A vereadora de Contagem Moara Saboia (PT) foi vítima de ofensas raciais durante sessão remota da Câmara Municipal de Contagem. A Polícia Civil investiga o caso. Os ataques foram motivados pelo posicionamento contrário da vereadora ao Projeto de Lei que considerou como atividades essenciais templos religiosos e centros esportivos da cidade. O texto foi aprovado por 18 votos a 1, na última terça-feira (20), e Moara foi a única a votar não.
Segundo a vereadora, as agressões começaram pelos posicionamentos políticos dela e depois, entre os comentários feitos durante a transmissão online da sessão, surgiram ofensas misóginas e racistas também direcionadas a ela. Um dos agressores chamou a vereadora de “nariz amassado”.
“No começo dos ataques, principalmente quando se debatia sobre as academias, ficavam mandando eu ir para Cuba, para Venezuela, falando do Lula, da Dilma e a gente estava levando até numa boa, mas aí depois começaram aparecer ataques misóginos me diminuindo como mulher em um espaço de poder e identificamos um comentário sobre o meu nariz, me chamando de nariz amassado, enfim, me criticavam por traços negros que eu tenho por eu ser negra”, relata Moara.
Moara afirma que ao mapear os perfis autores dos ataques identificou que não se tratavam de perfis falsos e que as pessoas atacaram na certeza da impunidade.
“Inclusive a gente fez o B.O por isso. As pessoas tinham tanta certeza da impunidade que os ataques eram feitos por perfis de pessoas que existem e tem amigos. As pessoas fizeram mesmo na certeza de que internet é terra de ninguém e elas podem falar o que quiserem que não vai acontecer nada”, ressalta.
A parlamentar afirma que não ficou abalada com os ataques. Segundo ela, sempre precisou conviver com situações do tipo desde que decidiu entrar na política. Mesmo assim, a vereadora crê que ofensas raciais e misóginas precisam ser denunciadas.
“Não podemos esse tipo de violência verbal e política contra as mulheres, sabemos qual é o limite. No caso de Marielle Franco, foi a morte. Ela não foi a única mulher morta por discordar politicamente de alguém”, comenta, citando a vereadora carioca, do PSOL, executada em março de 2018.
“Mulheres não podem ser atacadas por serem mulheres. Pessoas negras não podem ser atacadas por serem pessoas negras na política. As pessoas precisam ser rebatidas por suas posições políticas, mas não foi o que aconteceu”, completa.
A vereadora diz que apesar dos ataques ela se sentiu fortalecida com os apoios que vem recebendo de eleitores e pessoas que se identificam com ela e com as pautas defendidas em seu mandato parlamentar.
“Eu recebi muita solidariedade. Estou falando de gente da cidade mesmo, que foi nas minhas redes, mandou mensagem de apoio. Esse processo me faz me sentir mais forte e ter mais certeza de que lado da história que eu quero estar”, concluiu.
Por nota, a Polícia Civil informou que a vereadora já foi chamada para prestar declarações e outras ações estão sendo feitas para identificar o autor dos ataques. A instituição não quis passar mais detalhes, alegando que poderia atrapalhar o curso da investigação.
A Câmara Municipal de Contagem manifestou apoio à vereadora e repúdio aos ataques. Por nota, o Legislativo da cidade da região metropolitana informou que cooperou com o gabinete da parlamentar na identificação dos comentários racistas para que fossem tomadas as medidas cabíveis.
"A Câmara destaca, ainda, que preza pela transparência e participação popular durante as reuniões, porém não tem domínio sobre os comentários que são feitos pela rede social".
Ainda por nota, a casa legislativa afirmou que os autores das ofensas identificados serão bloqueados do Facebook da Câmara.
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