado com maior número de municípios que apresentam ao menos uma cachaçaria, alcançando a marca de 255 municípios, o que corresponde a 29,9% de seus municípios.
Segundo o anuário, em 2021, o Brasil atingiu o número de 5.968 registros de cachaças. Deste total, Minas também aparece na primeira posição com 2.144 produtos registrados. E aqui mais uma curiosidade: Belo Horizonte é o município com mais cachaças registradas no país com 336 produtos registrados.
Todos números destacados são relativos às cachaças registradas, aquelas aprovadas pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Afinal, fabricar cachaça é coisa séria e envolve a necessidade de muito preparo, responsabilidade e registro.
“Esses dados constatam o quanto temos know-how na produção de uma iguaria que hoje, sem dúvida, está entre as protagonistas na economia mineira”, finaliza Daniel.
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