A depressão e o suicídio são fenômenos complexos que trazem intenso sofrimento na vida das pessoas acometidas, de seus familiares, amigos e comunidade. Estes dois fenômenos coexistem e se influenciam mutuamente, e ambos são considerados significativos problemas de saúde pública.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a depressão é responsável por 4,3% da carga global das doenças e está entre as maiores causas de incapacidade no mundo, particularmente para as mulheres. Também refere que o suicídio é um fenômeno universal, sendo a principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos. Somente em 2012 ocorreram 804.000 suicídios em todo o mundo, o que representa uma taxa de 11,4 por 100.000 habitantes (15,0 em homens e 8,0 nas mulheres). De acordo ainda com a OMS para o ano 2020 ocorrerão, aproximadamente, um milhão e meio de suicídios em todo o mundo, ou seja, uma morte a cada vinte segundos.
Tanto a depressão quanto o suicídio resultam da interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais, sendo importante indicador da qualidade de vida das populações. A depressão caracteriza-se pelo prolongamento de sintomas depressivos e variação de humor. A pessoa acometida por esse transtorno tem a capacidade de ver o mundo e a realidade alterada.
O Brasil apresenta as maiores taxas de depressão, 18,4% da sua população já teve pelo menos um episódio depressivo durante a vida, ficando atrás apenas da França (21,0%) e Estados Unidos (19,2%). O Brasil também foi classificado como o quarto país da América Latina a apresentar o maior crescimento no número de suicídio entre 2000 e 2012, com taxa geral de 4,3 por 100.000 habitantes, porém alguns dos seus estados têm taxas expressivamente superiores. Houve um aumento significativo das taxas de suicídio entre mulheres, com 17,8% em 12 anos. No mundo, anualmente, o número de suicídios é superior às mortes em conflitos mundiais, com aumento de 60% em suas taxas nos últimos 50 anos.
Hoje os sintomas depressivos e de suicídio, que corresponde ao processo e causas de morte provocados pela própria vítima, é elevada entre os profissionais da saúde, que é muitas vezes influenciada pelo estresse do ambiente e processo de trabalho, que interfere significativamente na vida laboral destes profissionais, com impacto na qualidade de vida. Lentidão nas atividades, desinteresse, redução da energia, apatia, dificuldade de concentração, pensamento negativo e recorrente, com perda da capacidade de planejamento e alteração do juízo de verdade são evidências de sofrimento humano que sinalizam para depressão e possível risco de suicídio.
Os profissionais de enfermagem estão no grupo dos mais propensos aos problemas de saúde mental, dentre os quais a depressão e o risco de suicídio, porque lidam com o sofrimento humano, a dor, a alegria, tristeza e necessitam ofertar ajuda àqueles que necessitam de seus cuidados. Destacam-se, ainda, outros fatores comumente encontrados, como as condições difíceis de trabalho e a falta de reconhecimento profissional.
A depressão é uma das três doenças mais referidas pelos trabalhadores de enfermagem, os altos índices de depressão e riscos para o suicídio contrastam com o trabalho desempenhado pelos profissionais de enfermagem, de quem, geralmente, espera-se o cuidado, mas que também por outro lado, pode necessitar ser cuidado.
A enfermagem é uma profissão suscetível aos transtornos psíquicos, pelo fato de lidar cotidianamente com a vida, a dor e morte das pessoas sob seus cuidados e com as cobranças dos seus familiares. A depressão é uma das doenças que mais atinge seus profissionais e produz danos à capacidade laboral e vida pessoal. Como o estado depressivo é preditor do aumento do risco para o suicídio, os profissionais da enfermagem apresentam mais risco para o suicídio. Ambientes de trabalho insalubres, com condições precárias, somados à presença de conflitos internos e as exigências da instituição e familiares dos pacientes maximizam nestes profissionais os riscos para depressão e suicídio.
Os fatores apontados como influenciadores para os sintomas depressivos, são principalmente aqueles associados a desajustes na vida familiar dos profissionais de enfermagem. Também já foram confirmadas que perdas familiares, ausência de suporte familiar e conjugal elevam as chances para o risco do suicídio. Cabe ressaltar que o modo de trabalho dos profissionais de enfermagem produz prejuízo ao contato familiar, e a carência deste contato pode levar à depressão. Cansaço e excesso de trabalho comprometem o diálogo destes profissionais no seio da família, como também conflitos entre ter que corresponder às exigências do trabalho de enfermagem e conciliá-las com as responsabilidades familiares contribui para o desgaste relacional, além do que os plantões noturnos e em finais de semana muitas vezes ocupam o lugar dos períodos usados para aproveitar a convivência com a família.
Conflitos interpessoais no ambiente de trabalho são comuns e apareceram como fatores que levam à depressão. Em função do caráter relacional do trabalho de enfermagem, podem produzir irritabilidade, gerar conflitos e dificuldades interpessoais com os demais membros da equipe, como também com os gestores, usuários e ampliar-se para seus familiares.
Estudos demonstrou que a depressão nos profissionais de enfermagem também foi associada à insegurança para desenvolver as suas atividades laborais, as quais se caracterizam por padrões elevados de cobrança, principalmente quando envolve a alta complexidade e possibilidade de morte dos pacientes. Por vezes, o sofrimento psíquico contribuiu para o enfrentamento das demandas profissionais através do desejo de fuga das responsabilidades, da passividade e do pessimismo, comuns na depressão. O estudo também mostrou que a depressão atinge em maior escala grupos mais jovens dos profissionais da enfermagem do que os com idade mais avançada. A vulnerabilidade dessa escala jovem estaria ligada à pouca experiência em lidar com situações cotidianas do trabalho. A sobrecarga é considerada um fator que contribuiu muito para o aumento do estresse emocional e físico, que pode desencadear vários adoecimentos. A sobrecarga produziu desgaste físico e psíquico nos trabalhadores da enfermagem em UTI e encontra-se, principalmente, entre os fatores desencadeantes de pesadelos, depressão, ansiedade severa e pânico, gerando a Síndrome de Burnout.
Ambiente de trabalho;
Conflitos familiares;
Conflitos interpessoais no ambiente de trabalho;
Estado civil;
Estresse;
Falta de autonomia profissional;
Insegurança em desenvolver atividades;
Plantão noturno;
Renda familiar;
Sobrecarga de trabalho;
Síndrome de Burnout.
É necessário considerar a saúde e a qualidade de vida dos profissionais de enfermagem tendo em vista que a sua prática profissional se dá em realidades complexas, relações humanas das mais diversas, ter que lidar cotidianamente com diferentes exigências, defrontando-se com fatores que podem produzir risco para a depressão e o suicídio, e que contribuem para o adoecimento e comprometem a realização plena do cuidado. O profissional de enfermagem deve ser compreendido para além de um trabalhador da saúde, deve ser visto como uma pessoa que também pode sofrer danos à própria saúde.
Portanto, chamar a atenção para a gravidade dos riscos que corre, tanto no seu trabalho quanto na vida pessoal, em desenvolver transtornos mentais e que, muitas vezes é negligenciado, inclusive pelos próprios profissionais, é extremamente necessário. Medidas para melhorar as relações interpessoais no ambiente de trabalho dos profissionais da enfermagem devem ser adaptadas como diálogo, escuta, vínculo e acolhimento, visto que favorecem a compreensão do sofrimento, valorização das experiências e atenção às necessidades das diferentes pessoas envolvidas no processo de trabalho.
A equipe de enfermagem apresenta fragilidade no conhecimento sobre o comportamento depressivo que consequentemente gera o suicido o que repercute nas intervenções realizadas. Os profissionais da área de Saúde precisam estar atentos para que a presença de transtornos mentais seja detectada e enfrentada antes que cause prejuízos ao seu desempenho profissional. Devem-se identificar os problemas psíquicos entre esses profissionais, com o fim de formular programas educacionais e estratégias clínicas para a orientação e o diagnóstico precoce, com o objetivo de prevenir a cronificação do transtorno depressivo, diminuir o risco do suicídio e o aumento de outros transtornos psiquiátricos.
Por sou enfermagem
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