O isolamento social durante a pandemia e a popularização das redes sociais se tornaram um prato cheio para mal-intencionados. Com as pessoas mais solitárias e os laços se estreitando pelo meio digital, os golpistas encontram o caminho livre para chegar às vítimas.
Segundo o delegado Eric Brandão, titular da Divisão de Combate à Corrupção e a Fraudes de Minas Gerais, os estelionatários sentimentais geralmente buscam mulheres em situação de vulnerabilidade, como término recente de relacionamento ou perda de um ente querido. “Houve sim aumento (dos crimes) na pandemia. As relações passaram a ocorrer virtualmente, e as pessoas ficaram muito isoladas. Trouxe um estado de vulnerabilidade emocional”, comenta.
Menos seletivos
O advogado Nardenn Souza Porto, especialista em estelionato sentimental, começou a trabalhar com vítimas desse crime em 2015. Na época, ele observou que os alvos eram mulheres mais velhas e ricas. Hoje, ele acredita que, com a facilidade de achar vítimas pelas redes sociais, os predadores sentimentais atacam qualquer pessoa vulnerável.
“O golpista só pensa em uma coisa: dinheiro entrando na conta. Eu tenho cliente médica, que levou golpe acima de R$ 1 milhão, e cliente que perdeu R$ 5.000, que fizeram muita falta para ela”, exemplifica o advogado.
Tinder
Uma das plataformas de relacionamento mais populares do mundo, o aplicativo Tinder afirmou à reportagem tomar medidas para combater a atuação de golpistas, como a verificação de identidade, videochamadas e um canal de denúncias.
A plataforma declarou que orienta os usuários a usarem o bom senso e priorizarem a segurança. “Não tenha medo de fazer perguntas para perceber sinais de alerta ou características que você procura evitar”, acrescenta.
Vítima de estelionato sentimental
Renata Chaves, médica, de 33 anos, foi vítima de estelionato sentimental. Ela contou como tudo aconteceu.
Como foi o início do relacionamento com o golpista?
Em 2020, por meio de um aplicativo de namoro. Ele ficou sabendo que eu estava me separando do meu ex-marido e começou a falar coisas bonitas, me elogiar muito, me tratar bem demais, falar para ir morar com ele. E eu fui acreditando que era verdadeiro, que era algo sério.
Em que momento ele começou a pedir ajuda financeira?
Nós nos encontramos algumas vezes, e ele começou a contar da família e da vida sofrida, sempre umas histórias bem tristes. Comecei a ajudá-lo financeiramente: comprei um celular, comprei roupas, comprei perfume, além de pagar tudo quando a gente saía.
Quando foi o rompimento?
Com cerca de quatro meses de relacionamento, depois que eu entreguei vários “presentes”, ele começou a me tratar diferente. Tivemos uma discussão, ele me xingou e me bloqueou. Eu fiquei de cama chorando todos os dias, não queria acreditar.
Tempos depois, qual sua visão sobre o que viveu?
Foi tudo uma ilusão, e só percebi isso com a ajuda de especialistas. Essas pessoas estão lá para te roubar.
Homens também caem
O advogado Nardenn Porto diz que a maioria das vítimas de estelionato sentimental são mulheres, mas homens também se tornam alvo. Porém, eles têm mais vergonha de admitir e sofrem calados.
Golpes em Minas Gerais
Em fevereiro deste ano, um homem de 52 anos foi preso em Lagoa Santa, na região metropolitana de BH, por aplicar golpes em ao menos três mulheres. Ele seduzia as vítimas e as convencia a dar dinheiro a ele. Ao todo, as extorsões renderam aproximadamente R$ 400 mil, informou a Polícia Civil.