O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, presta esclarecimentos nesta quarta-feira (19) na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado sobre as reportagens divulgadas pelo site The Intercept que mostram mensagens trocadas entre ele e o procurador Deltan Dallagnol durante a operação Lava Jato.
No início de seu depoimento, Moro defendeu-se das acusações de conluio apresentando dados sobre as ações e sentenças da Lava Jato. O juiz, por exemplo, citou que houve 45 sentenças judiciais e que o Ministério Público recorreu de 44, além de que 91 dos 298 pedidos de prisão foram indeferidos. "Se falou muito em conluio. Os dados são um indicativo de que não há convergência absoluta entre ministério Público e juízo ou entre polícia e juízo".
O ex-magistrado afirmou, ainda, que não tem "nada a esconder". "A ideia é esclarecer muito em torno do sensacionalismo criado em cima dessas notícias".
"Evidentemente pode ter havido alguma troca de mensagens, mas nada que não tenha sido normal se fosse presencial. Não estou dizendo que reconheço autenticidade, não tenho como dizer disso. Do texto, como eu li particularmente e muitas outras pessoas que se pronunciaram sobre o assunto não viram qualquer espécie de infração", concluiu Moro.
Ele ainda levantou a possibilidade de as mensagens terem sido alteradas antes de serem publicadas. Moro alegou não possuir mais o conteúdo das conversas.
Sobre o Telegram, Moro afirmou que deixou de usar o aplicativo, de onde supostamente as mensagens foram extraídas, em 2017, quando houve notícias de ataques hackers nas eleições dos Estados Unidos. À época, segundo o ministro, ele começou a desconfiar da segurança do aplicativo.
Envolvimento estrangeiro
Ao ser questionado pelo senador Marcos do Val (Cidadania-ES) se algum país que o Brasil cortou relações poderia estar envolvido no vazamento das mensagens, Moro optou por não fechar hipóteses.
“Todas as hipóteses estão abertas. Mas seria especulação, não necessariamente qualquer poder estrangeiro”, afirmou o ministro da Justiça.
Durante seu depoimento, Moro afirmou, também, que todos os indícios apontam para uma ação de hackers e enfatizou que as mensagens não estão mais disponíveis no aplicativo Telegram.
“Espero que cheguem nos responsáveis. Os indícios são de um grupo grande de hackers. Apesar do que foi dito aqui, não existe mais esse conteúdo (as mensagens do Telegram)”, concluiu.
Adulteração
Durante a audiência, Moro afirmou ainda que o site The Intercept Brasil tem de apresentar para exame e verificação o conteúdo de mensagens vazadas, caso queira que os elementos sejam utilizados "para punição dos envolvidos" por supostos "graves desvios éticos".
"Agora, o veículo, se quer que esses elementos sejam utilizados, vamos dizer, para punição dos envolvidos por esses supostos graves desvios éticos, tem que apresentar esses elementos para que eles sejam examinados e verificados", disse o ministro.
Moro e alguns procuradores afirmaram à Polícia Federal que seus aparelhos celulares foram invadidos por hackers. O caso está sendo investigado pela corporação.
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