Terça, 13 de Maio de 2025
21°

Tempo limpo

Sete Lagoas, MG

Saúde Estudo

Pandemia pode precarizar assistência para gestantes e puérperas e deixar vítimas

Se cobertura de serviços de saúde cair de 39,3% a 51,9%, 1,16 milhão de crianças de até 5 anos e 56,7 mil mulheres em idade reprodutiva morreriam em um semestre, diz estudo

23/06/2020 às 08h50
Por: Redação Fonte: O Tempo
Compartilhe:
Viviane Diniz e Pedro Gouveia redobraram os cuidados na gestação do primeiro filho, que coincidiu com o período da pandemia Foto: Arquivo Pessoal
Viviane Diniz e Pedro Gouveia redobraram os cuidados na gestação do primeiro filho, que coincidiu com o período da pandemia Foto: Arquivo Pessoal

Ainda que não existam estudos suficientes para indicar se pessoas e no pós-parto estão mais suscetíveis a manifestações mais agudas da Covid-19, em uma medida preventiva, o grupo vem sendo considerado entre os de risco pelo Ministério da Saúde. No acumulado de pesquisas mais recentes, no entanto, a gravidez não aparenta ser uma condição de vulnerabilidade para as mulheres – a menos para aquelas que possuam alguma comorbidade.

Mesmo assim, por um efeito indireto, o novo coronavírus pode, nos próximos seis meses, provocar a morte por razões evitáveis de até 56,7 mil gestantes e puerpéras de 118 países de baixa e média renda, como o Brasil. O alerta vem de um artigo publicado em maio na “The Lancet Global Health”, um título online de acesso aberto da renomada revista científica britânica “The Lancet”. De acordo com a publicação, que se baseia em modelagem matemática, o aumento de mortes infantis e maternas será devastador se a oferta e a utilização de serviços de saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil e o acesso a alimentos forem diminuídos.

“Embora as taxas de mortalidade pela Covid-19 pareçam ser baixas em crianças e mulheres em idade reprodutiva, esses grupos podem ser desproporcionalmente afetados pela interrupção dos serviços de saúde de rotina”, assevera a equipe de pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, em Baltimore, nos Estados Unidos. Preocupa os estudiosos que, à luz de experiências anteriores em epidemias recentes, os sistemas de saúde tenham que lutar para conseguir manter os serviços de rotina. Além disso, nessas situações, há queda na procura por atendimento. O fenômeno foi percebido, por exemplo, durante a epidemia do vírus ebola de 2014: um estudo demonstrou que, durante o surto, a cobertura de atendimento pré-natal diminuiu 22 pontos percentuais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece e alerta que, de fato, em função de uma emergência de saúde, “os serviços básicos, essenciais e regulares de saúde são negligenciados” e “pessoas com problemas de saúde não relacionados à epidemia acham mais difícil obter assistência”.

Os cenários desenhados pelo artigo da “The Lancet Global Health” indicam três projeções diferentes, baseadas na redução de variáveis nos serviços de saúde como vacinas, pré-natal e planejamento familiar. No caso de queda de 9,8% a 18,5% na cobertura desses serviços de assistência, ao longo de seis meses seriam 253,5 mil mortes infantis adicionais e 12,2 mil mortes maternas adicionais. Este é o cenário menos grave. Com uma redução de cobertura de 39,3% a 51,9%, as estimativas seriam de que cerca de 1,16 milhão de crianças de até 5 anos e 56,7 mil gestantes ou puérperas morreriam em um semestre. Essas mortes adicionais representariam um aumento mensal de 9,8% a 44,7% nos registros de óbito de crianças e de 8,3% a 38,6% nas mortes maternas – 60% das vítimas, em todos os cenários, perderiam a vida durante o parto.

Os apontamentos do estudo são classificados como “devastadores” e “preocupantes” pelo médico obstetra Gabriel Costa, membro da diretoria da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig). “A Covid-19 é uma doença muito nova, cujo conhecimento vai mudando à medida que se tem mais informação”, pondera ele, para, em seguida, situar: “O que sabemos é que uma mulher grávida não tem risco de ter uma complicação maior que a população em geral”.

Professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Costa abona a decisão do Ministério da Saúde de colocar gestantes e puérperas no grupo considerado de risco. “É uma decisão preventiva, em razão de termos pouco conhecimento e de não sabermos se, por exemplo, o adoecimento da mãe possa levar à prematuridade”, avalia. Além disso, lembra que é considerável o número de gestantes que possuem alguma comorbidade e que, portanto, estariam mais vulneráveis a manifestações severas da doença.

“Nos preocupa que, por medo da pandemia, essa população não faça o pré-natal e não vá ao hospital – o que seria um problema sério, afinal, as causas de complicações para gestantes continuam existindo, e aquelas que estiverem grávidas têm que tomar seus cuidados”, expõe o obstetra.

Gestação e pandemia

A bióloga Viviane Diniz Gouveia e o advogado Pedro Gouveia descobriram em dezembro que teriam um bebê. “No Brasil, a gente começava a ouvir falar sobre o coronavírus, mas parecia algo distante”, lembra ela. No final do terceiro mês de gestação, em março, tudo mudou.

“Assim que as cidades foram adotando medidas de enfrentamento, minha médica optou por manter as consultas presenciais apenas uma vez por mês, e as ultrassonografias se limitaram às essenciais”, explica. Por isso, o casal precisou conter a curiosidade, e eles só foram descobrir o gênero do neném no quinto mês, quando foi feito o ultrassom morfológico, que permite visualizar o feto dentro do útero, facilitando a identificação de algumas doenças ou malformações, como síndrome de Down ou cardiopatias congênitas.

A expectativa é que a criança nasça no início de setembro. “A gente espera que esteja mais amenizado”, diz a bióloga, que, claro, está pronta a abrir mão das visitas depois do parto.

O que muda

A exemplo do procedimento exposto por Viviane, são aceitáveis mudanças no calendário de consultas, que podem ser feitas com menos frequência e com apoio da telemedicina, aponta Gabriel Costa.

Além disso, mudanças na programação de exames podem ocorrer em lugares em que a doença estiver muito ativa. Mas, no caso das vacinas, o calendário deve ser mantido

Costa também argumenta que a maternidade continua sendo o local mais seguro para que o parto aconteça. Ele acrescenta que, no atual contexto, o parto normal vem sendo apontado por alguns estudos como o mais seguro.

A amamentação também continua sendo estimulada: “A orientação é que a mãe use máscara nesses momentos”, explica. Não está recomendável, por outro lado, receber visitas em casa nem depois do nascimento da criança. “Ao sair da maternidade, a mãe deve ir para casa e evitar contato ao máximo com todas as pessoas. Uma forma de reduzir distâncias é usar chamada de vídeo, que é a principal estratégia que estamos propondo neste momento”, aponta.

Em termos gerais, valem para as futuras mães as mesmas recomendações que para toda a população, como o uso de máscara facial e a constante higienização das mãos. Se possível, o ideal para as gestantes seria que saíssem de casa apenas para as consultas e sempre buscando manter o distanciamento social.

Sonho adiado

O obstetra Gabriel Costa cita que, em sua experiência clínica, tem observado que algumas mulheres estão optando por deixar de engravidar por agora. A decisão é tomada tanto por não se conhecer bem a doença como também por gerar uma série de restrições, como a insegurança das mães em receberem visitas depois do parto ou mesmo a quase impossibilidade de se fazer o registro desse período em estúdios fotográficos. O medo de contrair o vírus em consultas necessárias para o acompanhamento da gestação é outro fator a compor essa equação.

Alguns profissionais de saúde, aliás, recomendam que os planos de maternidade, se possível, sejam adiados. Vencedora da edição deste ano do “Big Brother Brasil”, a médica anestesista Thelma Assis disse, em participação no programa “É de Casa”, da Rede Globo, ter feito essa escolha: “Tenho o projeto de ser mãe biológica e também de entrar em uma fila de adoção. Só que por conta do “BBB 20”, eu acabei adiando o sonho e, ao sair do reality e me deparar com uma pandemia, tive que adiar os planos mais uma vez”. 

Neste caso, aliás, vale redobrar os cuidados contraceptivos. Ocorre que a mudança de rotina e o estresse provocados pela pandemia podem impactar e modificar o ciclo reprodutivo. “Em alguns casos, as mudanças podem ocasionar ovulações fora do período esperado, o que pode potencializar o risco de gestações não planejadas”, examina a ginecologista e obstetra Patricia Aliprandi Dutra. “Então é importante reforçar métodos de planejamento familiar e se orientar sobre essa possibilidade”, aconselha.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Sete Lagoas, MG Atualizado às 10h08 - Fonte: ClimaTempo
21°
Tempo limpo

Mín. 14° Máx. 24°

Qua 25°C 16°C
Qui 26°C 14°C
Sex 26°C 13°C
Sáb 26°C 13°C
Dom 25°C 13°C
Anúncio
Horóscopo
Áries
Touro
Gêmeos
Câncer
Leão
Virgem
Libra
Escorpião
Sagitário
Capricórnio
Aquário
Peixes
Anúncio
Anúncio